sexta-feira, 16 de abril de 2021

SAINT-HILAIRE NO BRASIL – Rio Grande do Sul. Selvino Antonio Malfatti.

 





Há exatamente 200 anos que o pesquisador Saint-Hilaire - Augustin François César Prouvençal de SAINT-HILAIRE.-  percorreu o Rio Grande do Sul. E casualmente foi no mês de abril. Na segunda viagem atravessou transversalmente o Rio Grande no sentido São Borja – Porto Alegre, passando pelas principais cidades de São Borja, São Nicolau, São Luís Gonzaga, Santo Ângelo, Santiago e Santa Maria. Hospedou-se, no caminho, nas fazendas por onde passava. Deixou, com muita perspicácia, as observações colhidas.

“O estudioso pertenceu aos primeiros grupos de cientistas, vindos da Europa, para realizarem suas pesquisas e explorações no Brasil Colônia, durante os anos de 1816 e 1822”.(https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaireal)

Neste tempo a corte portuguesa estava instalada na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente todos os seus diários de viagem, estão vertidos para o português.  Grande número de leitores e dedicam-se a pesquisar seus escritos, principalmente sociologia, etnografia e geografia do Brasil. (Wikipedia)

Seu estilo é direto, leve como genuíno francês. Descritivo tanto na paisagem humana como a toponímia, mas também emitindo juízos de valor. Não se perde com interpretações longas e enfadonhas. Os conceitos emitidos sobre a população refletem o pensamento da época. Quando faz uma avaliação comparativa entre negro e índio, inclina-se mais para o negro, pois fisicamente, conforme ele, tem uma compleição física melhor que o índio. O negro, embora minimamente, tem alguma visão de futuro, pois consegue guardar dinheiro. O índio não tem nada, só quer viver o presente.

Acha que o problema da degradação moral da sociedade da época está principalmente a família, devido à promiscuidade das índias no seio das famílias. Diz Saint- Hilaire sobre as índias:

“Vivendo somente no meio de velhos, entregam-se ao primeiro que se apresenta, seja negro, seja branco, e a mais das vezes não exigem retribuição alguma. Diariamente veem-se brancos fazerem caprichos por paixão pelas índias, mas em geral elas são infiéis. E notável que os velhos brancos mostram-se mais apaixonados que os jovens. Isso é devido à insensibilidade moral das índias, às quais os velhos não repugnam como acontece entre as brancas e mesmo no meio das negras. De resto as ligações das mulheres guaranis são sempre funestas. É sabido quanto são perigosas as moléstias venéreas transmitidas pelas índias aos homens de nossa raça, e quase todas as mulheres das a aldeias são portadoras de vírus venéreo”.

A avaliação que Hilaire faz do negro é outra. Vejamos abaixo:

 Os negros, raça tão distante da nossa também, são, entretanto superiores aos índios. Seu juízo não é tão bem formado quanto o nosso. Eles conservam qualquer coisa de infantil em seus modos, linguagem e ideias, mas não são estranhos à concepção do futuro. Tem-se visto muitos adquirirem algum dinheiro.  Mesmo quando escravizados eles não são incapazes de afeição e generosidade. A negra do administrador falou-me, de modo tocante, de seu amor filial. "Meus filhos, disse-me, não precisam mais de mim, mas não há um dia em que eu não sinta saudades de minha mãe, por isso chorando. Meu patrão diz a algumas vezes que deixará esta região e seguirá para o lugar onde ela está. Tenho mandado rezar diversas missas a Nossa Senhora da Aparecida para que ele realize essas boas intenções".

Lavouras e criação de animais domésticos não são muito habituais.  Galinhas, porcos, cabritos, ovelhas, carneiros, marrecos entre outros embora não citados por Saint-Hilaire faziam-se presentes. Há uma parca referência agrícola sobre o trigo. O fazendeiro onde se hospedou, contou a Saint-Hilaire :Joaquim José contou-me que 16 alqueires de trigo lhe haviam rendido cem. O mesmo terreno pode produzir duas vezes por ano e durante seis anos, ou mais sem necessidade de adubação nem de alqueíve.” (Viagem...p. 324)

"O arroz, o milho, o trigo e os feijões dão bem naregião; o algodão produz: de modo regular e a raiz da mandioca apodrece na terra, sendo por isso a colheita obrigatória."(p.334)

