sexta-feira, 1 de março de 2019

A ALMA DA EMPRESA. Selvino Antonio Malfatti.






O CAPITALISMO é um modelo econômico, jurídico, político, social e filosófico que, quando parece morrer e extinguir-se, rebrota sempre mais vigoroso. Até mesmo em países que o mataram e sepultaram, ressurge de suas próprias cinzas. Qual a explicação? São várias. Enumero apenas algumas:

1.    É considerado natural, isto é, imanente à natureza humana. Desde que o homem desceu das árvores e andou com suas próprias pernas, instituiu de modo consuetudinário a propriedade, limites da ação individual, obediência a autoridade, estruturas sociais e crença em algo superior a si mesmo. Estes princípios encontra-se em profusão entre os gregos, cuja síntese está no Discurso Fúnebre de Péricles, que invoca a vida, a propriedade, a igualdade em dignidade de todos.

2.    Mais eficiente. O capitalismo crê na supremacia da ação individual sobre a coletiva. Quem dirige sua própria empresa o faz com mais empenho do que um terceiro dirigindo o mesmo negócio.

3.    Autocorreção. Toda vez que necessita de mudanças acionam-se mecanismos internos que corrigem os desvios.

É precisamente sobre este segundo e terceiro aspecto que o livro de Antonio Caladrò versa: “A Empresa Reformista. Trabalho, Inovação, Bem Estar, Inclusão” (L’impresa riformista. Lavoro, innovazione, benessere, inclusione - Editora Bocconi).

O capitalismo, economicamente, abriga o princípio da livre iniciativa e consequentemente o empreendedorismo individual. Acompanha-o a contínua autocorreção e, por tabela, a reforma, a verdadeira alma do capitalismo.

Nos dias atuais qual a necessidade premente da empresa?


Certamente deixar de ser um ente frio e cínico. Um absente na comunidade. Uma empresa convive com seres humanos e deve se submeter aos valores superiores do humanismo. O modelo de empresa ausente aos problemas de seu meio não tem mais guarida, o chamado capitalismo selvagem. Com certeza vêm à mente aos leitores os desastres de Brumadinho em Minas Gerais e da boate Kiss de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Em ambas, a irresponsabilidade das empresas, causou centenas de mortos.


E não se diga que foi por acaso, um desastre natural. Em Minas Gerais teve como antecedente Mariana. Também não se diga que o acaso não poderá ocorrer no futuro. A KINROSS em Paracatu, Minas Gerais, tem 475 milhões de m2, Brumadinho tinha 12 milhões. Compoem seus rejeitos arsênico, cianeto e mercúrio. Se romper, por um século, vai matar a vida do São Francisco até a foz.

Uma empresa atualmente precisa inserir em sua gestão os valores humanos, em que pese estar na era digital e robótica. Deve prover o bem estar de seu entorno físico e social, em que pese ser, nacional, global ou multinacional. Uma empresa estrangeira não pode portar-se como estranha ao meio em que atua e não somente não prejudicar sua vizinhança, como promover seu crescimento. Sempre colocar-se numa posição de respeito às leis, costumes e valores locais e em nenhum momento prejudicar seus habitantes. Os rejeitos devem ter uma destinação não prejudicial à população e nem oferecer perigo para os moradores.

Em síntese:para uma empresa estrangeira, não fazer o que não faria em seu país.

Na questão do trabalho, a nova civilização empresarial necessita prementemente de engenheiros, técnicos, profissionais de padrão, mas juntamente de filósofos, sociólogos, psicólogos, dentro da ideia de que todos os homens são naturalmente filósofos espontâneos. Hodiernamente não faz mais sentidos o dilema entre o técnico-científico e o humanista. Isto por que no científico perpassa o humano e no humano a ciência. Atualmente relacionam-se na economia a robótica, a big data e internet das coisas com serviços hig-tec, pesquisa e cultura. Diz Caladró: “Na economia do conhecimento, o centro de gravidade continua sendo a indústria manufatureira. O coração permanece antigo”.

O núcleo do pensamento de Caladrò é a reivindicação de um capitalismo de modelo empresarial renovado, crítico, que desperte novas responsabilidades perante o mundo ambiental, social e político. Para competir com os mercados globais, deve inovar, sim, e para tanto precisa de pesquisa, de talentos e não atalhos e favores.


O empresariado atual deve alargar sua visão, deixar de praticar ou tolerar a corrupção, de renunciar a competição mesquinha, sair da corda bamba da mentira e falsidade. A empresa renovada deve premiar a cidadania de quem trabalha, estuda, se sacrifica, de quem  luta e não de quem fica em casa esperando que o Estado resolva os problemas sociais. A empresa renovada não quer o álibi da preguiça como desculpa pelo insucesso.

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