sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O FILÓSOFO GIANNI VATTIMO. Selvino Antonio Malfatti.

 



Faleceu com 87 anos, o filósofo Gianni Vattimo. Nasceu em Turim em 4 de janeiro de 1936 e faleceu no dia 19 de setembro deste ano.

É reconhecido na  filosofia da hermenêutica e considerado pai do “pensamento fraco”. É uma postura filosófica sempre aberta às várias interpretações, nunca se fecha para uma única visão.

Santo Agostinho concebeu uma visão apocalítica da História que vai ao encontro: do em vez das trevas a luz, Deus, uma parusia ; enquanto Vattimo, na esteira de Teilhard de Chardin, também vai encontro do melhor, do ótimo a partir do pior, do péssimo, do menos para mais. Ambos chegam à mesma conclusão: a parusia. O primeiro pela fé e o segundo pela ciência.

O ponto de partida da modernidade foi que “Deus está morto”.  Assim como os antigos partiram do fato de que “os deuses nos abandonaram, por isso nós mesmos temos que construir a Cidade”. Na modernidade, a conclusão é que precisamos Dele, restaurar sua presença , não mais no Triunfo, mas na queda, na morte, na linha dos filósofos cristãos do século XX e XXI: Karl Barth, Thomas Merton, John Murray,  Karl Rahner,  Karol Wojtyła e Gianni Vattimo entre outros. No pensamento moderno, o "Deus está morto", evoca uma memória de que Deus ao morrer continua no horizonte. Isto significa que o que morreu ou deveria estar morto é o orgulho do Triunfo. Deus está morto, mas presente em todo progresso humano e o processo do progresso. O que está morto é a Certeza, a Convicção, tudo o que é Absoluto. O que permaneceu é aquele sinal no horizonte que nada é único. A verdade sempre está diluída, nunca concentrada. Nunca uma parcela da humanidade pode falar em nome de Deus. O mundo do Cristo Rei era um mundo sagrado, até mesmo obras  humanos eram consideradas divinas, intocáveis, inclusive edifícios civis.  O mundo do Deus morto, pendente de uma cruz, é o símbolo da despedida da humanidade deste mundo morto. A Morte de Deus não é para entronizar o Homem, mas sepultar  o orgulho, a ganância e vontade de poder tudo. Em vez disso, tomar consciência do frágil, histórico, interpretável, conforme os filósofos Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Gianni Vattimo. Não existem fatos, apenas interpretações.

 A crença no progresso absoluto é a euforia do bacanal antes do naufrágio. Vivemos sem fundamentos, numa areia movediça que pode engolir a humanidade a qualquer momento, quando se descobre que ela se baseia no nada, apenas uma das infinitas possibilidades da História, sem razão. O verdadeiro caminho que espera a Humanidade é o da liberdade, sem absolutos, nem muros nem de Jericó e nem de Berlim ou da Cisjordânia.  

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