sexta-feira, 9 de julho de 2021

Há um cristianismo do mal? José Mauricio de Carvalho

 


O Ministro Luís Barroso, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral mencionou em declaração recente que o ódio disseminado nas redes sociais, que veiculam o ódio, mentiras e teorias conspiratórias vem de grupos que se apresentam, não raramente, como cristãos. Essas pessoas invocam o nome do Filho de Deus para praguejar e desejar o mal a diferentes pessoas. Embora não se possa discordar do Ministro de que realmente há grupos que se dedicam a difundir a mentira e disseminar o ódio e que estejam inseridas em algumas igrejas, não creio que se possa falar de um cristianismo do mal. Isso se entendemos cristianismo como a síntese dos ensinamentos de Jesus de Nazaré, que a fé ocidental reconhece como sendo o Messias dos judeus. Se é isso há cristianismo e há outras ideologias e crenças.

Isso não significa que não exista aqueles que se aproveitam do nome de Jesus para explorar os irmãos, disseminar o ódio, divulgar mentiras e propagar o ódio e trazer divisão para o mundo. Pode-se de eles dizer, sem medo de errar, que não são discípulos de Jesus e não lhe honram o nome. Isso sabemos bem, pois como Ele já ensinara a seus apóstolos: “nem tudo o que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt. 7:21) Portanto, o cristianismo consiste numa prática de ensinamentos contidos no Primeiro Testamento e que Jesus atualizou para seus dias. Essa é a vontade de seu Pai. Quem não segue esses ensinamentos não é cristão e Jesus não os reconhecerá diante de seu Pai. Podemos dizer então que há um cristianismo, que é uma atualização dos ensinamentos do Primeiro Testamento, e há os que se fingem de cristãos para disseminar o ódio e a mentira. Aqueles que amam e respeitam o Mestre, assumem o cristianismo como referência de vida têm claro suas palavras: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” (João 8:32) Em outras palavras, quem segue Jesus, em nenhuma hipótese espalha mentiras, dissemina o ódio ou propaga a violência. Sobre quem não tem compromisso com a verdade o mestre ensinou a quem servem: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” (Jo. 8:44)

Quanto a paz no coração e ao afastamento de todo ódio o mestre foi claro sobre qual a vontade de Deus: “Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo.” (Jo. 14, 27). E não podia ser mais explícito sobre como se comportar não só contra quem pensa diferente, mas mesmo diante dos que nos perseguem: “Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem” (Mt. 5,44)

Jesus ensinou que o Reino de Deus não se encontra dividido: Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra” (Lucas 11,17). Pelo contrário, todos os que faziam o bem eram bem acolhidos pelo mestre. A divisão é obra de outro. Dividir é o modo de atuar do diabo, ele é o diabolus, aquele que divide, separa; aquele que não é a favor do que é unido e estável. Ele afastou-se do Reino de Deus, separando-se dos anjos e dos que fazem a vontade de Deus; a missão do diabo no mundo é justamente esta: lançar a divisão e a separação.

Portanto, não há um cristianismo do mal, mas o mal que se serve do cristianismo para difundir sua realidade. Um mal que se mostra no abandono às, mas inclinações, na incapacidade de escolher o bem em situações difíceis ou o pior de todos, o desejo de fazer o mal, de perpetrar a destruição, a defesa da tortura, da crueldade, a pregação ao homicídio, o desejo de recusar os valores do humanismo mantido pelo propósito imoral de recusar o que é valioso.


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