sexta-feira, 29 de setembro de 2017

José Mauricio de Carvalho. Martin Buber e o diálogo – Academia de Letras de São João de Rei.





Em razão do acima dito, o encontro parece ser o combustível da atividade filosófica, necessário alimento para pensar depois que o indivíduo se enamora do mundo e de seus problemas. Então, quando já está apaixonado pela verdade última que amarra todas as outras verdades, como o adolescente fica obcecado em seu primeiro amor, o pensador pode iniciar o encontro com a tradição de pensamentos pensados, desafiado a fazê-lo por conta própria. Então poderá responder aos desafios que descortina em sua existência e vislumbra na cultura do seu tempo. Se a Filosofia é aproximação da verdade pelo desvelamento de seus aspectos no tempo, o encontro com os filósofos é o que alimenta essa aproximação.
Assim, é particularmente inspirador quando um filósofo faz do diálogo o objeto não só do encontro com a tradição filosófica, mas da própria condição humana que se mostra no encontro com o mundo e os outros. Essa foi a problemática de Buber. Foi o que
procuramos mostrar no livro Martin Buber: a filosofia e outros escritos sobre o diálogo e a intersubjetividade. Esse filósofo, no seu livro no livro mais importante: Eu e Tu, descreve o encontro que tece o homem. Ele revela, naquela obra, sua inspiração fenomenológica e sua fé profunda no diálogo. O diálogo maior é direto com Deus a quem se fala e, sobretudo, a quem se escuta. O diálogo com o Grande Tu assegura o travamento necessário para à vida instável. No diálogo se resume o homem, nas relações que estabelece com as coisas (relação Eu – Isso) e no encontro com os outros homens, (relações Eu – Tu). Nessas duas palavras-princípio se expressa a ontologia da relação, o homem se faz no que está entre o Eu e o Tu, tema desenvolvido em outra de suas grandes obras: Do diálogo e do dialógico. Esse entre resume o encontro, o que é verdadeiramente real nas relações. Na primeira lição de Eu e Tu, Buber resumiu as relações humanas em dois pares de vocábulos. São eles respectivamente: Eu-Tu e Eu-Isso, sendo o Isso substituível por Ele ou Ela, objeto de quem se fala, mas não a quem se fala e de quem se escuta. Todo verdadeiro viver nasce no encontro, no entre, esse é o ponto fundamental de nossa realidade. Para Buber, quando se fala Tu ou Isso, pronunciam-se palavras-princípios, que resumem as relações possíveis com o que está à volta do Eu.

Encontramos nesse autor não apenas os elementos para um diálogo com a tradição filosófica, mas para pensar o significado de nossa humanidade no diálogo.

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