sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A MORTE DO JORNALISTA: UM FOGUETE NA DEMOCRACIA. José Maurício de Carvalho


Acaba de ser anunciada a morte do jornalista Santiago Ilídio Andrade, trabalhador premiado e funcionário da Rede Bandeirantes de Televisão. As entidades de classe que representam a profissão pressionam as autoridades para encontrar e punir os culpados. E têm razão na indignação contra os assassinos do jornalista que devem ser punidos como manda a lei.
Nenhuma sociedade civilizada pode conviver com o assassinato de seus membros. Todo cidadão honesto e trabalhador colabora no funcionamento da coletividade e os membros da sociedade não são isolados em sua liberdade. Embora únicos como pessoas são partes de entidades e integram grupos sociais que são afetados com sua presença. O grupo mais atingido, no caso, não foi o sindicado dos jornalistas com a perda do colega, ou a Rede Bandeirantes que ficou sem seu cinegrafista, mas a família do jornalista, destruída que foi de forma brutal. Na família Santiago Andrade não será substituído.
O jovem Fábio Raposo, identificado e preso, quer agora livrar-se da culpa, como se sua ação de distribuir rojões e participar do Black Bloc não tivesse sido fotografada e filmada.  Raposo, não estava ali por acaso, ele já foi identificado em outras manifestações igualmente violentas no Rio de Janeiro. Com o medo que é próprio nas cidades brasileiras seus vizinhos mostraram a marca que ele pintou no prédio (mais essa) em apologia às ações do Black Bloc. Cidadão pacífico? Manifestação democrática? Não há qualquer consistência na história que ele contou, não há manifestação cidadã no que ocorreu. O inesperado é a admiração que revela com o resultado do que fez porque, antes certo e confiante na impunidade, agora tem contra ele a imprensa brasileira a cobrar punição das autoridades.
O certo é que as manifestações que desde o ano passado alastraram-se pelo país, salvo exceções, não são pacíficas e não são democráticas como ocorrem nas sociedades livres. Nelas as manifestações são informadas às autoridades, têm hora para começar e terminar, são acompanhadas pela polícia que está ali para proteger os manifestantes e assegurar o seu direito de expressar livremente a opinião. Nada disso ocorre nos atos de baderna explícita e violência generalizada que aliás já provocou a morte de outras pessoas. Infelizmente não eram jornalistas e a morte delas não causou a mesma comoção. Elas se tornaram parte da estatística de violência que todos os dias assistimos consternados nos telejornais.
Isto não significa que não exista pessoas realmente interessadas em melhorar o país e que participaram de manifestações. Contudo, o cidadão bem intencionado já deve ter se dado conta de que apenas está funcionando como figurante e cortina de fumaça de atos orquestrados e combinados por grupos políticos radicais e violentos. Se realmente quer o bem do país tal cidadão já está pensando em outra forma de fazer chegar seu desagrado às autoridades.
O que conseguiram Fábio Raposo e seus colegas do Black Bloc foi tirar do foco o debate sobre o aumento das passagens. Não significa que o aumento não seja necessário, mas um governo sério deve informar as razões do aumento e ser capaz de explicá-lo em qualquer instância e cidadãos que usam o serviço coletivo precisam ser capazes de dialogar e entender os problemas. A imposição pela força do interesse de um grupo, qualquer que seja, ainda que aparentemente justo, não é próprio de sociedade democrática e muito menos consiste em manifestação cidadã.
Espera-se que a morte do jornalista sirva para que sociedade e o governo reflitam sobre o que está acontecendo no país, pois a violência não é ato de criação social, não é expressão legítima dos interesses de grupo, mas um ato de força que desafia o Estado. O que essas manifestações e a morte do jornalista estão mostrando é que além de funcionar mal: oferecer serviços ruins, infra-estrutura precária, as autoridades brasileiras não distinguem liberdade de expressão de imposição violenta de interesses. Não parece ser para deixar sair livremente os instintos agressivos e violentos que tanto se lutou pela democracia no país.

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