sábado, 6 de maio de 2023

ORIGENS DO PENSAMENTO LIBERTÁRIO – ROUSSEAU. Selvino Antonio Malfatti

 




Não seria fácil encontrar um filósofo-pai com tantos paradoxos e contradições no decorrer da vida como Jean-Jacques Rousseau. A começar que nasceu de um parto cuja mãe morreu no seu nascimento. Foi entregue pelo pai a seu tio que por sua vez o enviou a um sacerdote para estudar. Apaixona-se por sua protetora Thérése Levasseur com a qual tem cinco filhos. Não tendo recursos para criá-los e sustentá-los os entrega a um orfanato. Esta será a saga e trajetória de vida e pensamento de Rousseau.

Comecemos com a concepção de homem individual, em Rousseau. Seus fundamentos estão principalmente no "Emílio".  Conforme ele existe uma oposição entre a educação da natureza, livre, e a educação da sociedade, deformadora. O homem e o cidadão distinguem-se. O cidadão é o homem em sociedade. O cidadão e o homem são inimigos, pois enquanto o homem é universal, a unidade numérica, absoluto, inteiro, sem relação com nada, a não ser consigo mesmo ou com seu semelhante, o cidadão é apenas uma fração com denominador e seu valor depende do social. As instituições sociais, por sua vez, quanto mais desnaturarem o homem, transformarem o "moi" em "commum", melhores o serão, pois é exatamente esta a função da vida em sociedade: liquidarem com o homem.

Ainda, conforme ele, constatamos dois tipos de educação: a pública e a doméstica. A pública é a educação do cidadão, dada pelo Estado. Educação para fazer os homens se parecerem uns com os outros.  A educação para a contradição. É a educação das instituições sociais como "Religião", "Moral", "Educação", "Casamento", praticados na educação do Emílio.

A educação doméstica é a do homem, da mãe ou da natureza. Por ela, se conseguiria formar uma sociedade constituída de tipos ideais com "Emílios", "Sofias", "Vigários", "Empregadas", e outros. Uma educação em que que o filho ensina a mãe. a natureza a cima do progresso. 

O homem individual, natural para Rousseau, seria puro, casto, bom, generoso, isto é, teria todas as qualidades que a bondade natural tem. Para ele, progresso, a ciência como, por exemplo, a Medicina, desprezados e considerados antinaturais. O homem, quando de posse da ciência e tecnologia, deturpa a natureza.

O homem da natureza, errante nas florestas, sem indústria, sem ciência nem tecnologia, sem domicílio, sem guerra e sem ligações com seus semelhantes, sem desejo de prejudicar ninguém, sem reconhecer sua própria individualidade, autossuficiente e único, não tinha passado nem continuidade. Era o homem sempre criança. Neste estado, não havia desigualdade entre os homens. Isto tudo se quebra quando o homem dá o salto para a sociedade. Como isto ocorreu? Diz Rousseau:

"O primeiro que, tendo cercado o terreno, se lembrou de dizer: “isto é meu” e encontrou pessoas bastante simples para acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil".

Os dois direitos de igualdade e de propriedade nascem de um ato antinatural, violento. E por ele, o direito de liberdade do outro, ficou limitado perante o usurpador de uma propriedade. O direito de propriedade, que para os jus-naturalistas era um direito natural, para Rousseau não passa de um roubo. Para ele, somente alguém poderia invocar este direito quando a sociedade lhe conferisse, e assim mesmo, sempre provisoriamente.

A multiplicação da espécie humana, somada às dificuldades de subsistência geraram dificuldades. Estas premiram os homens no esforço de utilizarem sua inteligência e conseguiram inventar. As invenções provocaram relações: grande e pequeno, forte e fraco, devagar, medroso, ousado. Surge, então, o interesse comum, e com ele, a concorrência. Estabelecem-se compromissos. E quanto mais o homem era estimulado, mais usava sua razão para progredir. Começou a usar instrumentos, fez habitações, e com elas, surgiu a família. Nela nasce a linguagem. Reunião de famílias dá origem às tribos. O homem começa a elaborar conceitos e com eles as desigualdades. Nascem os deveres civis, e com eles a ideia de prêmio e castigo. O passo seguinte será a moralidade. Deve ser abolida: o homem tem a natureza para guiá-lo.

Estava instituída a sociedade libertária.

O projeto agora é voltar à natureza. Renegar a civilização e entronizar o homem natural. 


Postagens mais vistas