sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

OS JOVENS NUMA SOCIEDADE LIQUIDA. Selvino Antonio Malfatti




Está ressurgindo atualmente pequenos estratos, mormente religiosos, como os evangélicos que tentam viver uma realidade de um passado, como seguir os ensinamentos bíblicos ao pé dá letra. Poder-se-ia exemplificar com a moda, alimentação, aspectos físicos. Quando se propõe a questão de consumo de bebida alcoólica, por exemplo, remete-se para À Carta de Timóteo:
“Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma [só] mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho”. (I TIMÓTEO  3.2-3)
Com isso, o consumo de bebida para estes grupos fica vedado. Vivem uma realidade do passado. Mulheres deixam os cabelos longos, vestidos fora do padrão. As músicas escolhidas são gospel. São grupos fechados dentro de grandes grupos e sua influência política depende de dirigentes que adotam tais orientações. Na contraface da moeda visualizemos os jovens atuais vistos por Bauman em "Nascidos em Tempos Líquidos".
Como os jovens se portam numa sociedade líquida? Pode-se partir das manifestações externas, como tatuagens, cirurgias plásticas ou hipster. Os “jovens são a fotografia dos tempos que mudam”. Eles refletem com fidelidade aquilo que fomos e por isso os amamos e aquilo que não pudemos ser, e por isso os odiamos. Nós somos o que as circunstâncias nos fizeram e os jovens são o que as circunstâncias deles os fizeram. Perante os jovens somos cadáveres vivos e eles com certeza são cadáveres em potencial. Por isso que quando nos deparamos nos olhamos estranhamente: parece que conhecemos e parece que nunca os vimos. E estas mudanças se refletem nas transformações que deixamos marcadas no corpo. O homem em todos os tempos nunca quis deixar seu corpo como é. Sempre o estigmatizou com algum detalhe. Basta observar os indígenas o que fazem com seu corpo: pintam, deformam, mutilam, tudo isso para externar o sentimento de pertencimento e identidade, mas também é uma tática para invadir a esfera pública e implantar um modelo universal, mas que logo aí é contestado por outro.
Analisemos o bullyng. Existem três estágios percorrido. O primeiro, o indivíduo é separado da comunidade, são os ritos preliminares. O seguinte é a marginalidade ou liminaridade, com a suspensão do status social. O indivíduo entra num limbo, pois não é nem comunidade nem individualidade. Neste estágio o indivíduo torna-se perigoso por que pode criar um nova comunidade. O terceiro estágio é o pós-preliminares, pelo qual o paciente de bullyng volta para seu habitat, mas como homem novo.  Este é o bullyng pacífico pelo qual a vítima passa como uma normalidade do convívio social.
O desenvolvimento para o qual evolui é o retorno da violência, da coerção e da opressão na resolução dos conflitos, em detrimento do diálogo e do debate, voltados para a compreensão recíproca e a renegociação do modus co-vivendi. Considero que, neste desenvolvimento, um papel importante foi, é e continuará sendo exercido no futuro próximo pela nova tecnologia da comunicação medita; não como sua causa, mas como sua crucial facilitadora. 

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