sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

CADÁVER INSEPULTO. Selvino Antonio Malfatti.

 




Lá se vão 30 anos do fim da URSS. 

O século XX assistiu  aos funerais de três regimes totalitários: 1. Fascismo, 2. Nazismo e 3. Comunismo. Um deles continua insepulto.

O primeiro, Fascismo, surgiu na Itália como ideologia e assume o poder em 1922. As principais características são: totalitário, nacionalista e antiliberal, comandado por Benito Mussolini. Em 1945 os nazistas foram derrotados na Itália e Mussolini preso por guerrilheiros italianos. Foi julgado e fuzilado juntamente com sua amante Chiaretta, sepultando o fascismo.

O segundo, Nazismo, “Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães”, surgido na Alemanha em 1920. A Alemanha nazista teve fim quando as forças aliadas derrotaram os alemães em 1945, pondo fim a Segunda Guerra Mundial e sepultando nazismo.

 Falta o comunismo.

Para entender os eventos que levaram ao colapso do comunismo soviético há trinta anos vale a pena dar um passo para trás, reconectando-se com as origens desse sistema.

Antonio Gramsci, ao eclodir a Revolução socialista russa, procurou uma justificativa da não previsão de Marx que falava num capitalismo avançado. Dizia que isto aconteceu porque a Primeira Guerra Mundial despertou a “vontade coletiva” do povo russo, da qual surgiu a revolução. Contrapôs o fator econômico ao fator vontade. Já não era mais um determinismo, mas uma vontade guiando os fatos.

O passo seguinte é dado por Vladimir Lenin (1917-1924) que encontrou no partido a liderança disciplinada e coesa, evidentemente por imposição da chefia, para imantar a classe trabalhadora liderar a sociedade e colimar seu objetivo.

A proposta de Gramsci de uma economia planejada e administração central - ao invés de uma economia livre e competitiva – ela resultou em fome generalizada forçando o livre comércio dos produtos agrícolas para evitar o total colapso. Isto desviou a rota prevista de Marx que previa um abraçar comum dos países europeus ao socialismo provocando um efeito contrário: os partidos únicos, alemão e italiano, assimilaram um conteúdo ideológico oposto ao russo.

 Iosif Stalin (1924-1953)

Substitui Lênin imprimindo outra orientação ao socialismo russo. Em vez de um movimento ou revolução de caráter global restringiu-se a um só país. Com isso tornou viável, por força da dominação do Partido Comunista de manter o monopólio do poder. O passo seguinte seria:

“coletivização forçada no campo; industrialização acelerada baseada na produção para fins bélicos; terror em massa e campos de concentração para eliminar qualquer resíduo do pluralismo e explorar os grandes recursos naturais localizados nas regiões inóspitas daquele imenso país.”


 Nikita Khrushchov (1953-1964)

Foi o substituto de de Stalin. Foi deposto acusado de erros políticos e incompetência na gestão econômica.

Leonid Brejnev (1964-1982)

Foi líder do governo russo por 18 anos. Aumentou os gastos devido à corrida armamentista com os USA. Destacou na repressão à Checoslováquia, em 1968 e a invasão do Afeganistão em 1979.

Yuri Andropov (1982-1984).

Destacou-se como chefe da polícia secreta da URSS, a KGB. Após um ano no poder morre por problemas renais.

Konstantin Chernenko (1984-1985)

Destacou-se na reforma educacional e uma reestruturação burocrática. Também fica apenas um ano no poder e falece por problemas de saúde.

Mikhail Gorbachev de 1985 a 1991

Gorbachev tentou oxigenar o socialismo soviético através daquilo que denominou Perestroika e Glasnost oferecendo dupla abertura: política e econômica. Em vez de reformar o socialismo, o objetivo de Gorbachev, provocou sua desintegração.

Vladimir Putin (desde 1999)

Após a renúncia de Yelsin, Putin assume interinamente a presidência da Rússia e em seguida eleito. Destacou-se na integração da Rússia à Europa. Destacou-se no controle dos meios de comunicação e atuação de ONGs. Continua o sistema de repressão e massacre às oposições. 

Antes do fim da URSS ocorreu o fenômeno do despencar do cacho de uma a uma das repúblicas socialistas na ÙRSS, anexadas Rússia pela Rússia.

O Tratado de União de 1922 previa a liberdade de escolher entre permanecer unido ou separar-se da União das repúblicas socialistas.

Coube aos lituanos a primazia da iniciativa de proclamar sua independência, 11 de março de 1990. Mas Moscou não aceitou pacificamente e muito menos democraticamente. Envia a Armada Vermelha nove meses depois. Após choques violentos e cruentos. Perante a desaprovação de opinião mundial a Armada se retira e Mikhaïl Gorbatchev apresenta as desculpas.

Mais dois países bálticas proclamam sua independência em 1990, Estônia e Lituânia, seguidas pela Geórgia em 1991.

Em seguida seguem-se uma cascata de independências. São nove repúblicas entre agosto e outubro de 1991. São elas Ucrânia e Bielorrússia. A estas alturas a antiga URSS era formada pela própria Rússia e Kazakhstan, no fim de 1990.

Quando as populações dos países da Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Polônia e Romênia foram às ruas para exigir mudanças e democracia, diferentemente das outras vezes que a as tropas soviéticas intervinham, desta vez ficaram nos quartéis. Com isso, as revoluções conseguiram seus objetivos e os países se desligavam do bloco da URSS.

E o atual líder Vladimir Putin forjou um modelo político autoritário aos moldes da ideologia da “Mãe Rússia”, uma personificação nacional da Rússia, um misto de liberalismo (econômico) e autoritarismo (político).  

No entanto, o comunismo continua como uma alma penada vagando pelas mentes dos que não quiseram proceder uma crítica sincera e científica sobre a experiência comunista. 

Por isso seu cadáver continua insepulto.

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