sexta-feira, 1 de outubro de 2021

UNIVERSIDADE DE PENSAMENTO CRÍTICO E LIVRE? Selvino Antonio Malfatti.

 


             Reitor -Franco Anelli - Corriere


A Universidade Católica do Sagrado Coração, de Milão, completará em dezembro próximo cem anos. Emersa de um grupo de intelectuais liderados pelo Padre Agostino Gemelli, em 1921, com o objetivo de trazer de volta ao país o debate cultural, leia-e humanista. Atualmente atinge uma dimensão de cinco localidades, quase quarenta mil alunos e doze faculdades.

Para o reitor Franco Anelli o novo objetivo após os cem anos é “formar alunos capazes de elaborar um pensamento crítico e, portanto, livre”. E mais: “criatividade, pensamento critico. Para a universidade, o futuro é agora”.

Grandes líderes políticos frequentaram a universidade católica. Ainda se continuam presentes como o presidente da República Sergio Mattarella que nesta data inaugura o presente ano letivo. Dentre as pessoas de destaque podem ser citadas: Romano Prodi, Lorenzo Ornaghi, Amintore Fanfani, Ciriaco de Mita entre outros.

É a maior universidade privada da Europa e do mundo em número de inscritos. Pelo sistema internacional de classificação foi-lhe concedido cinco estrelas em: empregabilidade, ensino, instalações e engajamento.

Três pensamentos constituem o “Leitmotiv” da universidade projetada para o futuro conforme Franco Anelli: crítica, criatividade e liberdade. Pela crítica pretende-se chegar à ordem superior, originária à própria etimologia da palavra: separar e distinguir. No momento que se tiver diante de si o pensamento claro, será possível ser criativo e eleger as alternativas que se considerarem melhores e com isso ser livre.

O próximo passo, para enfrentar o futuro, será introduzir a diversidade diferenciando-se do passado. Aos docentes será possibilitado o acesso de ferramentas tecnológicas, mantendo o cuidado de não se preocupar como usar as ferramentas, mas usá-las no serviço da inovação e construir cursos de formas diferenciadas.

Outra mudança que deverá advir é a respeito dos conteúdos, isto é, o quê ensinar. Para tanto é preciso introduzir uma nova interpretação da realidade. O século XX já é passado, agora temos uma sociedade fundada no digital, novos objetos de troca, processos novos de tomadas de decisões e consensos, inclusive novo acesso aos cargos políticos. Novas realidades devem ser compreendidas e para tanto novas habilidades serão construídas. Devemos lançar o desafio da perspicácia para perceber o que ofertar para a nova realidade. Entender o que está por vir e ofertar habilidades para poder geri-las. Em outras palavras: é preciso antecipar-se ao futuro.

Para o reitor da universidade, estar atualizado hoje significa ser capaz de pensar, ser original e criativo. Não basta encher a cabeça das pessoas de noções, mas que saibam processá-las. Para tanto é preciso desenvolver a independência de pensamento, o dom da crítica e uma vocação de originalidade.

No momento atual temos uma crise de competências. O trabalho de vários profissionais está sendo posto em cheque como de médicos ou de professores. Mas para reconhecer as habilidades dos outros é preciso ter suas próprias. Para enfrentar as dificuldades que se apresentam são necessárias habilidades. E isto se consegue através da educação que transmita informação, noções, mas, sobretudo ferramentas para que a própria pessoa possa descobrir os meios para desenvolver a criatividade, sem se descuidar de submeter crítica. (Franco Anelli: «Creatività, pensiero critico. Per l’università il futuro è ora, di ANNACHIARA SACCHI – Corriere dela Sera).

As sugestões do Reitor nos apontam algumas direções para o ensino do futuro da universidade católica:

- o uso de tecnologias digitais.

- a adoção de novas metodologias

- novos enfoques nas relações humanas incorporando a diversidade.

- uso de dados coletados

- trabalho com projetos

- ensino híbrido (blended learning) ou, on-off

- Complementariedade entre ensino presencial e à distância

- Gestão administrativa do ensino

Pessoalmente penso que é um ensino essencialmente tecnicista e mecanicista: onde está o lugar do humano objetivo primeiro da universidade? (só a maquina ensina e avalia). O que acontece na avaliação? Uma máquina alimentada por um programador mecânico exige de um humano respostas elaboradas por um programador. 

Tal proposta não rompe com a tradição humanista de uma universidade católica?

Terá abandonado ao adversário o baluarte do humanismo rendendo-se ao tecnicismo?

Postagens mais vistas