sexta-feira, 2 de maio de 2025

INSTITUIÇÃO POLÍTICO-RELIGIOSA DO PAPADO[i]. Selvino Antonio Malfatti

 



A partir de 7 de maio haverá em Roma, capital do Vaticano, um Conclave com o objetivo de eleger um Papa. Como se originou e se formou o Papado? É a Instituição político-religiosa mais longa do ocidente. Vejamos alguns momentos significativos.

1.    Judaismo

O cristianismo se originou dentro dentro de uma teocracia político-religiosa, o judaismo. Após o exílio, os judeus perambularam como um povo pária, isto é, o único vínculo era o Deus comum, Javé. Com a elaboração de uma lei sacerdotal, levada adiante pelos levitas, juntamente com a pregação dos profetas, abriu espaço para um caráter prático e ético, expurgando as crenças de magias que grassavam no meio do povo.

2.    Cristianismo

Iniciou como uma doutrina de artesãos jornaleiros itinerantes, tendo por líder Jesus que se apresentou como Filho de Deus. Permaneceu sempre como uma religião urbana e cívica. Em todos os períodos manteve este caráter: antiguidade, Idade Média e Época moderna. 

3.    Expansão cristã

Após a reunião dos apóstolos e mais algumas pessoas em Pentecostes, os apóstolos cada um individualmente começou a pregar uma nova religião dentro do judaismo. O confronto era inevitável, pois no seio de uma comunidade religiosa teocrática se pregava algo diverso e literalmente contrário à religião dominante.  A consequência foram  perseguições, prisões e mesmo mortes.

O cristianismo inicial não tinha propriamente um chefe, um líder que centralizasse as ações. Cada apóstolo agia, pregava e escrevia por conta própria. Poder-se-ia dizer que cada apóstolo formava sua igreja, eclesia. E com as perseguições na Judeia obrigaram-se sair procurando outros lugares para pregar. Os primeiros lugares foi o mundo grego principalmente as colônias da Ásia Menor[ii]. Surgem então as igrejas de Colossos, Cartago, Fílipos, Samos,Tessalônica como provam as cartas dos apóstolos e mais tarde estendem a pregação em  Roma. Os apóstolos por aonde iam fundavam comunidades religiosas sob suas lideranças. Não havia uma autoridade centralizada. Cada apóstolo era a autoridade suprema dentro de sua igreja. Mal comparando cada comunidade era uma mini cidade-estado da época.

4.    Papado

O Papado como autoridade centralizada do cristianismo levou tempo, séculos, para ser instituída, não sem confrontos.  Neste período o «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e o poder da Morte não prevalecerá sobre ele” somente tardiamente foi instituída. O termo “pappa” (pai) era uma designação afetuosa ao chefe da comunidade. Cada apóstolo, e seus sucessores bispos, era um ”pappa”, como por exemplo, os bispos de Cartago e Alexandria. Só gradualmente este título tornou-se exclusivo ao bispo de Roma.

Até o século IV os cristãos viveram ilegalmente na clandestinidade escondendo-se nas catacumbas para seu culto, como em Roma. E as seitas cristãs eram dezenas dentro da própria Roma. Uma delas, a “católica”, era a mais poderosa. O Imperador de Roma percebeu que os cristãos eram maioria, por isso converteu-se ao cristianismo e elevou o cristianismo como religião oficial, em 313. O bispo dda igreja católica de Roma, Clemente, já chamado de “pappa”, e tornou-se teoricamente  chefe também de toda cristandade, não com consenso, mas com contínuos conflitos entre as igrejas, mormente do oriente contra o ocidente, e culminou com o Cisma do no Ano 1000. Desse conflito resultaram duas Igrejas: a ortodoxa do Oriente e Católica do Ocidente, a primeira com o Patriarca, com sede em Constantinopla e a segunda o Papa com sede em Roma. Internamente as maiores discordâncias ocorreram com a Reforma de Lutero, que auto se excluiu da autoridade do Papado e a Igreja Anglicana como arcebispo de Cantuária como chefe da Igreja da Inglaterra.

1.    Escolha dos sucessores de Pedro.

Segundo a tradição católica o apóstolo Pedro (Simão) foi o primeiro papa escolhido diretamente por Jesus: “"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". Após Pedro a sucessão papal, não envolveu escolhas diretas, mas seguiu procedimentos institucionais e não institucionais.

1.    Período Antigo (séculos I–IV):

Nos primeiros séculos, os bispos de Roma (título equivalente ao papa) eram geralmente escolhidos pelo clero local e com participação da comunidade cristã de Roma. A escolha nem sempre era pacífica, houve conflitos e até mesmo papas simultâneos em alguns períodos. A nomeação envolvia consenso entre os presbíteros e diáconos da cidade.

1.     Idade Média (séculos V–XV)

A partir do século V, aumentou a influência política. Imperadores romanos, e depois do Sacro Império Romano-Germânico, passaram a influir na escolha e confirmação do papa. Já a instituição do Conclave foi estabelecida de forma permanente em 1274 no Concílio de Lyon, padronizando o processo de sucessão por cardeais reunidos em votação secreta.

2.    Idade Moderna e atual

Os papas são eleitos por um colégio de cardeais com menos de 80 anos reunidos em Conclave (fechados à chave), no estado do Vaticano. Requer uma maioria qualificada de dois terços de votantes

Após a eleição, o novo papa pode aceitar ou recusar, e ao aceitar, escolhe um nome papal. 




[i] Falo de instituição política porque o Vaticano, sede do Papa, é um Estado igual a todos os estados. E religiosa porque é a autoridade suprema da Religião Católica. As opiniões aqui expressas são as que considero verdadeiras, mas respeito outras.

[2] Pessoalmente sou testemunha ocular destes marcos cristãos da Ásia Menor. Em toda parte se encontram cruzes,  logotipo do peixe e outras símbolos cristãos,  nas praças, ruas, templos pagãos.

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