sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O ENAMORAR-SE – FRANCESCO ALBERONI. Selvino Antonio Malfatti.

 






 


O amor morreu? Felizmente não. Apenas, e não foi pouco, seu grande estudioso da atualidade: Francesco Alberoni, apelidado o Sociólogo do Amor. Faleceu em 14 de agosto de 2023, aos 93 anos, em Milão, Itália.

Por toda vida foi alguém dedicado à ciência. Começou coma medicina, da qual se licenciou na universidade de Pavia. Em seguida investe na psicanálise, e para dar um cunho exato às probabilidades dedica-se à estatística. Passou por Trento, Catania, Lausanne e finalmente Milão.

Após a formatura em medicina dedica-se aos estudos dos movimentos coletivos. Disso resultou a obra ‘Statu Nascenti’, a qual dá origem à obra "Movimento e Istitucione", tornando-se obra clássica.  Seguem as produções as obras: Enamoramento e amor, A Amizade, O erotismo, Sexo e Amor, Os Invejosos, Eu te Amo, Público e Privado .

Parece que melhor o caracterizaria seria o estudioso do apaixonar-se, movimento este capaz “de "infundir nos indivíduos uma energia extraordinária",” Esta pode findar, mas o amor permanece.

Por isso, a fatia do social isolado por Alberoni é o enamoramento. O amor é o Genérico, o enamoramento, específico. Alberoni estuda o fenômeno do movimento de enamorar-se. O amor é a continuidade do fenômenos de enamorar-se. Por que pode haver enamoramento sem amor. Este é particular que engloba o geral, o amor.  Portanto, amor e enamoramento são distintos e contínuos.

Neste artigo centramo-nos no enamoramento.

Pode-se interrogar em que condições surge o enamoramento? Quando se está realizado, satisfeito com o que se é e se tem? Ou quando se está à beira do abismo absorvido pelo nada? Quando o desespero toma conta da própria vida? Quando se está aprisionado e sufocado buscando o ar? Quando baixa a cabeça e clama como o Profeta? “De Profundis clamavit a Te Domine”. Quando se está no nada? Tudo é escuridão? No o fim?Sim, conforme Alberoni, pode acontecer estar nesta situação extrema para emergir enamoramento. Mas o mais comum é em dificuldades como:

“Apaixona-se o jovem que sai de casa e enfrenta o mundo, apaixona-se a pessoa que se mudou para outra cidade e tem um novo trabalho, que se depara com a novidade. Apaixona-se quem descobre que está vivendo uma vida árida e vazia demais, e sente queimar dentro de si o desejo de uma felicidade que nunca experimentou.”

O Menos provável é enamorar-se quando tudo estiver às mil maravilhas. Por que apostar no improvável quando se tem o que se desejaria? Ou, por que querer o incerto quando já se o tem o certo? Enamora-se por alguém que pode trazer-lhe felicidade ou mais felicidade.


Ofereço aos leitores os trechos abaixo que podem enriquecer o conhecimento do assunto.

“Porque nos sentíamos insatisfeitos, inquietos, sozinhos, mas também cheios de vida e preparados para um novo encontro, prontos a renascer livres e felizes. O enamoramento explode quando o indivíduo sente-se comprimido, acuado, aprisionado, impedido de expressar as suas potencialidades e então, ao encontrar outro alguém nas mesmas condições, abre-se, liberta-se, desabrocha. Para fazer com que as flores desabrochem é preciso privá-las da água. A planta, diante do perigo, abre as pétalas, espalha o seu pólen e gera nova vida. “Apaixona-se o jovem que sai de casa e enfrenta o mundo, apaixona-se a pessoa que se mudou para outra cidade e tem um novo trabalho, que se depara com a novidade. Apaixona-se quem descobre que está vivendo uma vida árida e vazia demais, e sente queimar dentro de si o desejo de uma felicidade que nunca experimentou.

 

Quando nos apaixonamos?

Quando estamos cansados do passado e prontos a nos mudar, a correr riscos de novo. Porque nos modificamos por dentro, pois o ambiente onde nos encontramos se alterou, porque não nos sentimos à vontade com a pessoa com a qual vivemos, pois não conseguimos realizar os nossos desejos mais profundos e expressar as nossas potencialidades, porque nos sentimos prisioneiros dos hábitos e da rotina, da hipocrisia, do tédio. Mas também já que fomos promovidos, porque alcançamos um sucesso e desejamos realizar sonhos dos quais até então sempre havíamos desistido. Nesta hora procuramos alguém que nos permita saborear uma nova maneira de ser. Podemos, portanto, nos apaixonar com qualquer idade, mas principalmente nos momentos em que a nossa vida dá uma virada. Quando passamos do ensino médio para o superior, quando chegamos à universidade, ou quando mudamos de trabalho ou de cidade, ou ao completarmos quarenta anos, quando começa a maturidade, ou até aos sessenta, aos setenta, quando começa a velhice, mas ainda estamos cheios de vida e de vontade de viver.

 

É verdade que nos apaixonamos nos momentos em que nos sentimos felizes?

Não, não é verdade. Quem está em paz consigo mesmo e com o ambiente que o cerca, quem está satisfeito com o que tem, quem encontra plena satisfação naquilo que faz não se arrisca a apostar tudo apaixonando-se por alguém com quem recomeçar partindo do zero. O enamoramento é uma revolução, e ninguém faz uma revolução se está satisfeito com o que tem. Rebela-se quem possuía alguma coisa que lhe foi tirada, quem almejava alguma coisa e ficou decepcionado, quem era prisioneiro e aspirava à liberdade, quem tinha um sonho e nunca pôde realizá-lo. O amor é um risco, e você não se arrisca a não ser que deseje mudar de vida, a não ser que queira deixar para trás o que já tem.

 

 

 


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