sexta-feira, 23 de julho de 2021

ARMADILHAS DA MEMÓRIA. Selvino Antonio Malfatti

 

Este é o título que os colunistas do Corriere della Sera, DANIELE GATTI E TOMASO VECCHI, deram ao ensaio What is memory. (Daniele Gatti e Tomaso Vecchi nel libro Che cos’è la memoria, edito da Carocci; negli Stati Uniti è uscita la versione in inglese, Memory as Prediction, pubblicata da The Mit Press).

Se fores à Disneylândia e ao sair estás convicto que viu o Pernalonga, com certeza foi enganado pela memória. O personagem não é da Disney, mas da Warner Bros. A memória te pregou uma peça! Ela simula ver coisas que se viu, que se ouviu, que se sentiu e até mesmo mostrando o contrário do que realmente aconteceu, apagando o que se viu além de deturpar a tralidadde ou realçar o que não se viu.

A memória é passível de engano, por mais que relutemos em acreditar. Somos capazes de jurar que vimos algo, embora o local seja adequado. Não gostamos de admitir que a ferramenta que define nossa identidade e nos possibilita orientar, também nos enganar.

È clássico o experimento para provar.

Aos participantes contam a história de um ditador que por causa de sua crueldade levou seu país à ruína. Consta somente o essencial, com poucos detalhes, fácil de lembrar. À metade dos participantes foi dada a informação de que o ditador se chamava GERALD MARTIN enquanto à outra metade foi dito que era ADOLF HITLER. Uma semana depois os detalhes tiveram que ser lembrados. Para surpresa os participantes acrescentaram detalhes que inexistiam na história original, embora coerentes com seus próprios preconceitos. Disseram que Hitler odiava os judeus e os perseguia, o que historicamente é verdadeiro, mas na história original não constasse.

Quais as variáveis que podem alterar a exatidão da memória? O tempo de exposição, 10 segundos ou 20 segundos fazem muita diferença. Não é só isso. As emoções desempenham um papel fundamental. Um acontecimento carregado intensamente de emoção fará com que se lembre com mais ou menos facilidade. Se a narrativa tiver uma arma como ingrediente acionará fortemente sua emoção. O rosto do agressor, por exemplo, pode ser significativo para a memória ou não se lhe tenha causado medo ou não.

Se estes estudos forem transferidos para o campo do testemunho jurídico? Podem ser confiáveis ou não? Até que ponto uma testemunha merece crédito de suas lembranças? No caso de memórias autobiográficas a confiabilidade aumenta. Onde você estava, por exemplo, quando em 2014 a Alemanha derrotou o Brasil por 7X1? O tempo transcorrido entre um acontecimento e outro pode influir nos detalhes. Geralmente quanto mais tempo passado menos detalhes a memória lembrará.

Surge a pergunta: as emoções melhoram ou pioram a qualidade da memória? Os autores, GATTI E VECCHI, explicam que não podem ser adotados critérios unilaterais. Para tanto, é preciso aplicar a lei de LEI YERKES-DODSON (A lei de Yerkes-Dodson estabelece uma relação empírica entre excitação e desempenho.) Isso é um alerta neurofisiológico. Pode-se tomar como parâmetro o desempenho de alunos nas provas. Se eles estão muito excitados ou pouco o resultado é pior.  Portanto, o grau médio é o melhor resultado. Dizem os autores Gatti e Vecchi:

“Enquanto nos lembramos de quem fomos, sem saber, já estamos decidindo quem seremos amanhã”

 

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