sexta-feira, 26 de julho de 2019

TIENANMEN – TRINTA ANOS DEPOIS. Selvino Antonio Malfatti.




Já são passados  trinta anos  do Golpe da Praça Vermelha em Pequim. A situação da China em 1989 poderia ser comparada a uma República capitalista, só que ao inverso. Num ambiente tal, capitalista, haveria uma classe incrustada no poder. Seria uma elite política atuando com repressão e corrupção, obrigando o povo ou algum segmento, a rebelar-se. Isto normalmente aconteceria num regime capitalista ditatorial.

Na China aconteceu a mesma coisa, só que o regime era socialista, o segmente incrustado no poder era uma nomenclatura do partido que excluía as classes menos privilegiadas, agiam patrimonialmente em relação à economia, misturavam o bem público com o privado, sufocando de tal maneira as liberdades das minorias que obrigou o levante popular através dos estudantes e intelectuais, oriundos de diversos grupos. Os intelectuais entendiam que o Partido Comunista era demasiado repressivo e corrupto, os trabalhadores urbanos, operários, cansaram de esperar pelas reformas e estavam angustiados pelo alto índice de desemprego. O estopim da revolta iniciou com o falecimento de  Hu Yaobang, líder da República Popular da China. Era considerado protetor dos intelectuais e dos defensores de uma abertura do regime comunista chinês. Propunha também uma distensão econômica. Acenava para um culto racional, e não cego, ao líder da República Popular, Mao Zedong. Naquele início de junho, de três para quatro, a capital chinesa virou um inferno. É que o Partido Comunista decidiu transformar em ação as ameaças que vinha fazendo há algumas semanas numa mesma intensidade em que aumentavam os protestos de estudantes e cidadãos. Foi literalmente um massacre covarde de uma população pacífica e indefesa. Foram horas de horror dantesco na Praça de Tiananmen, fazendo jus ao nome de Praça Vermelha.

Os protestos atingiam no centro de Pequim, o coração da China, desde a Cidade Proibida ao Norte, o Grande Salão do Povo ao oeste, o mausoléu de Mao, tudo foi tomado pelos estudantes universitários. Bandeiras, barracas, estandartes, transformou-se num mar de sangue pelo exército do governo. Foi uma longa noite, pior que a de São Bartolomeu. Foram centenas de milhares de cadáveres espedaçados, pendurados, esvaindo-se em sangue. Quantos morreram? Ninguém sabe. O cérebro do governo perdeu a memória, uma amnésia repentina e geral, depois que os tanques limparam a praça da Paz Celestial.

Ainda hoje, o 4 de junho, é proibido de ser mencionado. As jovens gerações não sabem o porquê. Se alguém tentar, a censura digital bloqueia tudo. E à medida que os mais velhos dos Delegados da Assembleia do Povo são substituídos pelos mais jovens, a memória se torna sempre mais embaçada e chegará ao olvido para sempre. 

Este acontecimento traz à mente as palavras de Yosef Hayim Yerushalmi referindo-se aos campos de extermíno: 

"...os assassinos da memória, os que misturam tudo o que aconteceu em nosso tempo, falam de um indistinto "século da barbárie" e acabam colocando no mesmo plano as vítimas e os verdugos ou negam a existência dos perseguidos e seus algozes..."




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