Há democracia de notáveis, somente os nobres votam; de
elite, nesta só nos ricos votam; de massas, todos votam.
Agora surge outra: Democracia de AUDIÊNCIA. (Sociólogo Edgar Manin - Os princípios do
governo representativo). Nesta recebe mais votos o que mais brilha, encanta. O
que faz mais espetáculo. Desfiles de candidatos, passeatas, shows,
carreatas, carros de som, danças, coreografias. O brilho da apresentação.
Como se manifesta concretamente a democracia de audiência
Personalização da política
A atenção dos eleitores se volta para as figuras dos
candidatos, mais do que para os programas partidários. Líderes carismáticos
ganham destaque, e a imagem pública se torna central. A relação entre
governantes e governados passa a ser mediada pela mídia, especialmente pela
televisão (e, mais recentemente, pela internet).
Primazia da comunicação midiática
O debate político se desloca para os meios de comunicação
de massa, onde os eleitores são "audiência" de um espetáculo
político. O sucesso de um político depende da sua capacidade de comunicação, de
conquistar a opinião pública, e não apenas da fidelidade partidária ou do
debate programático.
Declínio da centralidade dos partidos
Os partidos continuam existindo, mas perdem parte de sua
função tradicional de formação ideológica e mobilização de base. Os eleitores
se tornam menos fiéis a partidos específicos e mais suscetíveis a mudar de voto
conforme a performance individual dos candidatos.
Eleitor como espectador
O cidadão-eleitor se comporta mais como um espectador
crítico do que como um participante ativo do processo político. A política se
transforma num espetáculo de comunicação, e a deliberação pública se torna
fragmentada e superficial.
Campanhas centradas em imagem e opinião pública
As campanhas eleitorais se apoiam em estratégias de
marketing político, uso de pesquisas de opinião, slogans e apelos emocionais,
reforçando uma lógica de consumo: o eleitor "escolhe" um candidato
como um consumidor escolhe um produto.
Em resumo:
A democracia de audiência é uma forma de democracia
representativa onde os cidadãos se relacionam com os representantes através da
mediação da imagem e da comunicação, não mais por meio da identificação
partidária ou da participação ativa em estruturas coletivas. Essa transformação
altera a natureza da representação política, reforçando a centralidade do
indivíduo e da performance no espaço público.
A reflexão do sociólogo Bernard Manin constata que houve
e há erosão da representação política tradicional. Observa que os partidos
políticos e os políticos perderam a capacidade de estruturar a vontade popular
de forma eficaz. Isso leva ao enfraquecimento do vínculo entre eleitores e
representantes. As instituições políticas representativas ficaram fragilizadas.
E por isso estão ameaçadas. Quais as ameaças?
Esses pontos revelam que a democracia contemporânea está
se afastando de seus fundamentos representativos e deliberativos, abrindo espaço
para formas de governo autoritárias e tecnocráticas. O que mais promete na
mídia é mais aplaudido daquele que promete o possível. O político de audiência
fala bonito e encanta sem compromisso com a verdade, como por exemplo:
“Deus deixou o sertão sem água porque sabia que EU ia
trazer!”