sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ortega y Gasset e viver como atividade desportiva. José Mauricio de Carvalho






Os jogos olímpicos nasceram na Antiga Grécia. As primeiras disputas, realizadas em homenagem a Zeus, o Deus dos deuses do Monte Olimpo, datam de 2500 a. C. Entretanto, as primeiras olimpíadas, com participação das principais cidades-estados do mundo grego (Atenas, Esparta, Delfos, Ítaca, Tebas Eleusis, Samos, Lesbos, Pérgamo, Éfeso, Mileto) datam do ano 776 a. C. As olimpíadas eram, naquele momento, uma celebração importante, elas davam notoriedade aos atletas vencedores e projetava suas cidades.
Vencer as olimpíadas era demonstração de vigor físico e destreza, qualidades fundamentais entre os gregos. Por isso os vencedores dos jogos eram homenageados com a coroa de louros e o reconhecimento público de que eram agraciados e favorecidos pelos deuses. Os gregos se identificam com a polis a que pertenciam e como representantes delas, entregavam-se completamente, de corpo e alma, até o limite extremo de suas forças, às disputas e na preparação para os jogos. Vencendo eles se tornavam reconhecidos em suas cidades e pouco coisa contava mais que isso para o grego.
Os jogos eram tão importantes que guerras eram interrompidas, rivalidades esquecidas e tréguas estabelecidas no período de sua realização. As Olimpíadas celebravam a vida, os deuses, a beleza física e a inteligência gregas.
Com a invasão da Grécia por Roma, por volta do século II a. C., os jogos, associados ao culto dos deuses gregos foram proibidos. Eles somente foram retomados, muitos séculos depois, já na era moderna, em 1896, organizados por Pierre de Frey, Barão de Cobertin.
Os jogos do Rio de Janeiro estão permitindo aos brasileiros acompanhar mais de perto as disputas olímpicas e a dedicação dos atletas. As disputas, guardadas as diferenças dos tempos, continuam a assegurar aos vencedores o prestígio em suas nações e aos países vencedores o reconhecimento internacional. Os atletas olímpicos que ganham medalhas são cumprimentados e referenciados pelos seus governos. E, aproveitando a imagem do atleta olímpico, recuperamos a metáfora utilizada pelo filósofo espanhol Ortega y Gasset para dizer de que modo devemos viver desportivamente.
O que a vida mostra? Primeiro ela é o encontrar-se, é o ser transparente para si próprio. O viver não é distante para quem vive, ao contrário, é próximo. E o que é mesmo a vida? Vida é o que fazer, ou o que escolher, é traçar o rumo do existir entre as inúmeras possibilidades delineadas pelos limites. Limite é o filósofo traduz por circunstância, que é outra categoria fundamental para entender a vida, como ele diz em O que é Filosofia? (1971, 184): “Não se vive num mundo vago, já que o mundo vital é constitutivamente circunstância, é este mundo, aqui, agora”. Minha vida é um encontro com a situação concreta onde estou e a partir da qual tenho que fazer algo para continuar vivendo. Estando mergulhados nela, nosso olhar se lança para o futuro, ele direciona para o que buscamos. Estou, pois, mergulhado na circunstância, mas isso não significa que ela seja o ponto de chegada. Viver é o desafio de alterar a circunstância, de modificá-la para dar sentido à minha vida. E Ortega queria que a essa tarefa os homens se entregassem inteiramente, como fazem os atletas olímpicos quando disputam as provas. Do contrário, a vida parece sem graça e insatisfatória.

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