A predominância absoluta é o gado. Aliás, ainda hoje há fazendas não têm pomares, nem hortas nas adjacências, e praticamente nada de animais para a subsistência. Isto se reflete na sua cultura. Se prestarmos atenção nos cantos o que aparece são as “gauchadas”, bravuras em laçar animais, presteza em castrar ou abater gado. Nunca se fala em criar algum animal doméstico e muito menos em trabalhos de lavouras. Também está ausente a ideia de progresso, contenta-se com seu rancho à beira-chão, coberto de capim, mas que cabe um amor de china. Também pouco transparece a ideia de família. Ter uma prenda basta. Tudo o que poderia compor uma família ou grupo capitalista está ausente: propriedade, dinheiro, plantações. O único bem é o gado e com ele posteriormente as charqueadas. Esta foi a contribuição empresarial gaúcha.

AS VIAGENS DE SAINTA-HILAIRE:

Roteiro no Brasil:

1.       Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, Cabo Frio, Macaé, Campos dos Goytacazes.

Volta de São Paulo: Rio Piraí, São João Marcos.

2.       Espírito Santo

Itapemirim, Vila da Vitória (atual Vitória), Rio Doce

3.       Minas Gerais

3.1. Primeira passagem:

Barbacena, Vila Rica (atual Ouro Preto), Jequitinhonha, Minas Novas, Rio São Francisco, Sabará, São João del Rei.

2.2. Segunda passagem:

São João del Rei, Vila Rica (atual Ouro Preto), Serra da Canastra, Araxá, Paracatu.

2.3. Terceira passagem (vindo de Goiás rumo a São Paulo)

Aldeia de Rio das Pedras, Engenho de Furnas, Aldeia de Santana (atual Indianópolis), Tijuco, Farinha Podre (atual Uberaba), Rio Grande.

2.4. Quarta Passagem:

Barbacena, São João del Rei, Vila Rica (atual Ouro Preto), Baependi, Serra da Mantiqueira, Pouso Alto, Passa Quatro.

4.       Goyaz (Goiás)

Santa Luzia (atual Luziânia), Corumbá (atual Corumbá de Goiás), Meia Ponte (atual Pirenópolis), Serra dos Pireneus, Córrego Jaraguá (atual Jaraguá), Ouro Fino, Ferreiro, Goiás (município), Serra Dourada, Caldas Novas, Rio Paranaíba.[

 

5.       São Paulo

5.1. Primeira passagem:

Rio das Pedras, Pouso Alto (atual Ituverava), Ribeirão Corrente, Franca, Fazenda Batatais (em Batatais), Fazenda de Lages, Rio Pardo, Casa Branca, Mogi-Guaçu, Rio Mojiguaçu, Mogi-Mirim, Engenho de Pirapitingui, São Carlos (Campinas), Jundiaí, Pico do Jaraguá, São Paulo, Itu, Porto Feliz, Sorocaba, Itapetininga, Itapeva.

 

5.2. Segunda passagem:[19]

 

Cachoeira (atual Cachoeira Paulista), Lorena, Guaratinguetá, Capela de Nossa Senhora Aparecida, Pindamonhangaba, Taubaté, Jacareí, Arraial da Escada (atual Guararema), Mogi das Cruzes, São Paulo, Bananal.

 

6.       Paraná (pertencia a então província de São Paulo)

Fazenda de Jaguariaíba, Fazenda Caxambú, Fazenda Fortaleza, Castro, Campo Largo, Curitiba, Paranaguá, Guaratuba.[17]

 

7.       Santa Catarina

São Francisco (atual São Francisco do Sul), Ilha de Santa Catarina, Desterro (atual Florianópolis), Laguna.

 

8.       São Pedro do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul)

8.1. Primeira Passagem:

Torres, Tramandaí, Fazenda Boavista, Porto Alegre, Viamão, Rio Grande, arroio Chuí.

 

8.2. Segunda passagem:

Rio Butuí, São Borja, São Luís (atual São Luiz Gonzaga), Santo Ângelo, Santa Maria, Rio Jacuí e Porto Algre.

 

Bibliografia:

 VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL :1820 – 1821, Augusto de Saint-Hilaire VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL ( 1820 • 1821) SEGUNDA EDIÇÃO Tradução de Leonam de Azcredo Pena CONHIPANHIA EDITORA NACIONAL São PAULO - RIO - RECIFE – Porto Alegre 1939 p. 311 e 324





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