sexta-feira, 29 de novembro de 2019

CECÍLIA MEIRELES E A PROPOSTA EDUCACIONAL. Selvino Antonio Malfatti





O mês de novembro é o 110º aniversário de Cecília Meireles. Nasce -7 e falece 9 - a poetisa, literata, jornalista, contista, teatróloga, folclórica brasileira Cecília Meireles. Sua obra teve abrangência para além do Brasil e recebeu prêmios nacionais e internacionais. 
Cecília Benevides de Carvalho Meireles viveu no miolo do século XX, isto é, de 1901-1964.  Propõe-se a debater alguns tópicos sobre educação através do viés da Escola Nova. Estes pensamentos da autora não é crítica, nem avaliação, apenas exposição de recortes de ideias. Isto porque nem ela mesma pretendeu dar uma sistematização teórica de suas concepções. 

Seu pensamento emerge no torvelinho da política, ora defendo posições, ora atacando outras e, até mesmo, retocando algumas que lhe pareciam incompletas. Não vamos encontrar uma Meireles acadêmica, mas um jornalista polemista, ora na ofensiva, ora na defensiva, mas a maior parte das vezes batalhadora de front, empunhando sua arma de ataque e defesa: a Página de Educação no jornal Diário de Notícias e depois na Folha de São Paulo.

Viveu e escreveu num período politicamente conturbado, a maior parte dele no governo de Getúlio Vargas que não se cansava de inovar no seu autoritarismo. Revolucionário, constitucional a seu modo, ditador e suicida.
Através da espada da Página da Educação, em política exibe a marca mais saliente de Cecília Meireles: sua opção pela democracia liberal. Por isso, de imediato granjeou desafetos entre os partidários do “Sr. Ditador”, entre deles o ministro da Educação e Saúde, Francisco Campos. Entre os católicos, no tradicionalismo da Igreja, que insistia no ensino religioso, mesmo em escolas públicas, Tristão de Atayde. Meireles propunha um ensino universal, unissexual e supraconfessional.

Na organização social combatia a divisão de classes, grupos, o sectarismo e preconceito racial. Defendia o feminismo através do mérito, sem privilégios. A mulher deveria “subir” através de sua capacidade. Da mesma forma, ao exacerbado nacionalismo, próprio da época, contrapunha a fraternidade universal.

Paralelamente à atuação como jornalista combativa, obrava, quase em silêncio, uma professora poeta, que fazia poesia para as crianças, louvava a natureza e meditava misticamente sobre a natureza humana. Cada situação, encontro, viagem, livro era motivo de uma meditação filosófica externada na poesia.

Estas são as duas “cecílias”: a poetisa e a guerreira.
O fenômeno da Escola Nova na educação não foi um movimento isolado no Brasil. No Inglaterra iniciam-se um iniciativas e ensaios no sentido de renovação do ensino. Surgem algumas escolas com o nome de “public-schools”. Não eram instituições oficiais. Eram chamadas de públicas porque mantidas por fundações de interesse geral e recebem alunos de todas as regiões do país, ao contrário das escolas locais. Os dirigentes perceberam alguns defeitos das escolas do seu tempo como convencionalismo, intelectualismo e individualismo e se propuseram a saná-los. Para tanto algumas escolas começaram a mudar sua filosofia como Arnold na Escola de Rugby, Sanderson na Escola de Oundle, este último procurando estabelecer uma harmonia entre a escola e a vida real dos alunos.

No Brasil, a ideia de Escola Nova, incorporou a realidade brasileira, isto é, os problemas específicos, mormente no que se refere o conteúdo e método educacionais. Os principais princípios que norteavam a Escola Nova eram: a laicidade, o publicismo e a coeducação.

Na escola tradicional o conteúdo privilegiava um ensino clássico pelo qual o aluno assimilava, sem participação, o que lhe era ministrado. O método, por sua vez, era formal, isto é, o professor ministrava a matéria e o aluno decorava o conteúdo. Contra isto, Cecília se insurgia. Era preciso inverter, dizia ela. O ponto de partida é o aluno, seus problemas reais, sua circunstância, sua realidade. O método devia ser também a partir do aluno, fazer que ele mesmo construa o conhecimento. Em seu programa, Cecília reivindicava novos estudos afetos à psicologia do comportamento humano. Os grandes responsáveis pela educação, a Família, Igreja e Estado, deveriam propiciar uma renovação educacional.

O ponto nevrálgico, porém, da proposta educativa de Cecília foi a questão da responsabilidade da ação educativa. Para ela, nem o a Família, nem o Estado deveriam ser os titulares, mas a Escola. Isto por que a Escola era o espaço público, por isso a defesa da escola ser administrada pelo Estado, embora houvesse interferência doutrinária e moral da Igreja e da Família. Uma e outra eram responsáveis pela estrutura social vigente ou interferirem na vida pública do indivíduo, apontando-lhe um destino profissional e na vida espiritual, de ordem privada, ao lhe pregar uma moral e uma conduta a seguir.
Além disso, com a transferência da educação para a responsabilidade da escola haveria democratização da instrução, ao contrário do que acontecia até então, quando isto era entregue à Família e à Igreja.
Desta forma o princípio da Escola Nova era a liberdade individual em substituição à autoridade institucionalizada. Em Cecília defrontam-se os dois princípios: o da liberdade, da Escola Nova, e o da autoridade, defendida e praticada pelos católicos. Ambos, grupo de católicos e escolanovistas, creditavam à educação esta tarefa.

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