sexta-feira, 14 de junho de 2013

O RADICALISMO RELIGIOSO E A HOMOFOBIA. José Maurício de Carvalho.













                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    


A recente marcha dos evangélicos em Brasília contra o casamento homossexual e os protestos dos conservadores franceses, inclusive com suicídio na Catedral de Notre Dame, o  pelo mesmo fato não têm a mesma inspiração, a julgar pelo que dizem suas lideranças.  De um lado, os pastores evangélicos condenam o homossexualismo em   nome da família tradicional, de outro as lideranças civis francesas, com apoio dos partidos conservadores, são contrárias ao reconhecimento, pelo Estado francês, do casamento homossexual.  Em comum entre os movimentos apenas o terem sido projetados como manifestações pacíficas e terem descambado para a violência. Mais lá do que aqui, pois muitos franceses partiram para cima da polícia encarregada de manter a ordem.
A diferença essencial no discurso das lideranças é o seguinte. Os pastores defendem a família tradicional porque consideram a homossexualidade uma perversão da natureza humana, uma falta moral condenada nos ensinamentos bíblicos. Os líderes franceses não contestam a opção sexual, mas não querem o casamento homossexual. Não querem porque casamento, pelas leis do Estado Francês, significaria permitir a estes casais o direito de adotar crianças ou tê-las por inseminação (no caso de casais femininos), sem a presença de um pai masculino.
A argumentação religiosa de que a homossexualidade consiste numa falha moral decorre da interpretação linear do texto bíblico (o que é um absurdo hermenêutico) ou de uma antiga visão de natureza humana que remonta à antiga Grécia. Para Aristóteles, a natureza é causa ou essência necessária e para os estóicos ela é disposição que move por si, segundo razões de origem. Esta última escola identifica natureza com a ordem do mundo e deu origem à chamada lei natural de grande importância na Moral e no Direito até o século XIX. Para ambas a humanidade se divide em dois sexos que os corpos trazem definido, além do uso da razão. Deixemos de lado outras concepções de natureza, como a de Plotino, que a toma por manifestação imperfeita do espírito ou ainda o entendimento funcional que a ciência contemporânea tem de natureza, definindo-a como campo de estudo delimitado por seu objeto. O conceito de Aristóteles e dos estóicos considera que tudo o que não obedece a esta ordem essencial é um desvio de sua finalidade. Considerando-se tenha Deus criado o gênero humano, Ele quis que o gênero fosse dividido em homens e mulheres. A homossexualidade é, nesta visão metafísica um desvio da natureza.
Além da razão histórica (aproximação da visão grega), as Igrejas cristãs foram contrárias ao homossexualismo porque, durante séculos, a sobrevivência da humanidade dependia do nascimento de muitas crianças, pois era alta a mortalidade e curta a expectativa de vida.

Contra a visão de natureza acima mencionada, que só se misturou ao cristianismo por circunstâncias históricas que não cabe aqui detalhar, a Psicologia atual mostra que as preferências sexuais têm muito mais a ver com a educação e a identificação com figura do mesmo sexo. Não podemos, com nosso conhecimento atual, precisar matematicamente como as duas variáveis orientam a escolha sexual e se mais alguma atua. A escolha é importante, é claro. Assim, impedir alguém de viver uma escolha homossexual com base na interpretação de natureza dos gregos é, pelo que sabemos hoje, avalio, um daqueles crimes contra a humanidade que historicamente perpetramos (queimar bruxas, perseguir judeus, matar o infiel, etc). Por outro lado, saber precisamente o que ocorrerá com os filhos destes casais não sabemos. Isto significa que se há alguma razão a dar aos conservadores franceses, nenhuma há no fanatismo religioso. Acredito que Cristo não condenaria ninguém pela escolha sexual se vivesse hoje, embora tenha condenado e o faria de novo ao farisaísmo e a ignorância. 


