sexta-feira, 4 de abril de 2025

O pensador e a ciência. José Mauricio de Carvalho

 

Prof. Leônidas Hegenberg.

Este ano comemoramos o centenário de nascimento de  Ele nasceu em 14 de março de 1925, em Curitiba, mas mudou-se jovem para São Paulo, onde se licenciou em Física e Matemática, em 1950, na Universidade Mackenzie e, mais tarde, em 1958, em Filosofia, na USP. Fez o mestrado na Califórnia, na Universidade de Berkeley, entre os anos de 1960 e 1962, e doutorou-se em Lógica pela Universidade de São Paulo no ano de 1966 com a tese Aspectos do problema de linguagem formalizadas. A sua vida acadêmica ele a viveu no Departamento de Matemática do Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA, onde ingressou por Concurso Público em 1959. Este professor nos mostrou o valor e importância da ciência e do pensamento lógico.

Na quinta edição de sua clássica História das ideias no Brasil, escreveu Antônio Paim (1997, p. 213): “no curso da evolução do pensamento brasileiro, o tema das relações entre a filosofia e a ciência assume tal vigor que alguns analistas chegam a supor que esta seja uma questão privilegiada por excelência.” E para isso muito contribuiu Leônidas Hegenberg, autor de obras importantíssimas como as indicadas a seguir (CARVALHO, 2001, p. 307): “Introdução à filosofia das ciências (1965); Aspectos do problema da mudança de linguagens formalizados (1966); Lógica simbólica (1966); Equações diferenciais (1970); Vetores, matrizes e geometria analítica (1970);  Lógica, o cálculo dos predicados (1973); Lógica, cálculo sentencial (1973); Explicações Científicas (1973); Definições (1974); Lógica, simbolização e dedução (1975); Significado e conhecimento (1975); Etapas da investigação científica (1976); Simbolização no cálculo de predicados (1976); Lógica (1977); Dedução do cálculo sentencial (1977); História das ideias filosóficas no Brasil (1978 - coautoria); Textos e argumentos (1978); Dicionário de Lógica (1995), Doença, um estudo filosófico (1998) e Saber de e Saber que (2001).”

No seu livro Explicações Científicas, que usei algumas vezes como texto de apoio à disciplina Metodologia Científica, encontra-se uma síntese de seu esforço intelectual. Nele se explicitam os três grandes questionamentos entorno dos quais ele desenvolveu toda sua atividade investigativa: qual é o papel da ciência, como considerar o funcionamento do mundo e, finalmente, quais os fundamentos da ciência. A última questão é de natureza lógica, incluindo o método, a forma, os modos de pensar, os conceitos básicos e as características das explicações.

Este pequeno artigo é mais que uma homenagem e lembrança do intelectual brilhante, homem afável e de boa conversa com quem convivi décadas. Ele serve para lembrar o quanto seu esforço de uma vida inteira permanece atual e funciona como alerta em tempos em que os avisos da ciência são deixados de lado e onde se acha que vivemos apenas para explorar a natureza e ganhar dinheiro.

A mentalidade moderna assumiu que a natureza estava aí para ser melhorada e para melhor servir ao homem. E assim pode ser, mas hoje sabemos que sua exploração econômica tem limites. E se o controle no mundo moral é essencial, lembrava nosso filósofo Tobias Barreto, mesmo que a escravidão seja encontrada até na natureza, é moral que ele não exista entre os homens. Então se no campo moral a natureza precisa ser mudada a favor de nossa humanidade, quando se trata do mundo da economia essa exploração é necessária mas limitada. A ida além de certo ponto nos colocará em crescente dificuldade e eventuais ganhos num momento serão causa de grandes prejuízos como já nos mostram os eventos climáticos extremos que começamos a enfrentar.

Que os estudos sobre os limites da natureza seja mais que um alerta, que eles funcionem como um guia para as futuras ações da humanidade a favor de nossos netos e descendentes.

 

 

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