sexta-feira, 16 de setembro de 2016

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALDO MORO. Selvino Antonio Malfatti



Neste ano, 2016, ocorreu o centenário de nascimento de Aldo Moro, nascido em 23 de setembro de 1916 em Maglie e foi assassinado em 9 de maio de 1978 em Roma. Tinha formação jurídica, foi professor universitário e atuou na política. Seu último mandato ocorreu em 1978, antes de ser assassinado pelas Brigadas Vermelhas. Estas, de cunho marxista-leninista, tinham uma matriz essencialmente comunista.
Moro, como político deu continuidade à obra de Alcide de Gasperi no seio do partido político da Democracia Cristã. Ocupou por cinco vezes o cargo de Primeiro Ministro e encontrou a fórmula para transpor uma Itália do Pós-guerra para  a Modernidade, entendendo-se com o transpor de uma sociedade sustentada pelos princípios religiosos para uma sociedade laica.
Na organização política italiana encontrou a fórmula para o funcionamento do governo. 
O partido da Democracia Cristã conseguia mais ou menos 37% dos votos. O partido Comunista Italiano ficava em segundo lugar com aproximadamente 33% dos eleitores e o Partido Socialista Italiano em torno de 13% do eleitorado. Para conseguir maioria a Democracia Cristã unia-se ao Partido Socialista e com isso afastava do governo os comunistas. 
Em 1976 ocorreram eleições e a ordem manteve-se. Mas a Itália estava num período de transição entre o religioso e o laico. O primeiro passo havia já sido dado, a aprovação do divórcio. A Igreja, por sua vez, estava abandonando o apoio à Democracia Cristã. O terror crescia dia a dia, com atentados provocados pelas Brigadas Vermelhas de vários matizes políticos, mas predominantemente comunistas. Foi nesse contexto que Aldo Moro é eleito Primeiro Ministro.

 Para as eleições políticas de deputados e senadores, na Itália,  de 20 de junho de 1976, o resultado foi o seguinte-
- Democracia Cristã: Deputados 38,7% e Senadores 38,9%.
- Partido Comunista Italiano: Deputados 34,4% e Senadores 33,8%.
- Partido Socialista Italiano: Deputados 9,6% e Senadores 10,2%.
- Movimento Social Italiano: Deputados 6,1 % e Senadores 6,6%.

