sexta-feira, 9 de outubro de 2020

John Barrow, filósofo do infinito antrópico. Selvino Antonio Malfatti.

 



Ocorreu o falecimento de John David Barrow em 26 de setembro de 2020, em Cambridge. Nascido em Londres em 1952, na Inglaterra. Destacou-se em cosmologia, física e matemática. 

Ficou conhecido, entre outras pesquisas, o Princípio Antrópico. Parte da hipótese de que as leis físicas do universo estão dispostas de tal forma que a vida seja possível. Isto leva à interpretação de que o universo não pode ser entendido como mecanicista, mas finalista.

O princípio antrópico em Barrow é aplicado à cosmologia. Compartilha a mesma teoria com as pesquisas de Frank Tipler e Adelphi. Para eles e Barrow o cosmos está dependente de variações infinitesimais. Se isto não acontecer dentro do previsto a própria existência do universo estará comprometida. Por isso, as propriedades do cosmos o levam a desenvolver vida, e mais que isto, vida inteligente.

No fundo é uma reabilitação das “rationes seminales” dos gregos e medievais. A matéria teria ínsita a capacidade de evoluir para formas mais perfeitas, chegando à vida e dela para a inteligência.

O princípio antrópico, diferentemente dos medievais, defende não a centralidade do homem no cosmos, mas a peculiaridade. Esta hipótese se aproxima à visão de Roger Penrose que faz uma conexão entre universo, consciência e reflexão filosófica.

A progressão de suas pesquisas sempre apontam a direção matemática e cosmologia: ilustram as pesquisa da teoria de tudo, a explicação definitiva e as relações numéricas subjacentes ao cosmo: por que o mundo é matemático? Chegou com isso ao paradoxo: "Um universo simples o suficiente para entender é simples demais para produzir uma mente capaz de entendê-lo.”

O conceito de infinito sempre martelava a cabeça de Barrow de tal sorte que se aventura de levá-lo ao teatro, com o título: Infinities, co-produzido pelo Piccolo Teatro, colocando em cena os vários infinitos da matemática: os números infinitos de Galileo Galilei, as matrizes de David Hilbert, o conceito de infinito desenvolvido por Georg Cantor e assim por diante. O espetáculo venceu o prêmio Ubu, em 2002, em Milão. Já em 2006 recebeu o prêmio Templeton, abordando a relação entre o universo e a vida. Em 5 de fevereiro de 2020, foi nomeado pelo Papa Francisco  membro ordinário da Pontifícia Academia das Ciências.

Existe alguma comprovação experimental do princípio do Barrow? Podemos tentar duas possibilidades. Uma, reduzindo o cosmo ao infinito mínimo, um microcosmos infinitesimal, para ver se observarmos alguma mudança no antropomorfismo físico. O cosmo progride no sentido antropomorfista? Percebe-se alguma mudança que sinalize um avanço antropomórfico da matéria? Estamos à beira do limiar entre a vida e a matéria. É possível transpor o hiato? Se foi transposto, portanto é possível. O estudo da evolução comprovou um rumo para a vida e desta para vida inteligente. Se as conclusões evolucionistas forem corretas o princípio de Barrow também será. Outra, dilatar o máximo possível o cosmo, o macrocosmos infinitesimal para vislumbrar melhor alguma mudança no sentido de aperfeiçoamento. Seria o mesmo que tomar uma imagem e expandi-la de tal sorte que se possa constatar qualquer alteração do formato original. Aqui também a hipótese mostra-se favorável. Uma molécula levada ao infinito de sua expansão sugere possíveis seres com vida própria. Foi possível? Se aconteceu, então foi possível.  

Claro que estamos diante de perguntas radicais. “Como, por que e quando começou o universo? Qual o seu tamanho? Que forma tem? De que é feito?” “Estas são perguntas que qualquer criança pode fazer, mas também são aquelas com que os modernos cosmólogos vêm lutando há várias décadas.”, afirma John Barrow, professor de astronomia da Universidade de Sussex e autor de “A origem do Universo”.

O tempo que vivemos já é uma obra acabada do universo. Vivemos momentos posteriores aos acontecimentos fantásticos terem acontecido. Somos frutos do pós e não do antes e nem do durante. Com isso temos que enfrentar questões como se o tempo teve início, se não há outros tempos paralelos etc.

Para o autor a nossa existência está interligada à origem e estrutura do universo de forma incontestável.

 

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