sábado, 25 de outubro de 2014

O valor ecológico para além do discurso eleitoral. José Maurício de Carvalho


A história mostrou que não é boa prática sonhar com um mundo ideal deixando de lado a vida que brota nos fatos. Em verdade, quando se é um pouco mais vivido, um pouco mais experimentado, aprende-se a cultivar a transcendência que brota da fé na história. A própria Bíblia foi fruto de uma fé assim encarnada, expressão de uma inspiração religiosa que brotou da vida. Contudo, não podemos deixar de lamentar que os candidatos à Presidência da República tenham perdido a oportunidade de explicar o que pretendem realizar para fazer uma revolução no modo de lidar com a natureza. Talvez não queiram fazer nada e isso é um desastre ou produzirá um.
Qualquer pessoa minimamente informada fica inconformada com o modo como a seca no sudeste foi explorada nessa campanha eleitoral, se não diretamente pelos candidatos, pela militância espalhada nas redes sociais e por assessores, escondidos do palco principal. É claro que a responsabilidade da seca não é isoladamente do governo paulista ou do governo federal hoje administrado pelo PT. Não faz sentido frases como as que se encontram nas redes sociais: "no governo do PT nem chove" ou "Nem a chuva gosta do governo do PSDB". Frases assim desviam a atenção do que verdadeiramente importa, construir uma nova relação com a natureza. Na raiz de qualquer ação futura tem de estar o reconhecimento da preservação como um novo valor que brota no horizonte da história.
Estabelecer com urgência um programa de desmatamento zero e começar um responsável projeto de reflorestamento é o que se espera de qualquer governo sério, não importa a sigla partidária, diante da enormidade do desafio que estamos enfrentando. E como é muito fácil e lucrativo derrubar árvores centenárias para vender sua caríssima a madeira, o enfrentamento dessa ação imoral e ilegal só se consegue com monitoriamente efetivo e uma força policial eficiente e ágil.
Para vivermos uma esperança razoável não podemos contar com nenhum movimento automático das forças da sociedade, nem esperar a boa vontade dos exploradores dessa madeira ilegal, nem contar  com a revolta de ecologistas enfurecidos para atacar os madeireiros. Nenhum desses movimentos produzirá resultado satisfatório além de algumas mortes indesejáveis e a continuidade da exploração pelos mesmos (se matarem os ativistas) ou por outros madeireiros (se forem mortos pelos ativistas).

Se a esperança racional no reconhecimento do valor é o que se espera de todo homem e a moral é o fundamento último para resguardar a natureza e o futuro do homem, é razoável nossa fé e esperança. No entanto, para aqueles que não reconhecem o limite moral da ação, nem as leis já existentes, é necessário ter uma resposta capaz de  mudar o rumo dessa história. Até agora nenhum governo federal ou estadual levou a sério a questão, não importa o que digam em suas propagandas. E se não formos sensíveis aos apelos da razão e aos comunicados dos sentidos, seremos com certeza quando a falta de água chegar a nossas torneiras. Esperemos que então não seja tarde demais para começar a agir.

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