sexta-feira, 16 de março de 2018

O JUSTO DO SEU TEMPO.. Selvino Antonio Malfatti
















Se buscarmos o ideal de proeminência social entre as diversas culturas certamente serão encontras muitas diferenças. Só para citarmos alguns exemplos: os gregos e romanos tinham como ideal o herói, o cristianismo celebra o santo e os hebreus cultivam o justo. Com efeito, a Bíblia possui 215 versículos que mencionam o JUSTO, 106 versículos que se referem ao SANTO. Por sua vez, Heróis bíblicos estão associados à fé e fora da cultura judaico-cristã louvam a coragem bélica
Da ideia bíblica de JUSTO nasceu em Milão, na Itália, o Jardim dos Justos ou Gardens of the Righteous Worldwide – GARIWO.  O objetivo é fazer conhecer e difundir a memória dos Justos. Entende que a lembrança do bem seja uma ferramenta educativa e serve para dissuadir e prevenir genocídios e crimes contra a Humanidade. A exemplo do cristianismo que possui o Dia de Todos os Santos, o Gariwo conseguiu criar pelo Parlamento Europeu, do Dia dos Justos, celebrado anualmente nem 6 de março.
A atividade tem como suporte instituições, escolas, voluntários, de uma Comissão Científica Internacional e de “embaixadores”.
O fundador do Jardim dos Justos é Gabriel Nissim, intelectual hebreu, animado pela paixão social e senso de Justiça. Concebeu a ideia de promover a figura do Justo, fora do âmbito israelita. Contudo, creditou para si críticas, ressentimentos, inveja, e inimigos, atitudes estas bem contrárias ao Justo.
Evidentemente não é para menos. Quais os critérios para enquadrar alguém como Justo? Valores hebreus, oriundos da Bíblia, que por sua vez é essencialmente hebraica? Por que estes valores podem ser generalizados? E as demais civilizações com seus valores ficam excluídas? As civilizações indianas, japonesas, árabes por que são excluídas? E mesmo a cristã que em alguns aspectos contradizem a hebraica?
Seja como for, no livro O Bem Possível -Ser Justos, defende a ideia do bem no seu próprio tempo. Inicialmente a ênfase da ideia de Justo recai sobre a defesa dos hebreus ameaçados de genocídio. Como por exemplo, Justo foi o vice-presidente da Bulgária, Dimitar Peshev, salvando da deportação todos os judeus de seu país ou Armin Vegner, que por primeiro denunciou o genocídio dos armênios.
Gabriel, todavia, tomou consciência de era necessário o salto do tempo para “aggiornare” o conceito de Justo e adequá-lo aos tempos atuais. É o novo cenário onde se visualiza a internet, das redes sociais, do smartfhone. O foco passou a ser os juveníssimos que não estão mais dispostos a ouvir exemplos nobres, já encobertos pelo mofo do tempo e até mesmo atrelados a conveniências. Diz ele:
“É necessário explicar - diz Nissim - que os Justos não são santos e não são heróis. Os santos pertencem à transcendência e à fé religiosa. Os heróis elevados à categoria de mitos,  de personagens ideais, nos quais cada um de nós, às vezes, se espelhou ou se espelha, sonhando imitações improváveis. O Justo de Hoje, no entanto, pode realmente ser cada um de nós, com méritos, fraqueza e misérias. Mas disposto a ouvir o impulso mais humano. Um desafio que não conhece obrigações ou conveniências, mas responde a um impulso que não pode ser retido "

Até mesmo um “boa vida” como Peshev pode ser Justo, quando contribui para uma sociedade melhor, evitando o genocídio. Ou como aquele muçulmano que salva pessoas dos ataques de ISIS  ou Jihadistas contra o museu de Bardo. Ou como a pobre mulher grega de Lesbo que abre as portas aos fugitivos. Nissim concorda com Spinoza: “um homem Justo não o é por só um dia, mas por toda vida.


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