sexta-feira, 27 de julho de 2018

A EDIÇÃO DE “O COLAR GRANDANGOLO” . SELVINO ANTONIO MALFATTI



A reedição do livro de DANTE em  "A COLEÇÃO GRANDANGOLO", certamente será mais um marco para uma análise crítico-histórica social. 

A obra de maior de repercussão na época de Dante Aleghieri, que procurava combater a doutrina oficial da Igreja, foi a “De Monarchia”. Defende o governo romano, de um só homem, sobre todo o mundo. Isto porque, tal soberano, traria paz à humanidade e com ela adviria o desenvolvimento intelectual. Refuta a ideia, então em voga, de que o Papa é o Sol, e o Imperador, a Lua.

Se nas relações, entre Igreja e Estado, Alighieri se alinha na corrente dissidente, quanto à concepção da norma, permanece com a vertente naturalista. Pensa que haveria uma hierarquia de normas para se obter a harmonia dos cosmos. Primeiramente viria uma ordem natural. Nesta ordem natural, no pensamento de Alighieri, há uma disposição que deve ser mantida, tanto por si mesma como pelo homem. A ordem natural deve ser seguida, e não modificada. É universal e necessária. Seriam as normas éticas válidas para todos. O direito, a ordem humana, e por isso moral, deve esforçar-se para não quebrar a ordem dada pela natureza. Por isso, o ponto de partida, e o termo final, será sempre a ordem natural. Legislar significa respeitar a própria natureza, e nisso reside a legitimidade do direito. E, conforme ele, o Império Romano é obra da própria natureza. Quando os romanos submeteram os povos, estavam agindo de acordo com a natureza, que tinha destinado um povo para governar o universo.

No Livro III, Dante tenta provar que o poder do monarca romano proveio diretamente de Deus, e não através de “algum vigário ou ministro de Deus”. Havendo uma continuidade entre natureza e Deus, o Império Romano é fruto da lei natural, e a Igreja, da lei Divina. Conforme ele, não consta na lei divina que os sacerdotes tivessem recebido poderes para instituir ou destituir soberanos.

Com o se sabe, Dante não só foi um gênio em si, como serviu de modelo para outros grandes escritores da renascença italiana como, Foscolo, Primo Livio, Pasolini e Montale. O que significou Platão e Aristóteles para a era do apogeu da civilização de Atenas, Dante terá o mesmo papel no auge da cultura renascentista italiana com repercussões por toda Europa. 

Dante analisa a problemática ético-moral de sua época. Vê um mundo destituído de sentido ético, mundo este submetido aos poderes impenetráveis. Sobressa-se o egoísmo, interesses privados ou partidarizados. A corrupção interpenetra toda uma sociedade em decadência. Um sistema enganador que se estende sobre a humanidade. Já é práxis e ninguém reage convivendo no cenário do quotidiano. O testemunho condescendente que dá lugar ao vício da simonia (cargos eclesiásticos negociados), de favoritismo, propinas, um desenfreado desejo de cúmulos de bens. Dante se revolta contra a luxúria (inclusive prazeres do sexo), a degradação da nobreza e do clero. 

Pelas posições políticas e pelas denúncias públicas foi natural que, o pai da língua italiana, caísse em desgraça perante os dirigentes e civis eclesiásticos. E, consequentemente, tenha sido perseguido, condenado e exilado. A partir daí torna-se um errante perante as nações, sem pátria. A vida de errante, exilado, de Aleghieri, decepcionado pela política, pois percebe que mal obtida a liberdade logo se transforma novamente em tirania. Fóscolo encontra nele a vítima a quem se une espiritualmente e pelo mesmo destino. Da mesma forma que Leonardo Da Vinci, que carregava consigo Mona Lisa, Dante não se afasta da Comédia como ideal de estudo e um amuleto de consolação. Primeiramente foi denominada de Comédia (obra com final  feliz), e posteriormente, com Boccaccio foi acrescentado o adjetivo Divina.

Nela descreve a Terra como sucessão de círculos concêntricos, formando a Estrela Armilar e o meridiano onde está localizada Jerusalém atual. Neste local teria caído Lúcifer abrindo uma cratera profunda, o Mar Morto, o Portal do Inferno. Para o Mar Morto todas as águas convergem. O Paraíso e o Purgatório seriam os segmentos dos círculos concêntricos. 

Praticamente todos os personagens bíblicos do Antigo Testamento são descritos no Inferno. Nesta viagem pelos três – Inverno, Purgatório e Céu – Dante é acompanhado pelo poeta Virgílio e no Paraíso sua bem amada Beatrice está a seu lado, pois Virgílio, como pagão, não podia entrar no Paraíso. 

Diante do papa Bonifácio VIII é árduo defensor do livre-arbítrio. Foi um autor cuja obra manteve-se oculta e considerada não divulgada. Oito anos após sua morte, seu tratado De Monarchia foi atirado à fogueira, acusada de heresia pelo cardeal Bertando del Poggetto, talvez pensando que, junto com o tratado, pudesse transformar em cinza toda obra de Dante. Já em 1559, sua obra foi anexada ao Santo Ofício através do primeiro Índice dos “Librorum Phroibitorum” do Santo Ofício, isto permaneceu até a metade do século XIX. Pudera! Nada menos que cinco papas são colocados no Inferno. Para se ter uma ideia, nunca antes de 1791 foi publicada em Roma a Commedia. Durante toda vida a Igreja faz Dante calar, mas somente o conseguirá após sua morte.

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