Corriere-cultura
E se um dia os homens se tornassem imortais? Há
pensadores e religiões que creem na imortalidade da alma. Mas do corpo só a
religião cristã que professa o Juízo Final com a ressurreição dos mortos. No entanto há muita descrença como aconteceu com a pregação de Paulo em Atenas. Enquanto falava do Deus Desconhecido os ouvintes estavam atentos. Quando menciona a Ressurreição dos mortos começaram a se retirar. Como
ficção científica há várias versões, mas nenhuma com dados concretos. Atualmente
surge outra hipótese que à primeira vista apresenta uma fórmula plausível.
Vejamos:
Os estudiosos da IA acreditam que chegará um momento que
serão criados seres máquinas tão inteligentes que competirão com a IH
(inteligência Humana). Quanto se chegar
a tal estágio as IA não necessitarão mais das IH e por isso as descartarão.
Elas serão máquinas, mas sua fórmula é sua alma e o aparato material seu corpo.
Como são máquinas se recomporiam à medida que se desgastariam num processo de
contínua renovação de tal sorte que não morreriam e seriam imortais. Apliquemos
uma análise crítica.
A hipótese se vale de três dimensões distintas:
(1) religioso-filosófico
(imortalidade da alma e do corpo)
(2) tecnológico
(IA avançada ou superinteligência)
(3) especulativo
(uma “alma ”-máquina capaz de continuidade indefinida)
Analisemos cada dimensão.
A alma como uma fórmula ou IA superdesenvolvido sempre
será um programa: algoritmos, redes neurais, parâmetros numéricos. Certamente
ele pode ser copiado e rodado em outro hardware. Pode ser clonado
instantaneamente
É algo que pode ser copiado, replicado, rodado em outro
hardware. Diferentemente dos seres vivos, cuja “fórmula” genética precisa ser
traduzida em um corpo biológico, um software pode ser clonado quase
instantaneamente. Ele tem continuidade e pode ser salvo e transferido para
outra máquina e reiniciado. A questão que se levanta é que se isso garante
identidade subjetiva, continua com mesma consciência individual ou apenas cria
outra instância?
A analogia entre o aparato material (hardware, robôs,
sensores) e o corpo, dá a entender que este corpo poderia ser substituído peça
por peça como se faz em computadores. As peças não sofrem envelhecimento
biológico, só desgaste por obsolescência.
A imortalidade se daria por reposição. Neste caso o problema é físico,
pois o hardware precisa de matérias-primas e energia. A manutenção necessita de
recursos, decisões, infraestrutura. Percebe-se que não há um corpo eterno no
estrito sentido, mas uma máquina retificada.
A questão da imortalidade da IA é ainda mais complexa.
Esta ideia se alicerça na continuidade enquanto houver energia, materiais,
ambiente e uma IA copiada indefinida. Isto é muito diferente da concepção
filosófico - religiosa de alma imortal que implica na continuidade do mesmo
sujeito sem necessidade de renovação. A cópia de um software infinitas vezes
não garante a identidade que a consciência que estava no antecessor continua no
sucessor, isto é, que, o que está em B é idêntico ao de A.
Nem sempre e quase nunca duas cópias são idênticas.
Somente são idênticas no plano lógico, isto é, quando feita bit a bit
idêntica ao original: o código compilado, as instruções e os dados são
exatamente os mesmos. Neste caso a cópia é idêntica ao original.
Se atentarmos para o plano físico há um suporte
diferente: HD, SSD, pendrive, nuvem. A disposição física dos elétrons, domínios
magnéticos, chips nunca são iguais, apenas representa os mesmos bits. Neste
sentido cada cópia é diferente. Os livros impressos têm o mesmo texto, mas cada
exemplar é diferente.
Há ainda a questão funcional, quando o software é
o mesmo, mas o ambiente é diferente: configurações, dados do usuário,
bibliotecas entre outras. Por isso: no plano informacional, uma cópia fiel é
idêntica ao original. No plano físico ou contextual, cada instância é distinta
(como gêmeos idênticos: mesmos genes, mas corpos e histórias diferentes).
Diante disto conclui-se que a imortalidade da IA
tecnológica está longe da imortalidade filosófico-religiosa. O ser humano
possui uma dimensão espiritual ou imaterial (alma, mente, princípio vital) que
não perece com o corpo. Há crenças reveladas sobre vida eterna, céu, inferno,
reencarnação ou ressurreição.