sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Dando destaque. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei




A imprensa tem papel fundamental nas sociedades democráticas. Ela leva ao público informações que orientam cada cidadão em suas escolhas. Também funciona controlando autoridades públicas que ficariam em cômoda invisibilidade sem o público acompanhar o que se passa nos meandros do Estado. Assim, há um conflito de interesses entre o público que deseja a verdade e políticos que querem ocultar seus atos. Esse conflito de interesses se explicita quando envolve dirigentes envolvidos em esquemas de corrupção e violência.
Se esse importante trabalho da imprensa merece ser destacado e elogiado, pois a desonestidade não traz benefícios para a sociedade, muitas vezes a imprensa é parcial e divulga seletivamente os fatos. Quando a imprensa se afasta da verdade contribui torna confusa e lança na ignorância a opinião pública. É preciso notar que a opinião pública não é apenas uma opinião sobre os assuntos, é também espaço de educação. Um povo se educa quando conhece seus problemas e os discute de forma honesta. Portanto, a opinião pública é mais que um fórum de opinião, ela é lugar de desenvolvimento intelectual pelo livre debate de ideias. Quando a imprensa não colabora para essa educação coletiva falha gravemente, ainda que informe o acontecido. Por isso, é importante que a mídia abra espaço para filósofos, religiosos e cientistas exporem suas análises dos problemas e seus pontos de vista sobre os diferentes assuntos que preocupam a sociedade.
Contudo, a parte dessas missões da imprensa, nem sempre cumpridas com a exatidão e a honestidade desejadas, há uma triste estratégia atual da mídia que está sendo crescentemente usada. Trata-se da repetição do desastre para promover o doentio gozo no sofrimento. Quanto mais triste o fato, quando mais chocante o ocorrido, mais os jornalistas se revessam repetindo a mesma história, com pequena variação de detalhes. Assim, a mesma notícia é repetida dezenas de vezes, mostrando os mesmos acontecimentos horrorosos. Em contrapartida, fatos fundamentais para a sociedade, aquilo que revela o melhor de sua parte íntima fica escondido ou é mal comentado. É importante mudar isso.
Assim, enquanto a imprensa escrita e falada insiste nas mortes das crianças, repetindo seus nomes e idades, enquanto os jornalistas esmiúçam a vida do vilão da tragédia ocorrida no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, na cidade de Janaúba, no norte de Minas Gerais, desejo destacar a reação das pessoas comuns. Trabalhadores que passavam pelo local e que procuraram ajudar as crianças feridas, a dedicação das equipes de saúde, a solidariedade da população com as famílias atingidas, todos se envolveram para responder a tragédia. Mas tragédias tem heróis, nem sempre suficiente reconhecidos. Nessa tragédia de Janaúba, entre as professoras e funcionários do Centro Infantil que socorreram os feridos, a professora Helley de Abreu Silva Batista entrou e saiu mais de uma vez da cena do desastre, com o corpo em chamas, salvando várias crianças. Ela morreu , mas salvou vários alunos. Sua atitude de respeito ao próximo e solidariedade ao sofrimento é o comum para a maioria dos funcionários públicos comuns do país. A ela deve ser dado destaque e ao seu ato heroico. Seu heroísmo precisa ser enaltecido para envergonhar a meia dúzia de dirigentes ladrões da sociedade. A professora Helley, nossa gratidão por mostrar quem são, de verdade, as pessoas que fazem o país. Nossa gratidão por nos mostrar que apesar de líderes que envergonham e políticos que não nos representam, cidadãos comuns vivem a generosa face da moralidade.


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