sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Considerações sobre a liberdade humana. José Mauricio de Carvalho



Dizer algo da liberdade significa descrever uma experiência de todo homem. O ponto de partida parece ser o seguinte, liberdade não é redutível a outra dimensão da vida e se trata de algo que empiricamente verificado. Sem muita especulação sabemos que podemos ou não realizar uma viagem, e se for uma viagem de férias escolher um ou outro destino. Podemos escolher tomar uma cerveja ou não. Portanto, liberdade traduz uma experiência simples que todo homem faz de que ele pode dar caminhos diferentes para sua vida. Se vida, como diz o filósofo espanhol Ortega y Gasset, é o que se faz, liberdade significa que se pode fazer as coisas de mais de um modo. Portanto, se trata de uma realidade comum para as pessoas.
A simplicidade com que podemos reconhecer a liberdade não nos livra de mergulhar em questões difíceis quando se trata de explicar teoricamente no que ela consiste, tanto porque o homem depende de processos que são biologicamente determinados, sofre limitações na forma de expressar e viver seus afetos, quanto encontra limites sociais em sua ação. A liberdade não é exterior ao ato de escolher, de fazer surgir, em nossa existência, uma realidade diferente da que já se tem, mas isso só se realiza dentro de limites. Portanto, a primeira coisa a se fazer quando se pensa a liberdade é não contrapor a possibilidade de se fazer tudo o que se quer às dificuldades decorrentes dos condicionamentos presentes no dia a dia. Não se trata de afirmar a autonomia contra os limites, nem de, devido aos condicionantes da circunstância deixar de admitir a realidade da liberdade.
As diferentes concepções antropológicas que se desenvolveram no ocidente reconhecem essa situação, mas realçam aspectos diferentes dessa realidade, umas supervalorizando as possibilidades de escolha, outras realçando os limites da vida emocional ou a circunstância social. Posições como a de Sartre estão no primeiro grupo, outras como a de Freud destacam os limites estabelecidos inconscientes da vida mental e há aqueles, como Marx, que supervalorizam os limites da realidade social e econômica.  
  Considero que a supervalorização de um ou outro lado não é a melhor forma de tratar o assunto. A liberdade humana é possibilidade de escolha que dentro de limites. O corpo do homem atende a processos e seus instintos o instigam numa direção, mas ele tem no pensamento uma possibilidade real de orientar esses aspectos. Os limites sociais são reais, mas há sempre um espaço de escolha nessa circunstância. Filósofos como Ortega e Psiquiatras como Frankl e Jaspers destacam que o homem possui uma dimensão animal que lhe limitam o caminhar, mas destacam a capacidade humana colocar perguntas, transcender as situações e de modificar a circunstância. A ação do homem transforma o mundo. Dito de outro modo, mesmo reconhecendo as necessidades, processos, forças condicionantes e limites da dimensão social, ele pode ir além dessas medidas por sua condição decisional. Dessa forma ele supera o seu modo de ser coisa.  
Autores como Frankl, Ortega y Jaspers destacam que a liberdade se relaciona com o modo como a pessoa vive o sentido de sua vida. Sentido que ela precisa descobrir no seu núcleo mais íntimo para o espanhol ou no inconsciente espiritual para Frankl.  Assim, as escolhas que concretizam a liberdade passam pelo plano intelectual e emocional, pois o homem escolherá a partir desses dois aspectos, já que ele não é nem só uma coisa e nem outra. Frankl entendeu que, em relação as questões emocionais, há uma dimensão inconsciente, porém é a espiritual a que move a outra, governada por pulsões.
Assim o assunto é complexo e envolve muitas variáveis e dificuldades.
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