quinta-feira, 10 de junho de 2021

AMBIENTE FAMILAR E RELIGIOSO x ENSINO FORMAL ESCOLAR – DUAS CIDADANIAS. Selvino Antonio Malfatti.

 

            https://www.youtube.com/watch?v=eNAor3VITQg


Uma eficiente educação escolar, formal, é suficiente para garantir uma cidadania? Parece que não, ao menos para imigrantes italianos com cidadania de segunda geração. Esta, já em escolaridade regular italiana, mas vivendo num ambiente com língua e religião do seu ambiente familiar -país de origem- continuam pensar como a primeira geração, isto é, não italianos.

A hipótese de Ernesto Galli della Loggia, do jornal Corriere dela Sera, é de que a segunda geração, em que pese a educação formal do governo italiano, pensa e age, não como italianos, mas como imigrantes. O mesmo acontece com imigrantes israelitas e palestinos, conforme Gad Lerner, num artigo no Fact. Israelitas de segunda geração de imigrantes não reconhecem mais seus compatriotas e os chamam em árabe de: “yahoud kalabna ”,“ os judeus são os nossos cães ”»

Não foi o que aconteceu com os emigrantes italianos vindos para o Brasil no século XIX. Filhos de imigrantes, uns já na quarta geração, continuam mantendo as tradições italianas de seus trisavós ou mesmo tataravós ligadas à língua e religião e ao mesmo tempo se integraram à cidadania brasileira. Inclusive já na segunda geração foram mandados para Itália para combater contra seus próprios compatriotas.

Recordando-se ainda hoje das tribulações por que passaram seus antepassados. Cantam “Merica, Mérica... Abbiam dormito sul nudo terreno come le bestie andian riposar”. (Mérica, Mérica.. Dormimos no chão nu como animais que procuravam descanso.) Embora tenham se integrado à cultura brasileira, mantém a língua italiana, ainda falada no ambiente de seus antepassados. A religião se desprendeu nas novas gerações, mas a língua ainda continua viva.

A cultura italiana manteve as tradições trazidas da Itália, como hábitos culinários (panetone, pão de trigo, vinho, pizza, espaguete, risoto, polenta e técnicas agrícolas). Inicialmente havia :’noi” italiani e “i brasiliani. O significativo é que os brasileiros assimilaram os costumes e cultura italiana e vice versa.  

Além desses aspectos materiais os italianos deixaram o espírito como as danças, canções folclóricas, música, música tocada na sanfona, falar em voz alta, pronunciar todas as sílabas.

Aspectos da cultura italiana passaram para os costumes brasileiros e os brasileiros transmitiram componentes brasileiros para os italianos como na comida: feijão e arroz, churrasco, carreteiro, carne seca. 

Nos estados do sul do Brasil, onde a imigração italiana e de outras culturas se fizeram mais presentes, deixaram marcas indeléveis. Uma dessas foi o reconhecimento do Talian como patrimônio histórico e cultural desses estados. Este dialeto era falado entre os imigrantes italianos nos estados do sul e ainda se encontram núcleos que o falam, inclusive um município gaúcho o tem como língua oficial ao lado do português. É Bento Gonçalves, pioneiro dos assentamentos dos colonos italianos.

Outro município gaúcho que adota o Talian como língua co-oficial é Serafina Correa:

“– Decreto Nº 49, de 19 de julho de 2013. Dispõe sobre a utilização preferencial da língua co-oficial, o Talian, na semana do aniversário do município e dá outras providências.”

Não se negar a influência da língua e da religião no meio social das novas gerações, mas não se pode dizer que isto é generalizado. No Brasil, as novas gerações assimilaram plenamente a cultura local, inclusive a língua. E ninguém dos novos pretende mudar ou rejeita a cultura de seu novo país.

 

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