sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DIA DE FINADOS E A CRENÇA NA VIDA - Selvino Antonio Malfatti




No próximo dia 2 de novembro estaremos celebrando o Dia de Finados. Este dia enovlve três questões fundamentais 1º Os que acreditam numa vida após a morte. 2º Os que acreditam numa vida após a morte e ressurreição dos corpos. 3º Os que não acreditam numa vida após a morte.
Cada religião, ou mesmo cultura, dá ênfase a algum desses aspectos, na lembrança dos falecidos. Desse modo, o Dia de Finados passa a ser uma esperança de vida de alguns e um fim para outros.
No judaísmo a discussão centrava-se sobre a ressurreição. Havia duas correntes: a dos saduceus que não acreditavam na vida futura e a dos fariseus que criam e tinham certeza sobre a ressurreição dos mortos. Ainda hoje, quem contempla a cidade de Jerusalém, pode observar a quantidade de túmulos ao redor dela, cujos mortos aguardam a ressurreição.
O catolicismo, como continuador da fé judaica, optou pela ala dos fariseus seguindo os ensinamentos de seu mestre. No século V, surge a prática de dedicar um dia no ano aos mortos e depois no século X, foi estabelecido oficialmente o Dia de Finados.
O Islamismo não crê na ressurreição dos mortos, mas numa vida futura, sim.
Entre as religiões menores, umas encontram sentido, outras não. O espiritismo, por exemplo, entende que é apenas crendice o Dia de Finados. O corpo é considerado um santuário onde alma morou mas que depois de cumprir sua função é colocado num depósito, o cemitério.
Dentre os pagãos, trazemos o enfoque dado pelos antigos atenienses, um de nossos ancestrais culturais. Nada melhor do que a descrição feita por um adversário de Atenas, o espartano Tucídides. Percebe-se que o destaque não é morte ou a vida após a morte, mas a vida dos cidadãos atenienses
Conforme este autor, os atenienses costumavam celebrar, às custas do erário público, os ritos fúnebres das primeiras vítimas da guerra. Os ossos ficavam expostos em lugar público durante três dias e o povo trazia oferendas para seus parentes. No último dia eram trazidos ataúdes, um para cada tribo. Os ossos eram postos no ataúde de sua tribo. Havia ainda um ataúde vazio destinado aos soldados desaparecidos. A esta cerimônia todos podiam comparecer: cidadãos, estrangeiros e as mulheres das famílias dos defuntos. No mausoléu do subúrbio mais belo da cidade eram enterrados os mortos da guerra. Após o sepultamento, um cidadão, escolhido pelos seus pares, ficava encarregado de discorrer sobre os mortos. Numa dessas celebrações falou Péricles, filho de Xântipos.
Diz ele que o ato supremo de um cidadão consiste achar melhor defender-se e morrer que ceder e salvar-se. Nesse instante, o cidadão joga na ação o que ele tem de mais precioso em si que é sua vida. Em todo o discurso, no entanto, Péricles enfatiza que a vida, por mais belo que seja o dom, sem a honra e liberdade de nada vale. O início de seu elogio principia mostrando que os atenienses receberam aquele império dos antepassados como homens livres e que por isso agora muitos estão dando sua mais preciosa dádiva, a própria vida. Péricles nunca deixa de associar vida e liberdade. Para tanto, conforme ele, esta vida livre, organiza-se politicamente sob um regime democrático, isto é, de igualdade entre os cidadãos Perante a lei todos são iguais e a ascensão aos postos de mando não se dá por pertencer a esta ou àquela classe, mas pelo mérito. Por outro lado, a pobreza não é motivo para alguém não prestar serviços a sua Cidade. Todos os cidadãos participam do governo da cidade como homens públicos, não importando sua condição privada. Vivemos, conforme diz Péricles aos atenienses, em liberdade e igualdade. Além disso, os atenienses procuram melhorar as propriedades para que elas dêem mais conforto e alegria. A riqueza não é usada para alguns se vangloriarem, mas como oportunidade de agir e melhorar. A pobreza não é uma desonra, mas não tentar evitá-la é que desonra o cidadão.
Com certeza, o Discurso Fúnebre de Péricles, narrado pelo historiador Tucídedes é um dos mais belos e eloqüentes testemunhos de fé desta vida, porque para os gregos, a vida após a morte não era nada prazerosa.

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