sexta-feira, 11 de março de 2022

Artur do Val na terra da cegueira. José Mauricio de Carvalho

 



As observações desumanas e maldosas do deputado Artur do Val sobre como aproveitar-se da fragilidade das mulheres ucranianas em fuga desesperada da guerra causaram indignação em alguns setores da nossa sociedade. O deputado é figura pública e conhecido da internet. Ostenta muitas fotos ao lado de Sergio Moro, candidato à Presidência por seu partido (Podemos), que agora quer se descolar dele e também com Bolsonaro. Com esse último se aproxima pela adesão a ideias que ele deixou escapar com naturalidade e que depois quis consertar. Não é possível, o que ele pensa é claro. Ou alguém considera que se pensasse o oposto, iria se pronunciar dessa forma nos vídeos que lotaram as redes sociais? Sua justificativa é que é jovem e falava para seus amigos. Em outras palavras, vocês têm um público enorme para converter em objeto sexual.

No ambiente de cegueira generalizada em que vivemos não é difícil mostrar como essa mentalidade torpe se espalhou. Ela começou desvitalizando o amor em suas formas legítimas, incluindo as manifestações de humanidade e respeito aos pobres, carentes e necessitados. Toda atenção a esses desvalidos encontra imediatamente a caracterização de comunista, ou coisa de esquerda, cuja experiência histórica como sistema político totalitário foi inaceitável. Porém humanismo não é comunismo, assim como as limitadas ideias históricas e econômicas de Marx, que apesar dos muitos erros próprios de se tempo, também não foram responsáveis pelas as atrocidades cometidas por ditadores assassinos. A brutalidade, desumanidade, violência são próprias de governos totalitários como o foi também o nazi fascismo inimigo do comunismo. Inimigos políticos, mas irmãos siameses nas práticas desumanas que utilizaram.

O humanismo é a essência da ética ocidental, é o núcleo de sustentação do cristianismo. Mas o que fez com o humanismo e o cristianismo o nazi fascismo contemporâneo? Com o primeiro baniu da cena cultural, junto com a Filosofia, a Arte e tudo aquilo que preservava o valor da pessoa humana e a colocava acima das coisas. Tudo foi reduzido a inutilidades. Deixaram ao homem a condição de coisa. O deputado Artur do Val mostrou só uma face disso. Quanto ao cristianismo foi reduzido a teses e práticas tão distantes dos ensinamentos do Mestre de Nazaré como são os pontos extremos do universo. Não há cristianismo compatível com violência, nem arminhas e muito menos com igrejas cujo propósito fundamental é o enriquecimento de seus donos. Não é que a riqueza não é um valor, apenas não é o valor principal nem o objetivo da vida cristã.

A homofobia, o machismo e outras manifestações semelhantes são difundidas livremente em nossos dias, solapando por dentro o humanismo e o respeito ao diferente. Por que a indignação contra o deputado que apenas mostrou como se torna alguém objeto na prática, reduzindo a frágil mulher refugiada de guerra em objeto de exploração sexual?

O amor à terra onde se nasceu e vive é próprio do homem, não é mal nem contrário ao humanismo. O mesmo não se pode dizer do nacionalismo cego e irracional que as versões contemporâneas das várias formas de nazi fascismo e totalitarismo que se espalharam pelo mundo. E há mais. A agressão ao regime democrático em nome de um poder absoluto e violento, o ataque à imprensa livre, o racismo, o nacionalismo cego, o desvirtuamento do cristianismo, tudo isso reapareceu em nossos dias e é parte da destruição do humanismo e seus valores. As palavras de Artur do Val são uma pequena consequência dessa mentalidade.


 

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