sexta-feira, 6 de julho de 2012

PODER E MORALIDADE. Selvino Antonio Malfatti






A Universidade Federal de São João Del Rei, Minas Gerais, através de seu departamento de Filosofia e Métodos, realizou em 2010 a XIII Semana de Filosofia, cujo tema foi o debate em torno da questão do totalitarismo e da moral. Participaram professores de todo Brasil e do exterior, mormente de Portugal. Os debates resultaram num livro intitulado ”Pode e Moralidade: o totalitarismo e outras experiências antiliberais na modernidade”, lançado neste ano pela Editora Annablume, de São Paulo. A coordenação do evento e a organização do livro couberam ao chefe do departamento da universidade, Prof. Dr. José Maurício de Carvalho. Assim se expressa o coordenador:

“Os capítulos do livro contribuem para entender o fenômeno totalitário, apontando os riscos do totalitarismo nos momentos de dificuldade econômica e crise social. Os organizadores do seminário consideraram fundamental a divulgação das diferentes abordagens do fenômeno, pois ao estudá-las fica-se em condição de melhor identificar seus riscos e os resultados de uma sociedade que saiu deles, ocupada com o existir concreta, vivendo os riscos da solidão na angústia da contingência de viver escolhendo o futuro. Daí diria o filósofo Albert Camus, o homem se descobre na incerteza da náusea e da desesperança, na angústia da liberdade que o condena à morte. Ele se vê perdido em seu desejo de compreensão racional numa realidade que se apresenta completamente irracional. A filosofia existencial deu voz às interrogações sobre o sentido da vida face à angústia, ao sofrimento e a morte. O existencialismo é a consciência dos horrores da Segunda Guerra e das ações dos governos totalitários.
No capítulo denominado A bioética e sua relação com os direitos humanos –uma contraposição ao Totalitarismo, Ricardo Silva e Napiê Silva aprofundam osignificado da liberdade tendo por referência as ideias de Hannah Arendt.
Selvino Malfatti fez ampla reflexão sobre o totalitarismo. Ele lembra que o eixo central da moralidade ocidental é a pessoa humana. O fenômeno totalitário,esclarece, é experiência recente da história política do ocidente e constitui um desvio de rota da tradição principal.
José Carlos Souza Araújo traduz e comenta a transcrição da doutrina fascista escrita por Giovanni Gentile e Benito Mussolini para a Enciclopédia Italiana de Ciências, Letras e Artes de 1932. É um documento esclarecedor das idéias fascistas e não tinha tradução portuguesa o que realça seu valor.
No capítulo Absolutismo hobbesiano e totalitarismo, Adelmo José da Silva aprofunda a hipótese de Hannah Arendt. Ele explica que o totalitarismo é fenômeno do século XX, mas tem raízes antigas.

António Pedro Mesquita examina outra experiência antiliberal que antecedeu os estados totalitários no século XX: o tradicionalismo português. A falta de apreço pelo liberalismo começa no tradicionalismo.

Ernesto Castro Leal apresentou importante esclarecimento sobre o destino histórico do tradicionalismo dissociando-o do catolicismo. Ele estuda a crítica do Pe. Abel Varzim aos movimentos totalitários lusitanos.

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset foi importante crítico do totalitarismo. Para ele, o fenômeno totalitário é típico da sociedade de massas que se estabeleceu na Europa no final do século XIX.

No capítulo denominado Herbert Marcuse: totalitarismo e tecnologia, Antônio Carlos Trindade da Silva comenta as teses do conhecido representante da Escola de Frankfurt. Ele esclarece que Marcuse entende o Estado Totalitário como variante do Liberal.

No capítulo que elaborou sobre Hannah Arendt, Odílio Alves estudou a opção arendtiana de empregar o conceito beleza para examinar o fenômeno político.

José Luís de Oliveira também examinou o pensamento político de Hannah Arendt. Ele mostra que a liberdade política é o elemento estruturante da meditação arendtiana, aproximando-a de seu mestre Karl Jaspers.

Paulo César de Oliveira examina a contribuição de Lévinas para o estudo do totalitarismo. Para o filósofo o fenômeno totalitário tem raiz numa ontologia onde o ser é tudo."

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