sábado, 4 de janeiro de 2014

LAZER – TEMPO DE DIGNIDADE. Selvino Antonio Malfatti

























“Costumes de São Paulo”, Rugendas.


Ano letivo encerrado, Natal e Ano Novo ficaram para trás, então, está na hora de pensar no lazer.

Desde as primeiras teorizações, como de Aristóteles, o lazer sempre estava relacionado ao trabalho ou seu oposto. Dizia ele que trabalhamos para poder desfrutar do ócio. Até o advento da legislação trabalhista, na prática, somente a classe de pessoas ricas podiam gozar deste privilégio, pois suas posses lhes permitiam dar-se ao luxo de não trabalhar para sobreviver. Havia também os que exerciam atividades intelectuais, como magistrados, advogados, políticos médicos e professores, religiosos e outros que reservavam um tempo para o descanso. Mas quem dependia de atividades físicas dificilmente podia gozar deste privilégio, mormente quando iniciou o período industrial. Hoje, com as conquistas sociais, criou-se artificialmente ou legalmente um tempo livre de trabalho, conhecido como férias remuneradas ou descanso remunerado.
As formas de lazer são as mais variadas. Podem ser físicas, artísticas ou intelectuais. Cada categoria destas também varia no tempo e espaço. Entre as físicas podemos citar futebol, corridas, canoagem. Entre as artísticas pode-se mencionar teatro, escultura, pintura entre pinturas, leituras e como intelectuais incluem-se viagens de conhecimento, palestras ou congressos. Parta merecer o epíteto de “lazer” não pode haver retorno material ou pecuniário, embora, uma mesma atividade para uns pode ser lazer e para outros, trabalho. Quem ministra uma palestra está trabalhando e quem assiste pode estar fazendo lazer.
Por isso, pode-se dizer que lazer seja um conjunto de ocupações que os indivíduos entregam-se espontaneamente com o intuito de descansar, recrear-se, entreter-se ou para buscar formação ou informação. O que caracteriza o lazer é a vontade livre de entregar-se a uma atividade, sem objetivo de remuneração ou obrigatoriedade. Como conseqüência o trabalho profissional ou trabalho suplementar se opõem ao lazer, da mesma forma atividades formais, como a educação formal, aquela que se é obrigado a fazer como aulas, provas, temas e outras. Uma atividade doméstica, por exemplo, para uma empregada não é lazer, mas para um membro da família que resolve fazer por que gosta ou quer divertir-se pode ser lazer. Um sacerdote que oficia uma missa é lazer, mas alguém que decide ir à missa para preencher um tempo vago, torna-se lazer. Para que seja identificado como lazer há de preencher os quesitos: tempo liberado (aquele que sobrou depois das obrigações profissionais), tempo livre (tempo que sobra após cumprir todo tipo de obrigações), tempo inocupado (tempo dos que não têm obrigações profissionais, como os aposentados).
Mas a pergunta que insiste em ter uma resposta é a seguinte: por que tanto esforço para conquistar um tempo para o lazer? Para que trabalhar tanto para ter disponível um tempo para não trabalhar? No fundo é a busca da essencialidade do ser humano, qual seja, sua dignidade. Esta significa um valor que não pode ser substituído por outro. O preço de algo, por exemplo, pode ser trocado por outro, porém, a dignidade não pode ser permutada por nenhum equivalente. A dignidade é única e sem igual. Isto por que não se submete a nenhuma lei que não seja instituída por ela mesma.

Na tratativa de configurar o lazer vimos que ele se referia ao poder fazer o que se quer, sem obrigação. Lazer ou ócio é isto: a essência do ser humano que é sua liberdade que lhe dá dignidade. Disso se depreende a máxima de Cícero: “otium cum dignitate.”

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