sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A NOVA ETAPA DA FILOSOFIA – PÓS-CETICISMO. Selvino Antonio Malfatti







                           John R. Searle


A questão filosófica sobre “se conhecemos ou não”, está superada. Atualmente o filosofar de Descartes, Locke e Bacon, se conhecemos ou não, pertence à história do conhecimento. Hoje já partimos da validade do conhecimento e o esforço é no sentido de agregar-lhe novos conhecimentos. A o fato é que conhecemos. Não importa se o conhecimento é de origem pré-empírica ou empírica. Um conhecimento matemático, como de Einstein, ou um conhecimento fisiológico, como em medicina de Michael Rosbash, são conhecimentos
Além disso, podemos acumular conhecimentos: conhecemos mais que nossos antepassados e as novas gerações conhecem além de nós. E mais que isso: nossos conhecimentos são certos, objetivos e universais. Qualquer outro esforço é artificial e irracional, como atesta John R. Searle.
Duvidar de que o coração bombeia, que há satélites solares como a terra, que a água é um composto de oxigênio e hidrogênio, dos teoremas matemáticos,  é simplesmente antirracional. Todas estas realidades são verdadeiras, objetivas e universais. São sustentadas por teorias empiricamente comprovadas como a fisiologia humana e animal, a teoria heliocêntrica e a teoria atômica da matéria. Da mesma forma, os conhecimentos das deduções matemáticas são verdadeiras, como prova os buracos negros de Einstein. Isto não significa  imutabilidade destes conhecimentos atuais. Sempre são possíveis revoluções científicas, como de Einstein que assimilou a mecânica de Newton. Pode-se aceitar que a possibilidade de revoluções científicas está sempre em aberto. Mas, só porque um conhecimento pode mudar, não significa que não se conheça. Estamos defronte da certeza e da possibilidade de mudança.
A segunda característica do conhecimento atual é sua objetividade, mas simultaneamente perspectivista, isto é, da qual perspectiva é visto. Ser objetivo significa que o cognoscente está acima de sentimentos individuais ou coletivos, atitudes pessoais ou sociais. Independer de preconceitos, preferências e comprometimentos dos pesquisadores. Quando disser que a água é um composto de duas moléculas H2O, é intrinsecamente objetiva. No entanto, ao dizer que o gosto do vinho é melhor que da água, é uma afirmação subjetiva. Depende da opinião e não do conhecimento. Diferente é o conhecimento perspetivista. Posso dizer que a água e um composto de duas moléculas. A perspectiva é a estrutura atômica. Se disser que a água quarks, múons e outras diversas partículas subatômicas, tenho outra perspectiva: física subatômica. Por isso, apesar de serem perspetivistas estas assertivas, o conhecimento não deixa de ser positivo. Cada perspectiva é também verdadeira.
Podemos ter certeza a respeito das conclusões sobre os conhecimentos adquiridos, porque são objetivos. E para tanto são universais. Não se aplicam a determinados grupos ou em determinadas circunstâncias, mas são válidos para todos, em todos os tempos e lugares, daí que são universais. O que é verdade em Moscou, também o é em Paris. Evidentemente que nem todos tem conhecimento disto. É preciso ter um aparato cultural capaz de chegar a ele. Da mesma forma que uma partitura é válida em todos os tempos e lugares, porém deste que o executor esteja habilitado para isto. Para um leigo em música a partitura não significará nada. Para um expert significa uma sinfonia, esteja em qualquer lugar do mundo.
Este é o sentido de que temos um corpo de conhecimentos certo, objetivo e universal: o conhecimento é sempre experimental e corrigível; ele sempre é tomado a partir de um ponto de vista; surge em contextos sociais particulares antes de se tornarem universais. Ninguém seria tão mente capto de tomar seu celular, acessar a internet, comprar uma passagem aérea, abrir seu laptop na viagem, no final da viagem tomar um táxi e ir a um auditório para proferir uma palestra sobre a inviabilidade e inutilidade do conhecimento ou que o conhecimento é somente manifestação do poder da classe dominante. ( Filosofia Unisinos, 10(2):203-220, mai/ago 2009 John R. Searle)


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