sexta-feira, 18 de março de 2022

A PESQUISA – DE PREFERÊNCIA A PURA. Selvino Antonio Malfatti.

 



Há poucos dias foi criada na Itália a Fundação Blaumann sob a inspiração de Giovanni Franceschini. Nasceu sob os auspícios do empresariado da Bréscia. Propõe-se dar um novo enfoque à ciência. Visa apoiar a pesquisa teórica fundamental, sem pretender diretamente às aplicações, ao prosseguimento do que existe ou a novas tecnologias calcadas no que sabemos, mas tem em mente entender a realidade em profundidade. Frente ao conhecimento já possuído se perguntar: o que está por trás dele? Para tanto, esforçar-se para melhorar a estrutura conceitual para entender melhor a realidade. Disso decorre refletir para formular um juízo axiológico sobre a ciência pura e como pode ser sustentada. A constatação é que estamos nos desviando deste valor, inclusive na lógica dos investimentos.

A civilização ocidental originou-se graças à criação de um cabedal de ferramentas conceituais desenvolvidas coletivamente através da História de diversos povos, em diferentes épocas e por inúmeros atores pensantes. Este conjunto forma a cultura. A riqueza da nossa civilização não é material, mas espiritual. É saber pensar e saber fazer.

Contemple-se o cenário do final da Segunda Guerra Mundial. A Europa estava em ruínas e seus bens materiais em grande parte destruídos. Apesar disso, em algumas décadas, a Europa voltou a ocupar os lugares mais ricos do mundo. Por aconteceu isto? Simplesmente por que sua cultura subsistiu à destruição.

Sua riqueza assenta-se na capacidade de pensar, nas ferramentas conceituais. Os povos destituídos desta cultura permaneceram os mesmos. O cabedal dos conhecimentos científicos faz parte deste patrimônio comum da cultura. O pensamento científico tem seu objeto material, mas não é material, porém, imaterial ou conceitual. O corpo humano material é o mesmo para um médico e um curandeiro. O que  os difere é o cabedal conceitual de cada um. Por isso, tecnologia, medicina, plantas industriais, química, sistemas complexos, gestão de informação e outros, nada disso existiriam se não tivesse um pensamento científico básico. O que os difere é o pensamento e não a realidade material. É um patrimônio coletivo mental e não um baú. Este patrimônio tem vida, desenvolve-se  crescendo continuamente.

Sempre, desde o Liceu e Academia da Grécia, às primeiras universidades europeias do século XI, como de Bolonha e Pádua, aos maiores centros de conhecimento do mundo moderno, a cultura e mais especificamente a científica, é sempre ligada à educação. O conhecimento cresce ao ser transmitido e se transmite ao crescer.

Pode-se constatar que sempre as universidades são centros da criação e transmissão do conhecimento científico.

Diante disso conclui-se que é preciso investir em universidades. Há países que investem muito pouco como alguns europeus e América Latina. O nível de investimentos no Brasil para as universidades é muito aquém do esperado. No mínimo precisaria duplicá-los para alcançar o mínimo europeu ou norte-americano.

 

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