sexta-feira, 5 de junho de 2015

Violência sem limite. José Maurício de Carvalho - UFSJ



Não é razoável aceitar a violência ou se acostumar com ela, pior quando a violência é praticada sem outro propósito que ampliar o mal no mundo: a violência para roubar, violentar, vingar, matar, etc. Nem falo aqui da violência realizada contra uma ordem jurídica ou política com o propósito de modificá-la, pois ela também produz o mal, mas tem a ilusão, de que se vai por caminhos tortos até o bem. Essa forma de violência, associada ao que se denomina ética dos fins, parece fora de moda por aqui. Do outro lado do mundo a encontramos viva. Não julgando suficiente o que fizeram os nazistas e as guerras mundiais no século passado, o Estado Islâmico tomou para si a cota da barbárie do novo século. Seus membros se esbaldam degolando, matando, violentando, torturando com a desculpa da religião. No entanto, não é um caminho aceitável buscar o bem fazendo o mal, pior ainda em nome de Deus.
Aqui entre nós a expressão atual da violência é o ataque a faca. Quanto mais a imprensa noticia, mais se multiplicam os ataques. Nos últimos dias aumentou essa forma de barbárie praticada em contato direto com a vítima, agressão em que se olha para dentro dos olhos da vítima.  E, em meio a um Estado que não funciona, autoridades perdidas, pobreza das teorias sociológicas e jurídicas que justificam a violência com a pobreza, do aumento da ganância desmedida da corrupção, jovens são criados à margem dos valores humanos. Eles descobriram na faca um novo e velhíssimo instrumento para propagar o terror. Com a faca nas mãos se sentem fortes para dar curso à animalidade.  A faca tornou-se o mais novo pavor do cidadão comum. Ele pode, a qualquer momento e sem esperar, ser esfaqueado por alguém que o golpeia mesmo sem lhe falar. Depois do ataque, com a vítima ferida, arranca-lhe o que desejam e fogem, deixando-a morrer lentamente à espera de um socorro que sempre tarda quando vem.
Não parece que ajuda a enfrentar o problema o discurso moralista tão forte em nossa tradição cultural. Também não serve a simples exigência de punir jovens cada vez mais novos, discurso que se multiplica entre a elite econômica (e só entre ela e seus empregados) em nosso país. Isso não significa ser contrário à redução da maioridade penal aos 16 anos, mas a certeza de que ela sem educar os jovens é ação perdida. Estamos vendo a violência ser praticada por jovens cada vez mais novos e se for para levar a sério o argumento da punição pela punição, com oito anos um menino tem plena consciência do certo e do errado, então é melhor colocar a maioridade penal aos 8 anos. Se ele não tiver consciência do certo e errado aos 8 anos, também não terá aos 16 ou 18 anos e provavelmente terá menos medo da punição.
O problema tem raiz na falta de educação moral, que não é sinônimo de escolarização, mas ausência de valores. O significado moral das ações somente se esclarece para a pessoa quando ela pode pensar nas consequências dos seus atos, quando ouve que algumas ações são más, isso se ainda for pequena e perceber o mal praticado. Então a pessoa, diante das pequenas falhas, aprende que deve procurar fazer o bem. Porque entenderá que praticando o mal ele irá alcançá-la ou aos que ela ama mais cedo do que imagina.

O Reino de Deus que Jesus de Nazaré se esforçou para ensinar equivale ao Reino da moralidade. Somente nele encontramos resguardo para uma vida verdadeiramente humana, um reino em que o homem seja o valor central, somente nele estamos verdadeiramente seguros contra o mal. É o que pede a oração que Jesus ensinou, mas o Reino da moralidade (ou o Reino de Deus) somente virá a nós se cada homem ou a grande maioria deles se dispuser a construí-lo e a educar as próximas gerações. Não é fácil, mas é possível respeitar a humanidade em si e nos outros.

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