sexta-feira, 21 de junho de 2019

Vitor Frankl e a psicologia do sentido. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei


Viktor E. Frankl viveu o século XX e suas dores, quer quando foi prisioneiro nos campos de concentração nazista, quer quando fez clínicaComo outros psiquiatras daquele tempo se aproximou de Max Scheler, Martin Heidegger e Martin Buber e trouxe as lições da filosofia existencial para a psiquiatria. Ele se tornou então um dos representantes da chamada psiquiatria existencial. Sua proposta psicoterapêutica o tornou conhecido em todo o mundo como o criador da terceira escola de Viena, depois da de Freud e Adler. Voltada para o enfrentamento dos problemas de uma sociedade de massas sua psicoterapia é especialmente ajustada para tratar questões fundamentais de nossos dias: a depressão, o suicídio, a drogadicção, a violência, associadas ao que ele denominou neurose noogênica.  
Diante das dificuldades do homem de hoje ele se indaga se seria possível “dar um sentido ao homem de hoje, existencialmente frustrado” (p.23)Seus estudos mostraram que o sentido não pode ser criado nem dado, ele está no sujeito precisa ser descoberto por eleO sentido é singular, cada pessoa tem o seu. 
 No livro “O sofrimento de uma vida sem sentido: caminhos para encontrar a razão de viver”, Frankl examina as neuroses atuais e o sentimento de vazio existencial que está na raiz delasEssa forma se sofrimento generalizou-se, porque o homem perdeu referências tradicionais que o orientavam e não vive apenas guiado por seus instintos. Então o homem contemporâneo desenvolveu aquela atitude comum na sociedade de massas: ele fará o que os outros querem que ele faça ou se comportará como todo mundo. Nos dois casos estará propício a desenvolver uma nova neurose. Frankl a denominou neurose noogênica, situando sua origem nos “conflitos de consciência, colisão de valores e frustação existencial” (p.11). Frankl comenta nessa obra os detalhes de uma psicoterapia do sentido.  
Na final dessa obraFrankl diz que toda psicoterapia é fundamentada numa antropologia e por isso, critica a psicanálise que não enxerga o homem como construtor de valoresEle observa que uma teoria que trata a cultura como sublimação de instintos, nega ao homem o irreprimível direito de significar a vida. Assim, explica que ao psicoterapeuta cabe, em algumas situações, “desmascarar e desvendar”, mas isso cessa diante do autêntico ou o sentido, pois “a última coisa que a psicoterapia pode permitir-se é ignorar a vontade de sentido” (p. 97). 
A leitura da obra ajuda a entender a principal contribuição de Frankl para a psicoterapia, a importância de se ter um sentido na vida, sentido, buscado no dia a dia de forma concreta, mas que se abre para questões de espiritualidade ou de um super sentido. Dessa forma, Frankl não apenas revisa a tese freudiana de que a religião era um comportamento neurótico, como antecipa conclusões de pesquisas contemporâneas sobre a relação entre espiritualidade e saúde, estudos que demonstraram que professar uma religião, está associado a menor prevalência da depressão, de tentativas de suicídio, drogadicção e a baixos índices de estresse e ansiedade. E ainda mais, que se abrir a assuntos ligados ao espírito, incluindo os valores produz benefícios de bem estar, como saber lidar com o sofrimento, aumento da autoestima, esperança, felicidade e otimismo. 

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