Com este resultado, o sistema político italiano está atingindo seu ponto máximo de bipolarização, e com isso a Democracia Cristã, para formar o governo, não consegue aliados para formar maioria. O Partido Socialista, além de se tornar um grande perdedor, vive um momento de crise interna. Com os demais pequenos partidos, tradicionais aliados, sozinhos não conseguem dar-lhe maioria. A única saída seria aliar-se ao seu adversário, a própria razão de seu existir, o Partido Comunista. A única saída seria chamar todos os partidos ao governo, formando um frente, batizada com a denominação de Solidariedade Nacional. Mas para tanto era necessário encontrar um objetivo comum a todos os partidos ou ao menos para quase todos. Ora, a segunda razão de ser da Democracia Cristã era o combate ao Fascismo, razão esta comum aos demais partidos, com exceção dos fascistas. Logo, sobre a ideia de uma coalizão antifascista tornou viável um governo após o resultado eleitoral. Mas não seja de imediato. Os dois maiores polos, Democracia Cristã e Partido Comunista, necessitavam digerir a estratégia eleitoral de seu adversário. A Democracia Cristã fora acusada de corrupção pelos comunistas, e estes apontados como perigo número Um pelos democratas cristãos. Disso nasce um governo monocolor liderado por Giulio Andreotti, denominado de “governo della nonsfiducia” ( não desconfiança). Isto somente era possível porque os comunistas se abstinham de votar. Pela primeira vez, depois da Segunda Guerra, os comunistas estão na área do governo, não diretamente, mas no plano da atuação parlamentar. Era o fim da “conventio ad excludendum”. E com ela nascia a “terceira fase” aquela da alternância sem excluídos.
O apelo imediato deste governo era enfrentar o gravíssimo problema do terrorismo que assolava o país. Em toda parte, mas principalmente no sul, atentados, sequestros e assassinatos tornavam-se comuns desestabilizando as instituições e desacreditando o governo. O país estava à beira da ingovernabilidade.
Dois anos após, 1978, os comunistas resolvem dar o ultimatum à Democracia Cristã: ou a Democracia Cristã permite ao Partido Comunista entrar diretamente no governo, executivo, ou retira-se para a oposição. Mas devido ao sequestro de Aldo Moro, Andreotti consegue formar mais um governo, e o Partido Comunista retira-se para a oposição.
No entanto, o acontecimento de maior repercussão, sem citar as consequências para o partido, foi o sequestro e morte pelas Brigadas Vermelhas de Aldo Moro, Presidente da Democracia Cristã. As Brigadas Vermelhas eram um dos vários grupos ativos da extrema esquerda. Seu objetivo era atrair as massas acenando-lhes com a mudança das estruturas sociais mediante a revolução. Na verdade era apenas uma concepção simplória da realidade e não receberam o apoio popular esperado. Inclusive mereceram a condenação do Partido Comunista. Este ato terrorista pode ser visto como o apogeu deste movimento na Itália.
Há tempo que esta organização terrorista planejava raptar um dirigente democrata cristão de renome não só nacional, mas internacional. Já haviam sido cogitados Amintore Fanfani e Giulio Andreotti. A escolha recaiu sobre Aldo Moro porque havia sido o teorizador da “terceira fase”, isto é, post conventio ad excludendum, pela qual o Partido Comunista poderia ser parceiro no governo, era presidente do partido, e o protagonista número Um da Solidariedade Nacional. O movimento de contestação nacional, iniciado em 1968, colocava em cheque as próprias instituições políticas através da exigência por parte dos participantes de os partidos políticos assumirem suas bandeiras.  Com o projeto de Solidariedade Nacional o movimento contestatório, do qual as Brigadas Vermelhas faziam parte, sentiu-se frustrado, pois foram reafirmados os valores da democracia representativa e suas instituições. Pela ação de Moro os conteúdos dos movimentos contestatórios eram canalizados e absorvidos e as tensões sociais freadas em seus métodos revolucionários.
Enquanto Moro foi mantido na “ prigione del popolo” as Brigadas Vermelhas procuraram tirar o maior partido possível do refém da Democracia Cristã. Primeiramente instalaram um processo paralelo ao que estava ocorrendo em Turim contra membros das Brigadas Vermelhas. Através de Moro, toda a História política da Democracia Cristã era investigada. Numerosos cartas saíam da “Prisão do Povo” incriminando membros do partido como Giulio Andreotti, Benigno Zaccagnini ,  Paolo Emilio Taviani e outros.  
Tentaram também provocar reações de violência por parte do Estado, com a finalidade de desacreditar as instituições democráticas. Houve, até propostas de negociação com o poder com o objetivo de forçar o Estado a reconhecer a existência de um poder paralelo ao do Estado. As intervenções internacionais, os esforços da Igreja e mesmo o apelo da família não conseguiram fazer o governo tomar qualquer decisão. O Partido Socialista, parceiro de governo, na pessoa de seu líder empurrou a decisão para a Democracia Cristã. Mas nem mesmo o partido quis abertamente negociar com os terroristas e em 9 de maio de 1978 Aldo Moro foi morto.

Abaixo um trecho inédito do livro: ALDO MORO. LO STADISTA E IL SUO DRAMMA, de Guido Formigoni, a ser publicado neste ano pela Editora Il Mulino.   O texto é do embaixador norte-americano na Itália em 1974, John Volpe, ao secretário de Estado americano Henry Kissinger:



Dal nostro punto di vista, dobbiamo trattare con un primo ministro che è diventato negli ultimi cinque anni il simbolo e l’immagine stessa della sinistra democratica cristiana. Egli è l’unico membro dell’ala sinistra della Dc con una statura sufficiente da godere del rispetto di tutti i partiti democratici come uno statista che può essere scelto per la leadership del governo. Io penso che le sue credenziali filo-occidentali sono valide ancora oggi come sempre, ma il Moro della politica interna è in qualche modo alla sinistra del Moro statista internazionale. Egli è spinto a sinistra dalla sua stessa natura piuttosto fatalistica e dalla sua lungamente coltivata antipatia per Fanfani, che ora sta ben alla destra di Moro. Con Fanfani pronto a sostituirlo, Moro farà ogni sforzo per evitare problemi o scontri con i socialisti. Una rottura definitiva con i socialisti significherebbe la fine della formula di centro-sinistra con cui Moro è storicamente associato, e che egli ha definito «irreversibile».
Ci si può attendere che egli paghi il prezzo di un accordo o di una deriva, come necessari per tenere assieme il suo governo quanto a lungo sarà possibile. Io inclino a pensare che il quarto governo Moro non durerà molto. Fazioni importanti della Dc e addirittura esponenti del governo predicono solo pochi mesi, e in effetti i sindacati e i socialisti sono già irrequieti e insoddisfatti. Sarei però negligente a non ricordare, comunque, che quando Moro ha buone ragioni per star saldo, come spiegato sopra, la sua ingegnosità e tenacia sono fenomenali. Non è per coincidenza che Moro ha guidato il governo italiano per un periodo di tempo più lungo di qualsiasi primo ministro dopo De Gasperi.


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