sexta-feira, 21 de junho de 2013

AS REDES - A NOVA ARMA DOS JOVENS. Selvino Antonio Malfatti




A onda de protestos que toma conta do Brasil atualmente teve como reivindicação inicial o aumento dos preços das passagens em São Paulo e no Rio de Janeiro e logo se alastrou para outras capitais e interiores. Dessa motivação inicial imediatamente saltaram para outros patamares bem mais significativos como a corrupção política, impunidade e a tentativa de afastar o ministério público das investigações de crimes, a chamada PEC-37. Com efeito, há uma dezena de condenados pelo Supremo Tribunal Federal e assim mesmo anda solta e mesmo ocupando cadeiras no Parlamento. A revolta também teve como ingrediente o fato de milhões e milhões terem sido gastos para serem erguidos os estádios para as copas das Confederações e o campeonato mundial. Enquanto isso médicos desesperados não dão conta de doentes que morrem em seus braços. Faltam hospitais, aparelhos, remédios, médicos. A educação ocupa o penúltimo lugar na avaliação internacional. As escolas estão mal aparelhadas, sem verbas, o corpo decente mal remunerado. A segurança pública está à deriva. Cadeias superlotadas, bandidos soltos vivendo do crime, pessoal mal aparelhado e mal pago.

As últimas explosões de protestos de jovens por todo Brasil, de norte a sul, revelam um fato novo nas comunicações de massa: os aparelhos tradicionais foram postos de lado e foram utilizados os não convencionais. Jornais, rádios televisão utilizados para a mídia foram abandonados e em seus lugares os jovens lançaram mão dos aparelhos twitter, facebook, ipad, iphone, celulares, tabletes, smartphones, computadores e outros para se comunicarem nas redes. O que se viu foi um furar de bloqueio e domínio das comunicações costumeiras para as não convencionais. O movimento simplesmente driblou a censura bem como o monopólio e estabeleceu uma linha de comunicação direta, rápida e eficaz entre si.

A idéia não é originária daqui. Temos como antecedentes a Batalha de Seatle, onde acontecia em 1999 a reunião da organização Mundial do Comércio. Outra foi a Davos e a Globalização em 2000. A terceira poderia ser a Toronto contra o G20 e várias outras. Mas a mais característica foi com os países árabes, com a revolta dos jovens contra as ditaduras. Ali também funcionou da mesma maneira. Foi furada a barreira do controle estatal e os jovens saíram às ruas e desestabilizaram os ditadores.

Estamos diante de uma mudança de qualidade de meios na comunicação de massa. A Mídia foi substituída pelo novo ambiente, as redes. Até então eram utilizados meios que falavam para as massas e depois chegavam aos indivíduos. Agora a comunicação é individual, direta, e depois se forma a massa. Os jovens se comunicam entre si e a partir de então nasce o movimento massivo. Por isso os meios tradicionais não conseguiram localizá-los. Quando os órgãos de segurança se deram conta estavam diante de uma multidão que brotava do chão, vinha de todos os lugares, engrossava a cada segundo e seguia exatamente um plano pré-estabelecido sem que ninguém soubesse como. Saíam às ruas, encontravam-se num local combinado e dirigiam-se a alvos já previamente escolhidos. 


No futuro é muito provável que este meio de se comunicar no intuito de captar ou formar opinião seja aproveitado politicamente. Um governante poderia saber a tendência da opinião sobre assuntos polêmicos em questão de poucas horas e direcionar sua ação neste sentido. Até mesmo poderia ser aproveitado para, pouco a pouco, engatinhar numa ética social, diferente da ética vinda de cima para baixo. Uma ética emersa do consenso o qual gera o consentimento e deste a legitimidade. Ao contrário de uma ética imposta geradora da desconfiança provocadora da revolta.

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