sexta-feira, 31 de julho de 2020

SOCIEDADE LIQUIDA . Selvino Antonio Malfatti






A transição da modernidade para o pós-modernidade pode ser caracterizado pela passagem do status de segurança para o da insegurança. Enquanto predominava comportamentos previsíveis  portanto, tinham a garantia de segurança. A sociedade sentia-se protegida e confiante. E nela os indivíduos sabiam o que ia acontecer e por isso sentiam-se seguros. Quando, porém, os comportamento ora eram “A” ou “B” ou nenhum deles os indivíduos não sabiam mais como responder. Se não acertassem a resposta sentiam-se excluídos e tanto fazia se eram de fato, pois psicologicamente sentiam-se. Esta sensação levava à exclusão.
Quando uma sociedade transpuser o limiar do sólido para o líquido, a condição efêmera do sólido em relação ao liquido conjuga condições para que a rapidez das mudanças sejam tais que mal o mutável consegue institucionalizar-se deve assumir novamente a forma de mutável, e em seguida buscar novamente novas formas de sólido. A dialética do sólido e do liquido assumem a mutabilidade e imutabilidade permanente. Nesse sentido as escolhas individuais, instituições que asseguram a segurança nas repetições, padrões de comportamentos são visceralmente provisórios.
A separação e o divórcio entre poder e política faz que a ação de ambos não seja mais harmônica e de divisões de funções, mas de intromissão mútua, de abandono ou abdicação. O Estado perde a força de ação política global em detrimento do esfacelamento do poder. Este espaço vazio de política e poder são invadidos e ocupados pelo poder econômico, que opor sua vez transfere para o mercado e este para o privado aos cuidados dos indivíduos.
O espaço público, garantido pelo Estado, encarregado da segurança individua e grupal privado, perde espaço em favor de outras formas de proteção, nem sempre reconhecido como segurança pública. Em vez de uma estrutura social é vista e tratada como uma rede de conexões e desconexões.
O planejamento em longo prazo cedeu lugar às soluções pontuais. Com isso perdeu-se a continuidade e poder público perde-se na solução de problemas fragmentados em vez de uma ação global, em vez de atuar verticalmente opta por políticas horizontais.
Circunstâncias voláteis e variadas são jogadas nos ombros dos indivíduos os quais devem agir como por conta própria e arcando com as consequências. Em vez de ações previstas e esperadas, prefere-se às iniciativas improvisadas, as quais os responsáveis devem arcar com as consequências. (BAUMAN, Tempos Líquidos.)
É o conceito básico da teoria de Zygmunt Bauman. A modernidade líquida é o desmoronar da certeza, da segurança e sólido. A certeza do período sólido cedeu lugar à dúvida, a política do bem estar foi substituída pelo extravio do caminho. As conquistas do passado entraram em contestação, escárnio, até se tornarem pó. É como uma personalidade respeitada, venerada, quase adorada depois de cremada, tem saldo zero, só pó. O Estado perante a globalização tornou-se uma estátua impotente, o indivíduo separado da comunidade que o protege e a sociedade um faz de conta que ora é, ora não é, ora realidade, ora miragem. Se a observarmos vemo-la como um estômago consumista, sem coesão dominada por um individualismo, antagônico e hedonista. Avançamos sem finalidade diz Bauman.
Um das questões para as quais Bauman dá ênfase é o convívio social em grandes cidades, fenômeno este irrompido depois da metade do século XX. São os grandes conglomerados que substituíram as comunidades pequenas. Enquanto estas proporcionavam segurança aos indivíduos, as grandes cidades, as cidades globais, ao contrário produzem medo. Nestas cidades globais substituíram a fraternidade com solidariedade, pelo estranho conhecido, um inimigo potencial ou real. Este novo convívio produz solidões, convivência não mais fraterna, mas entre estrangeiros, desconhecidos e perigosos, por que não é conhecido. A própria arquitetura urbana separada em bairros, habitados por desconhecidos, produz uma situação hobbesiana na qual, todos são inimigos e em guerra mútua.
 A homogeneidade social do espaço, enfatizada e fortalecida pela segregação espacial, reduz a tolerância de seus moradores à diferença e assim multiplica as possibilidades de reações mixofóbicas, fazendo avida urbana parecer mais “propensa ao risco” e, portanto mais angustiante, em lugar de mais segura, agradável e fácil de levar. 

Postagens mais vistas