sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Uma Década com a Chanceler Frau Angela Merkel. Selvino Antonio Malfatti.


Em 2005 toma posse pela primeira vez como chefe de governo, no cargo de chanceler – na Alemanha equivalente a primeiro ministro - a senhora Angela Merkel, tendo como legado nada mais e nada menos do que Konrad Adenauer. A partir de então, por dez anos consecutivos timoneia os rumos da política alemã com desdobramentos na Europa, no ocidente e outras partes do mundo. Neste primeiro decênio, em meio a crises de todo gênero ela conseguiu colocar uma Alemanha destroçada pela guerra como líder do Velho Continente.
Com efeito, após o fim da II Grande Guerra a Alemanha foi dividida em oriental e ocidental em 1949, porém, pouco a pouco, cada uma delas iniciou uma vida política própria. A oriental praticamente se tornou satélite da URSS, subordinando-se às decisões superiores de Moscou. A ocidental, paulatinamente, retoma a vida autônoma. Nesse contexto, o renascimento dos partidos políticos, na ocidental, ocorreu com as primeiras eleições administrativas em 1946, quando se apresentaram à disputa os democratas cristãos, os sociais democratas e os liberais, permanecendo esses por quase meio século na arena política. Na zona dominada pelos soviéticos, os sociais democratas e os comunistas são obrigados a se fundirem, dificultando a competição para os demais partidos, como os democratas cristãos.
Em 14 de agosto de 1949, realizam-se as eleições na República Federal da Alemanha que dão a vitória aos democratas cristãos sob a liderança de Konrad Adenauer, o qual, em setembro, forma o primeiro gabinete de centro-direita, com os liberais e outros partidos conservadores. Adenauer escolhe para ministro Ludwig Erhard que leva adiante uma proposta político-econômica da economia social de mercado.
Com o democrata cristão Adenauer no governo, no cargo de chanceler, e Erhard como ministro da economia, a Alemanha reingressa no concerto das nações democráticas ocidentais. A União Cristã Social – CDU e CSU – permaneceu hegemônica até 1966, quando se inaugura um governo de coalizão com os sociais democratas.
Do mesmo modo que em outros países da Europa, a partir da década de sessenta, começa o período de decréscimo em termos eleitorais dos democratas cristãos, embora com momentos de recuperação.  A queda maior, porém, ocorrerá a partir de 1998, com a vitória do partido social-democrático e de seu candidato Gerhard Schoeder. Finda então a era de Helmut Kohl, chanceler desde 1982.  E, em novembro de 1999, eclode o escândalo dos “fundos negros”, após a descoberta de uma colossal evasão fiscal. Parte teria ido parar na CDU, liderada por Helmut Kohl. O acontecimento colocou em xeque o próprio partido, deixando dúvidas sobre sua sobrevivência.

Naquela manhã de dois lustres atrás, quando Gerhard Schröder, que havia vencido as eleições dois meses antes, abriu o caixa-forte e entregou para Angela Merkel as chaves da chancelaria. Junto recebeu dois coisas: os presentes de Sílvio Berrlusconi ao seu predecessor e a reforma do trabalho feita por Schröder. Os presentes de Berlusconi tinham pouca importância, mas a reforma do mercado de trabalho foi sendo construído paulatinamente e com pertinácia por Frau Merkel. Como consequência a economia da Alemanha tornou-se uma potência mundial. A antiga garota trazida por Helmut Kohl, logo após a queda do Muro de Berlim, tinha duas qualidades essenciais para a política, aliás, previstas por Maquiavel: sorte (fortuna) e flexibilidade (virtù) com as quais pode resistir às investidas ao poder e tornar-se a líder mais longeva da União Europeia.
Ao mesmo tempo determinada, consegue manter o controle do sistema nervoso. É mais flexível que Schröder ou Helmut Schmidt. É provida de enorme capacidade física, apesar da condição de mulher, mas ao mesmo tempo afasta-se da prepotência, característica esta intolerável num mundo democrático.

Merkel foi forjada na crise. A de 2008 quando liderava um governo de grande coalizão com os sociais-democratas. A do euro e da Grécia em 2010 – 2011, como Chanceler de uma coalizão com os liberais. A de 2015 ainda com a Grécia de Tsipras e Ucrânia. A da massa de refugiados que chegavam à Alemanha, em torno de 850.000 em dez meses. Esta postura com os refugiados ao mesmo tempo lhe causou embaraços, mas também recebeu aplausos ao declarar que a constituição alemã garante aos refugiados de guerra, asilo político. Isto salvou a honra da Europa, mas criou divisões no governo e nos partidos de apoio. Tudo isso em meio a crises bancárias, caso OPEL da indústria automobilística, movimentos xenófobos, o escândalo da Volkswagen, viagens pelo mundo (347 fora das fronteiras), relações tensas com Obama e sobretudo com Putin. Mas ela, impávida, sempre clarividente e segura no que fazia conduzia a Alemanha que, do fundo do poço, chegou ao topo. 

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