sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Desafios para a nação. José Maurício de Carvalho.




O Brasil vem mudando nas últimas décadas, enfrentando antigos e novos desafios. É inevitável que em momentos felizes se tenha a sensação de que as coisas andam melhor e o mesmo ocorre nos períodos de dificuldade, quando se tem a impressão de que andam piores. Foi o que se observou recentemente nas avaliações do país que foi guindado, de uma hora para outra, à condição de cereja do bolo e dois anos depois rebaixado para a condição de cronicamente atrasado.
Deixando de lado avaliações extremas, entre os desafios de médio prazo, isto é, dos próximos quatro anos estão o realizar a Copa da Fifa, em 2014 e as Olimpíadas, em 2016. Isto não significa apenas concluir estádios e ginásios nos prazos pactuados, mas resolver problemas graves de infra-estrutura como: ampliação e modernização de portos, rodovias e aeroportos. Some-se a eles: melhorar os serviços nos hotéis, restaurantes, o mobiliário urbano e controlar a violência.
A lista acima não é inédita, a imprensa destaca ora um, ora outro ponto. Não estão aí os desafios de sempre como: preservar a memória nacional e aspectos significativos da cultura, manter a responsabilidade fiscal e a inflação sobre controle, oferecer educação de qualidade para a juventude e serviços de saúde eficiente, proteger as fronteiras, garantir o cumprimento das leis, combater a corrupção e fazer funcionar a previdência pública, etc. Também estes problemas não são desconhecidos.
O que não é tão conhecido e comentado são problemas de nossas raízes culturais responsáveis por nosso atraso e dificuldades. Se começarmos a enfrentá-los os desafios de sempre e os próximos serão vencidos em menos tempo e maior facilidade.
O primeiro é a necessidade de discutir e incorporar moral social laica e consensual. Moral social laica (não religiosa) e pactuada é distinta da religiosa que é importante para o crente e só para ele. A consensual e laica não desobriga dos compromissos sociais mesmo quando estão fora das convicções pessoais e religiosas.
O segundo é o sentido pessoal da responsabilidade, isto é, enfrentar os problemas e não esperar que alguém o faça por mim.  Não há nação forte sem que todos estejam comprometidos com sua missão, não importa qual seja.
O terceiro é a crônica ineficiência do serviço público e das empresas particulares, ancorada na falta de compromisso com a qualidade e competência. O desleixo alimenta a ética do atalho quando o que importa é descobrir quem é o responsável pelo que, para pedir privilégio no atendimento, enquanto a coletividade permanece na desgraça. Isto consolida o salve-se quem puder e a negligência imperdoável dos governantes com as tragédias anunciadas.
O quarto é o gasto supérfluo e suntuário e não o investimento que aumenta e consolida a riqueza.
O quinto é a enorme diferença entre ricos e pobres, apesar dos esforços louváveis do atual governo para reduzi-la. A sensação de que se paga muito imposto deve-se a que o funcionamento do Estado depende efetivamente de poucos. A maioria contribui pouco e depende muito.
O sexto é a desorganização partidária com arranjos impublicáveis, corrupção, coligações inviáveis e eleitoreiras. Isto dito sem desconhecer a consolidação da democracia e do Estado de Direito nas últimas três décadas.
O sétimo é o nível baixo de escolaridade que alimenta a improdutividade e as diferenças sociais.
O oitavo é a falta de planejamento eficiente e execução adequada o que leva ao improviso e o famoso ir-se safando do vender o almoço para comprar a janta.
A lista não está em ordem de importância, registra desafios. Alguns começam a ser enfrentados, a maioria não. Sem enfrentá-los continuaremos longe de ser o país que todos os brasileiros dizem sonhar. Ele não chegará a ser bom se sonharmos com a vida do suíço e agirmos como o personagem conhecido por “malandro carioca”.

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