sexta-feira, 6 de setembro de 2013

RELAÇÕES CULTURAIS BRASIL-PORTUGAL. Selvino Antonio Malfatti.



Nos dias 9 a 13 de setembro será realizado na Universidade Federal de São João Del Rei o X Colóquio de intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal. Esta idéia nasceu quando, após a Revolução dos Cravos em Portugal, em 1974, a situação radicalizou-se e vários intelectuais das universidades portuguesas tiveram que fugir do país e vieram para o Brasil. Dois deles merecem destaque pela importância de atuação que desenvolveram no Brasil: Marcelo Caetano e Eduardo Abranches de Soveral. Nasceu deles, juntamente com brasileiros, um projeto ambicioso: descobrir nexos culturais entre Portugal e Brasil ao longo de sua história. Foram organizados colóquios  - em número de 10 em Portugal e 10 no Brasil, um aqui e outro lá alternadamente.  Assim se expressa um dos líderes brasileiros deste projeto, Antonio Paim:
“Coube a Eduardo Soveral (1927/2003) estruturar no Brasil o estudo sistemático das relações entre pensadores brasileiros e portugueses em determinadas esferas do saber. Sua ambição era, em cada ciclo histórico, sermos capazes de identificar eventuais laços, explícitos ou apenas implícitos, entre os pensadores em causa, num espectro bastante amplo, para incluir a filosofia geral, o pensamento político, a filosofia da educação, do direito, etc.
Tanto o prof. Miguel Reale (1910/2006) como Luís Washington Vita (1921/1968) davam-se conta da importância de termos presente a nossa origem lusitana e cuidaram de estabelecer relações com estudiosos portugueses de seu tempo. Contudo, investigação de caráter sistemático fizemo-la sob a paciente orientação de Soveral, durante cerca de dez anos. Nesse período, praticamente demos conta do confronto em matéria de filosofia. Ainda que se tornasse patente a diversidade de interesse quanto aos problemas teóricos preferentemente desenvolvidos, o norte era visivelmente idêntico: privilegiar a investigação de caráter ético. Quanto ao confronto em matéria política, o fizemos por nossa conta e risco, partindo do reconhecimento de que era flagrante a influência recíproca. A proclamação da República no Brasil serviu como ponto de referência para que em Portugal também se chegasse ao fim da monarquia. Lá, como cá, tivemos Primeiras Repúblicas de inspiração positivista, ambas conduzindo a idêntico desfecho autoritário, por sinal, com o mesmo nome (Estado Novo), embora de fundamentação teórica assaz diversa. Os estudos então efetivados serviram para sugerir que, no ciclo anterior, também terá havido fenômeno análogo; o Regresso brasileiro seria uma das fontes da Regeneração portuguesa, neste caso dispondo muito provavelmente de idêntico fundamento ideológico: o liberalismo doutrinário.” (Atas do IX Colóquio - UFSJ).
A introdução ao projeto lembra que:

Cabe recordar que o esforço de aproximação entre as filosofias brasileira e portuguesa data dos anos sessenta, então desenvolvido, do lado brasileiro, pelo Professor Miguel Reale e, do lado português, pelo Professor Antônio Braz Teixeira. Dois grandes iniciadores do diálogo foram o brasileiro Luís Washington Vita e o português Antônio Quadros, ambos desaparecidos. Seguiu-se a presença no Brasil dos saudosos professores portugueses Eduardo Soveral, Francisco da Gama Caeiro e Afonso Botelho, todos igualmente falecidos. Tudo isto é permitiu, com vistas à continuidade dos trabalhos, a criação do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, sediado em Lisboa, atualmente presidido pelo Professor José Esteves Pereira, que reúne pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e portuguesas.(José Maurício de Carvalho - Coordenador)

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