sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

FIDELIDADE E COMPORTAMENTO POLÍTICO. Selvino Antonio Malfatti.




Se pensarmos que fidelidade só diz respeito à relação entre marido e esposa estamos enganados por que é incompleta. Fidelidade é uma categoria ética que pode ser também jurídica. Mas antes de tudo é ética. Por isso, pouco ajuda estabelecer leis para regular o comportamento ético. Este brota de dentro, do coração ou da razão. Por isso mesmo, a fidelidade diz respeito à relação entre o empregado e patrão, entre professor e aluno e evidentemente entre marido e mulher. Mas há uma categoria social que faz que não sabe que estão vinculados por uma ética de fidelidade. Dizia o chanceler Bismark: nunca se mente tanto como antes das eleições, durante a guerra e depois de uma pescaria. Fiquemos com a primeira situação: a relação entre candidato e eleitor. Já ouviram falar de algum candidato ser preso por causa das mentiras de campanha? E, no entanto, deveria haver uma relação de fidelidade entre os que prometem e aquilo que prometem com os que aceitam o proposto acreditando na sinceridade. Ou a ética e a política residem em quartos separados? Se de fato houvesse um casamento entre os eleitores e os políticos, isto é, uma relação de dependência como se crê, poderíamos, nós eleitores levá-los perante os tribunais. E a lei prevê esta dependência e consagra o princípio ético. Com efeito, se todo poder emana do povo, os que o exercem são dependentes de quem os elegeu e portanto, têm um dever de fidelidade a este povo. Foram eleitos para o bem dos cidadãos e consequentemente deve agir assim.
No entanto, se observarmos a realidade o quadro é bem outro. Uma vez eleito, o candidato adquire vida própria, só se preocupa com seu próprio bem, de seus parentes e amigos, rouba, trapaça, desvia, enfim, age como o antípoda da ética. E nem povo e nem lei conseguem frear este desvario antiético. A fidelidade é jogada pela janela e a ética violentada, humilhada e pisoteada publicamente.
E surge então a pergunta? Por que pode acontecer isto? Se nem a lei e nem a filosofia conseguem explicar, talvez a sociologia nos lance uma luz.
O comportamento social está alicerçado sobre três categorias populacionais. A primeira categoria que poderíamos denominar de Alfa (trendsetter). São atípicos, não seguem o padrão e não se deixam influenciar, criam comportamentos. Intermediariamente alocam-se os Betas (early adopter) que captam o comportamento dos alfas e o dissemina para os demais, menos para os Alfas. E por fim temos a categoria comportamental dos Gamas (mainstream), dos comuns, da maioria que seguem o que os Betas lhes transmitem. Não influenciam nem os Betas e muito menos os Alfas. Estes comportamentos podem varias de conteúdo para conteúdo. Uns podem Alfas em economia, e Gamas na política. Outros podem ser Betas na religião, e Gamas em arte.
No caso da política se formos aplicar a teoria dos comportamentos, pode-se constatar que os Alfas são autônomos em relação aos Gamas e mandam seus padrões através dos Betas que se abstém de criticar os Alfas por que é deles que dependem para sua sobrevivência, os quais passam as orientações para os Gamas: maioria incapaz de mudar a situação. O povo- os Gamas, a mídia - os Betas e os políticos - os Alfas.

Se os Alfas, por uma educação deficiente, ou ideologia não comprometida com a democracia, emitir tipos de comportamentos antiéticos, estes serão levados para os Gamas pelos Betas. Os comuns acham “normal” este tipo de comportamento e não reagem a ele. E se isto se incrustar nos líderes políticos, através de seus partidos, esta oligarquia apertará as tenazes de ferro sobre o povo e o como diria Robert Michel. E a fidelidade política é mandada para as cucuias.

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