terça-feira, 11 de junho de 2013

MATA. Selvino Antonio Malfatti






Na região central do Rio Grande do Sul, no município de Mata, existe uma das maiores preciosidades geo-paleontológicas. Trata-se de uma mutação de madeira em fóssil. O que antes era um vegetal agora é uma pedra. A penetração da sílica (espécie de vidro) nos vegetais foi um processo vagaroso, de expulsão das substâncias de madeira, que aos poucos vai se cristalizando e conservando as estruturas das células. As plantas fossilizadas em Mata sofreram esse processo chamado substituição, por meio do qual os elementos minerais, carregados pela água de percolação, expulsaram os tecidos da planta. Com isso, a forma externa de vegetal ficou preservada, mas seu conteúdo foi substituído: na verdade, deixou de existir, restando somente sua estrutura. O que existe são pedras em forma de árvores que se fragmentaram por ação basáltica.
Todo este material era considerado um estorvo pelos habitantes até que um vigário, Padre Daniel Cargnin, estudioso da paleontologia lhe dá o verdadeiro valor. Padre Daniel transformou Mata, uma cidade bucólica, semi-agrícola, em centro turístico, passando a ser considerado um “museu a céu aberto”. Com efeito, essa imagem confere com a realidade, pois quem percorre esse pequeno município encontra fósseis de madeira nas praças, nas calçadas, nas ruas, nos barrancos, nos pátios das casas, nos terrenos, nos sítios, nas matas, enfim, as pedras estão em toda parte. Assim como na cidade de Florença, na qual, para onde se olhar se vê arte, em Mata se enxerga madeira fossilizada em toda parte. Mata passou a fazer, de fato, jus ao nome “mata”
Com o advento do turismo, a cidade foi reestruturada para atender à nova realidade: as ruas sofreram um novo traçado. Ergueu-se um hotel com o sugestivo nome de Paleon Hotel. Construiu-se um museu, demarcaram-se sítios arqueológicos, elaboraram-se folders. Criaram-se sites. Foi uma guinada, pois passou de cenário agrícola para turístico.
Neste processo de mudança, a atividade de ornamentação seguiu um plano: dar sentido aos locais, por meio da preservação da madeira fossilizada. Cada praça, rua, gruta ficou contextualizada no todo. E é para esse cenário que os visitantes são convidados a contemplarem: natureza dada por Deus e remodelada pelo homem. Padre Daniel estabeleceu assim, uma simbiose entre o natural, sobrenatural e o humano.
Esta postagem vem a propósito do aniversário de 48 anos de emancipação político-administrativa do município, celebrado em 13 de junho, cuja data celebra-se o Dia de Santo Antônio, padroeiro da paróquia. As duas maiores religiões do município são a católica e luterana, seguidas provavelmente pela Assembléia de Deus. A atividade econômica predominante é a agricultura de arroz e fumo. Em relação às etnias predominam descendentes de italianos e alemães, mas com forte presença lusa. http://www.youtube.com/watch?v=HGhDHnFZOtI

LEI ESTADUAL N ° 4.836,
DE 2 DE DEZEMBRO DE 1964.
CRIA O MUNICÍPIO DE MATA.
ILDO MENEGHETTI, Governador do Estado do Rio Grande do Sul:
Faço saber, em cumprimento ao disposto nos artigos
87, inciso II e 88, inciso 1, da Constituição do Estado, que
a Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono e promulgo a Lei seguinte:
Art. 1° - É criado o novo Município de Mata, com Sede na localidade do mesmo nome, constituído dos atuais Distritos de Mata, Clara e de parte do de Demétrio Ribeiro, todos pertencentes a General Vargas.
Art. 3º - A Câmara Municipal, para o primeiro período legislativo, será constituída de sete membros, que terão concluídos seus mandatos a 31 de Dezembro de 1967.
Art. 4° - Os mandatos do primeiro Prefeito e Vice- Prefeito extinguir-se-ão em 31 de Dezembro de 1967.
Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário
Art. 6° - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 2 de dezembro de 1964.
ILDO MENEGHETTI
Governador do Estado


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