sexta-feira, 24 de abril de 2020

Os primeiros passos de uma consciência nacional. José Mauricio de Carvalho



O novo corona virus (covid 19) contaminou as sociedades nacionais como numa sequência de queda de dominós, dessas montadas para promover a admiração das pessoas. Uma a uma foram contaminadas as sociedades nacionais e, com rapidez assustadora, espalhou-se pelo mundo a morte, o medo, a angústia e a insegurança. Temerosos assistimos as notícias de morte nas sociedades primeiramente contaminadas e que nos antecederam no pico da contaminação. Nelas a doença provocou o colapso da vida econômica e social, contaminando indistintamente ricos e pobres, cultos e menos cultos, cidadãos e camponeses.
Na medida em que o medo e a angústia passaram a povoar os corações dos povos, os governos orientaram seus cidadãos a permanecerem em casa, evitando um contato que espalhasse mais rapidamente a doença, antes que o sistema de saúde estivesse minimamente organizado para combater a epidemia. Algo assim começamos a viver em nosso país.
Em meio ao temor pela contaminação, experimenta-se o paradoxo representado por adotar medidas de proteção social para poupar vidas e depois vê-las destruí-las pelo desemprego e desespero. Com a economia quase parada e as vidas estagnadas, começa a crescer um temor secundário, nas pessoas isoladas em suas casas. Não mais o medo do vírus, mas do perigo que representa uma sociedade com milhões de desempregados, cujas vidas foram despedaçadas pelo desemprego e paralização da economia.
Nesse tempo de crise intensa começa nosso Estado, seu povo e seu governo a tomar as primeiras lições de vida nacional. Em meio ao sofrimento e a insegurança geral reduz-se os antagonismos verificados na recente polarização política das últimas eleições, perde força o discurso fascista, elitista, que discriminava os pobres e fazia apologia da violência, do terror e da discriminação. Discursos incapazes de reconhecer nos cidadãos a condição de pessoa humana, embora ainda circulem pelas redes sociais milhares de notícias falsas que minam a democracia e as bases da sociedade nacional.
 Assistimos o ministro da economia dizer que ninguém será deixado para traz em alusão às muitas medidas de proteção social que precisarão ser desenvolvidas. Utiliza uma frase típica de militares em combate para se referir aos colegas feridos.
Essas primeiras iniciativas são ainda muito tímidas. Estamos nas primeiras semanas do ensino fundamental da nacionalidade, estamos escutando as primeiras lições do que significa ser uma nação, possuir objetivos nacionais acima de partidos políticos, construir metas de estado e objetivos maiores que os interesses de grupos. Uma nação precisa disso, algo maior que interesses. Precisamos de uma prática política capaz de conceber objetivos gerais para a sociedade, não à imagem de um passado de discórdia, mas de um futuro em que nos pensemos como povo.
Não é preciso que a sociedade seja comunista, nem é necessário padronizar vidas e comportamentos de uma espécie com indivíduos únicos, basta que os homens dessa terra aprendam a viver como companheiros de destino, ajudando-se diariamente em meio, não a grandes crises, mas aos problemas comuns da vida.
    

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