sábado, 17 de dezembro de 2016

Natal e esperança. José Mauricio de Carvalho



Vivemos dias de violência no interior das sociedades nacionais, sem tantas ameaças e guerras entre Estados, mas com crescente desrespeito à dignidade humana no interior dos Estados. Isso se mostra tanto em guerras abertas como se vê na Síria e Iraque, como nas disputas entre bandos rivais de traficantes e entre eles e a polícia no Brasil. Essa mesma violência se mostra em países da África como no conflito envolvendo a Nigéria, o Benin, Chade, Camarões e Níger e o grupo islâmico Boko Haram. E onde a violência não é aberta, como na corrupção política, também não se vive os tempos de paz da fraternidade universal do Sinai. E não custa lembrar nesses dias de explícita corrupção, que é uma forma de violência roubar o dinheiro da sociedade para custear o luxo suntuoso e ilegal.
E o que estrutura a fraternidade universal? Tivemos oportunidade de comentar no livro Ética (2010, p. 29-31). Uma das fontes da moral ocidental é a tradição judaico-cristã, ou melhor, os mandamentos da lei mosaica. O que há neste Código? Ele resume as regras morais que desde muitos séculos antes de Cristo servem de guia de conduta para o povo judeu. Os judeus as reconhecem como sagradas porque acreditam que foram entregues diretamente por Deus a Moisés. Elas se destinam a servir de orientação para uma vida plena, conforme o plano traçado pelo Criador. Os hebreus foram escravos no Egito e para orientar os tempos de liberdade que se seguiram à fuga liderada por Moisés através do deserto, Deus lhes ofereceu regras para bem viver em liberdade, assegurando também com elas uma disciplina interna. Os judeus acreditam que o cumprimento do Código será cobrado quando a pessoa se apresentar diante de Deus depois da passagem pela vida terrena. O Código mosaico orienta a relação do homem com Deus do seguinte modo: “Não terás outros deuses, não farás imagens divinas e nem as adorará”. As regras também disciplinam o convívio social: “Honrarás pai e mãe, não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não darás falso testemunho contra o próximo”. O cumprimento das normas, à parte do destino religioso do crente, era também cobrada na vida social.
Essas regras formam a base do convívio humano e fornecem o ideal de vida do homem ocidental, mesmo do não religioso. E assim é porque esse humanismo hebreu foi fundido e aprimorado nos evangelhos de Jesus e daí se tornaram a base da moral ocidental. E não é difícil perceber que nesses nossos dias onde se está distante da fraternidade universal, as regras de moralidade andam pouco cuidadas e a crença religiosa também tem pouco impacto na vida diária. Mesmo os socialistas de ontem, que beberam dessa fonte fraterna, perderam o essencial da mensagem porque não há socialismo possível sem uma mudança íntima e comprometimento pessoal com a justiça. O socialismo do progresso e da técnica que apenas confia no Estado termina nalguma forma de desastre.
Pois esse mundo de violência precisa da festa do natal, não de enfeitar ruas e comprar presentes, mas de fazer isso para celebrar o nascimento do enviado de Deus. O que temos para comemorar é a vinda do menino que veio ensinar que a missão dos homens é o serviço entendido como o tecido formador da fraternidade universal. Um trabalho feito na excelência do empenho pessoal, dedicado a tornar melhor a vida dos outros. Um trabalho onde o objetivo seja a construção de um mundo de paz e garantir o pão ganho honesta e corretamente.



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