sexta-feira, 13 de novembro de 2020

OS CANDIDATOS DE 15 DE NOVEMBRO -. RAPOSAS X OURIÇOS. Selvino Antonio Malfatti.



“A raposa, de fato, pode fazer muitas coisas, enquanto o ouriço pode fazer apenas uma!” (Isahiah Berlin) 

O pensador Isahiah Berlin escreveu uma fábula interessante: O Ouriço a Raposa. A princípio, a moral da história tem várias aplicações para as atividades dos humanos: pensadores, religiosos, industriais, educadores. No entanto, parece que o endereço mais certeiro é para os políticos.

Como em 15 de novembro teremos eleições municipais vejamos se a fábula pode se aplicar.

Conforme a fábula os candidatos pertenceriam a duas ideologias opostas: a das Raposas e dos Ouriços.

As Raposas parecem dispersivas nas promessas de campanha. Não têm uma única resposta para cada problema porque quase sempre paradoxais. Diz o pensador Isahiah Berlin: A raposa conhece muitas coisas, mas o Ouriço conhece uma só e muito importante. As Raposas aceitam projetos mais humildes, com menos esplendor, do dia a dia, pragmáticos. Contentam-se com a monotonia do pragmatismo e seus seguidores um grupo sem brilho. A raposa sabe muitas coisas. mas pensa com relativismo gnosiológico. Acham que o entendimento das coisas é falível e que o conhecimento perfeito é ilusão. Ao abordar o Plano estratégico as Raposas usam a manha. Dividem suas propostas de governo em partes e analisam separadamente cada uma delas. Tentam mostrar as características de cada uma e depois juntam para formar o bloco nem sempre coerente. As partes constituem o centro. Então, parece que quem se apodera do centro será dono das partes. Será bem assim?

Os Ouriços, ao invés, fixam-se numa única ideia e através dela pretendem solucionar todos os problemas. Sentem-se obcecados por um ideal grandioso, um farol que ilumina tudo. Os Ouriços atraem, como eles, sonhadores revolucionários, ideólogos da perfeição. Possuem um conhecimento monista e dele fazem derivar um absolutismo epistemológico. Para os Ouriços o conhecimento é infalível e o erro é má fé. Eles propõem uma visão única, central, um sistema coerente, sem contradições como um modelo centralizado. Não há partes, o bloco é monolítico, impenetrável.

As duas plataformas estão sobre a mesa. Cada eleitor poderá escolher seus candidatos. É preciso que os eleitores constituam um executivo e um legislativo de Raposas ou de Ouriços.

Então, você decidirá se quer um governo de Raposas ou de Ouriços. Uma Raposa ou um Ouriço para o Executivo e maioria de Raposas ou Ouriços para o Legislativo.

Se optares por Raposas terás um governo liberal, até com um pouco de anarquia. Mas poderás sentir o sopro do vento da liberdade.

Se preferires os Ouriços, terás governo centralizado, do qual tudo depende. Sentirás o peso da ordem e da planificação. Em vez de liberdade, a submissão.

É dia 15 de novembro. Quase 8hs. Pegar o título de Eleitor, conferir a Zona e a Secção, dirigir-se ao local, achar a urna e votar.

Aguardar o resultado: Raposa ou Ouriço?


 


A Raposa e o Ouriço. ( Isaiah Berlin  )

Mimì, a raposa de pelo vermelho, refugiou-se atrás de um arbusto de amora-preta. Ela escutou um leve alvoroço no subsolo, então até mesmo aquele barulho parou. Sua presa deve ter intuído o perigo, algo deve tê-lo deixado desconfiado. Mimì a raposa se camufla, finge estar morta e espera. Nem mesmo respira. Ela sabe que sua presa sairá assim que se sentir seguro do esconderijo por isso tem que deixá-lo todo o tempo que precisar para se mover. O tempo passa. Após uma longa espera paciente, um ouriço aparece na boca da cova. Precisa de um espaço muito curto para entrar em outro túnel escuro mais à frente, por isso olha em volta com cautela, examina o chão, retrai-se para dentro da cova, reaparece hesitando. Que animal prudente, que animal hipócrita, pensa a raposa. Raça de roedores de vegetação rasteira que não gostam de andar ao ar livre. Ele prefere seus labirintos subterrâneos, mesmo ao custo de escavá-los com unhas e dentes. Vai ter seu bom motivo para evitar se expor ao sol, porém não o invejo. Enquanto isso, o ouriço decide-se e já está finalmente a aberto. Ele parece ter acabado de sair da hibernação, ele é desajeitado, lento, pesado. Mimì a raposa dá um bom salto e zac! Mas o ouriço em um instante se transformou em uma bola espinhosa. A raposa grita de surpresa e dor e com a boca sangrando retira-se.

- Que animal estranho! - pensa a raposa sem desistir. Deve ter carne deliciosa embora a natureza a protege tão bem. Será muito melhor do que a carne de uma toupeira ou de um pássaro. Como gostaria de saboreá-lo para saber qual é o seu gosto!

E confiante em seus próprios recursos, Mimì, a raposa de pelo vermelho, inventa recorrer a mil artifícios, truques, expedientes, um mais engenhoso e sutil que o outro, para capturar o ouriço e devorá-lo.

No entanto, toda vez que o ouriço se enrola e assim enrolado, ele é inexpugnável.

Afinal, um ouriço não vale tanto desperdício de truques e nem tanta obstinação, diz ela a si própria raposa para se consolar. E cansada dos inúmeros truques ela decide deixá-lo em paz, aquele bicho estúpido.

 


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