sexta-feira, 3 de junho de 2011

“NÓS PEGA O PEIXE”. Selvino Antonio Malfatti

O livro “Por Uma Vida Melhor”, da Coleção - Viver, Aprender – para as aulas de português do ensino fundamental - livro este pago pelo MEC – defende como correto um linguajar alternativo, denominado popular. Este fato levantou um clamor nacional, uns a favor outros contra. Para os autores do livro e de uma boa parte dos pedagogos, a língua culta é um instrumento de dominação das elites.  
Defende, por exemplo, que está correto falar “os livro”, “nós pega o peixe”, “os menino pega o peixe”, dependendo da situação. Aliás, os autores acham que, o que alguns consideram errado é apenas uma questão de preconceito linguístico.
Claro que geralmente as regras são convencionais, mas depois de consentidas elas passam a ser gerais. A Itália, por exemplo, depois de unificada, deparou-se com o problema da língua, pois havia dezenas de dialetos falados. A solução foi adotar o toscano. Portugal quando se emancipa de Espanha também enfrentou o mesmo problema e se convencionou que Camões, entre outros, seria o padrão. No Brasil, no período imperial, houve uma tentativa de adotar uma língua brasileira, com José de Alencar, mas se voltou atrás. Nos dois primeiros casos uma convenção se tronou regra geral.
Com efeito, por exemplo, no trânsito, o dirigir pela direita ou esquerda é uma convenção. Mas seria irresponsabilidade e insensatez dizer que se pode dirigir tanto pela direita como pela esquerda, porque as regras foram feitas por uma convenção. Se o guarda o prender ou você se chocar com outros carros não é simplesmente porque eles são preconceituosos, mas é porque houve uma regra pactuada que não pode ser desrespeitada.  
Dizer que as normas gramaticais são obra de uma elite dominante é um sofisma. Mas digamos que seja verdade. Quem é atualmente a elite ou classe dominante? A Teoria Política diz que é o grupo que está no poder, como ensinam os politicólogos Pareto, Mosca e Michels. Segundo este último autor, a elite dominante organiza-se em torno de um partido e a partir dele estende seus tentáculos sobre todos os filiados. A partir do partido é criada uma estrutura de poder que, com mão de ferro, domina o restante de seus membros, prolongando-se sobre a sociedade.
Seguindo a linha de pensamento dos autores do livro didático, se o argumento de que o linguajar correto é um preconceito lingüístico da classe dominante, então terá que ser verdadeiro em qualquer situação. E neste caso quem é a elite dominante que elaborou este material? A conclusão lógica é de que esta elite é que promove o preconceito lingüístico. E por que quererá esta elite manter milhões de pessoas, com linguajar incorreto, sem acesso à universidade, sem progredir na vida, sem autonomia, vivendo das migalhas de peixes atiradas pelo governo, submissos e admiradores dos que estão no poder. É para ter nessas pessoas um eleitorado cativo, dependente. Estas pessoas, mantidas ignorantes ou de linguajar popular, votarão em quem lhes acenar com algum ganho econômico, isto é, “por uma vida melhor.” Neste estado falarão:
- Nois vota no sinhô. O sinhô é um home baum.
Contudo, não são os mais humildes que terão uma vida melhor, mas a elite dominante que está no poder. Esta sim tem e continuará a ter uma vida sempre melhor, até que o povo se der conta que pode e deve falar corretamente e dizer com orgulho:
- NÓS PEGAMOS O NOSSO PEIXE

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