sexta-feira, 18 de maio de 2018

SOCIEDADE HUMANA VERSUS SOCIEDADE UTÓPICA. Selvino Antonio Malfatti




Às vezes pensamos que as vicissitudes acontecem somente conosco. Que outros países tiveram uma história cor de rosa. Continuamente progredindo sem problemas. Pensamos o caso dos Estados Unidos que foram sempre bem sucedidos e sensatos, as instituições nunca sofreram arranhões. Mas não é bem assim. 

O escritor Walt Whitman (1819-1892) escreveu um livro intitulado: Leaves of Grass (Folhas de relva). Nele afirmava em 1870:
“Pois se acontecesse que a América tivesse que se render à queda e à ruína, o será de dentro para fora, e não de fora para dentro: vejo claramente que as forças combinadas do mundo externo não conseguiriam derrubá-la. O que me alarma são esses partidos selvagens e vorazes: sem outra lei senão seu capricho, cada vez mais agressivos e intolerantes com a ideia de união e fraternidade equitativa, a perfeita igualdade dos Estados. Estas ideias sempre foram dominantes da América: cabe a você não concordar e não se misturar em uma com eles, não se submeter cegamente a seus ditadores, mas mantê-los na posição firme de juízes e cavalheiros sobre todos eles.”
E arremata afirmando:

Por si só não se deve condenar as formulações de políticas ativas que levarão a um beco sem saída. Pode ser que determinadas políticas ativas levem a bom resultado, em que pesem as travessuras de partidos e líderes que mais por projeção pessoal do que por convicção, líderes de inteligência dúbia, charlatães e outros espertalhões. Apesar deles, pode ser que haja acertos e por isso não se pode descartar in limine.

Todos concordam que as consequências da guerra da secessão foram um período crucial, mas fazendo um balanço o período debitou um balanço íntegro segundo os parâmetros vigentes para tais situações.
Em contraste hoje, fins do século XIX, a América vive um período de rapina e de fofocas. Há crentes passivos, diz o autor, que querem demonstrar o próprio desmoronamento moral, a falência do empreendimento nacional, e há os crentes ativos que embora concordem com isso, mas com a diferença de que veem um vislumbre de esperança em uma liquidação apressada do patrimônio cultural.

Whitman acreditava na existência de um substrato democrático que conseguia controlar as piores lacunas da civilização, sito é, o ideal de manter-se sobre a rota certa ou ter a certeza de voltar e reencontrar o caminho certo, uma via nacional melhor e mais sã embora tudo demonstrasse que a política era irredimível.

Whitman dizia que a democracia é uma grande palavra, cuja história ainda estaria por vir por que antes teria que ser vivida. Acreditava com segurança  num espírito supremo da democracia que manteve controlável as piores lacunas da civilização. Com efeito, pode ser que tenha sido este ideal a manter a rota correta, ou insistência em buscar a estrada certa para voltar a uma vida nacional, melhor e mais saudável.

Onde reside o fundamento de uma saúde duradoura que garantiu até agora a prosperidade de progresso da América? Certamente foi o modelo humano e não a Utopia. O bom senso e não elucubrações irrealizáveis. O possível e não o ideal.



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