sábado, 4 de abril de 2015

UM MUNDO SEM VIOLÊNCIA: REALIDADE OU ILUSÃO? Selvino Antonio Malfatti.




É antigo o sonho de um mundo sem violência. Esta esperança está registrada na literatura, como a República de Platão e Utopia de Morus, mas principalmente nas religiões universais como o cristianismo e budismo. Em contraposição há também uma crença da perpetuidade do conflito como Heráclito entre os gregos e Maquiavel dos modernos. Dentre as religiões de cunho bélico se poderia citar o islamismo e judaísmo.
No mundo atual pode-se invocar o psicólogo evolucionista Steven Pinker (O Declínio da Violência) e o filósofo Peter Singer ( O melhor que se pode fazer). De acordo com eles estamos vivendo a era menos belicosa de história e o futuro nos reserva o pacifismo e o altruísmo. No entanto, o filósofo inglês, John Gray, sustenta exatamente o inverso: esta visão é fruto do mito do progresso que não tem fundamento na realidade.
A quem dar crédito? Ao que parece a tendência civilizatória é um dado irrefutável, embora não tenhamos nenhuma garantia de retrocesso. O verdadeiro mito é a saudade do passado sem se dar conta do que de fato aconteceu. Nas guerras tribais, por exemplo, morria 25 por cento da população. A conquista mongólica da China teve 60 milhões de mortos e não foi mais por que chegaram à conclusão que era mais vantajoso explorá-los do que matá-los. No ocidente a tortura era considerada normal, e hoje em dia se faz, mas às escondidas. Serravam-se pessoas vivas, inclusive diante das crianças por motivos pedagógicos. Hoje em dia o suplício público foi banido. É pouco, mas já é um avanço. Às vezes até parece que não existe. Se de fato a razão evitasse a violência não teríamos conhecido o Shoab alemão e nem o Gulag russo. É bem verdade que diminuíram sensivelmente as guerras entre Estados, mas cresceram conflitos endêmicos cruentos nos quais se perdeu a distinção entre civis e militares.
De ambos os lados os argumentos pretendem ser científicos, mas na realidade também ambas as posições são ideológicas.  A posição liberal diz que o melhor seja um Estado mínimo, ausente, para proporcionar o maior espaço individual. Isto favoreceria o autocontrole e, por empatia, reduz a violência. A posição intervencionista defende o contrário. A presença do Estado inibiria a violência e daria segurança à coletividade. A realidade desmente a ambos.
O capitalismo liberal segrega e descarrega os que não são assimilados pelo sistema. É como uma centrífuga: seleciona e incorpora e, ao mesmo tempo, descarta e expele. A violência está neste jogo de seleção e descarte. O socialismo não seleciona nada e todos continuam na mesma situação, daí para pior.  O programa habitacional da revolução soviética é um padrão: em vez de mais moradias, o empilhamento de famílias nas moradias existentes.
No entanto, qual deles poderia proporcionar o fim, ou ao menos, a redução da violência? Teoricamente seria aquele projeto que se absteria de intromissão na vida privada. Dissemos teoricamente. O outro projeto que se comprometeria proteger a vida coletiva, não dá nenhuma garantia à vida privada e, portanto, também teoricamente, seria o menos apto a proteger-se contra a violência.
Apesar dos pesares, a ética que pode diminuir e efetivamente diminui a violência é o respeito ao ser humano. Portanto, a cima das ideologias políticas, há a postura ética: a dignidade da pessoa, cujo ideal vem dos gregos, recebe contínuos aperfeiçoamentos através dos tempos. Esta sim, a ética da dignidade, se mostra apta a diminuir a violência.




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