sexta-feira, 17 de maio de 2013

O cuidado com o espaço urbano. José Maurício de Carvalho.





As cidades são povoações de importância e com maior amplitude que os pequenos aglomerados humanos. Como organização do espaço edificado pelo homem contrapõe-se, portanto, à vida rural e das pequenas povoações. A construção de uma cidade exige, pela quantidade das pessoas reunidas no espaço concentrado, cuidados que normalmente não são necessários nos baixos adensamentos demográficos.  
Na medida em que se localizam num dado espaço geográfico as cidades correspondem a uma forma de diálogo com o meio natural. O que estamos experimentando com as grandes aglomerações é que é necessário ter cuidado com o ambiente. O motivo é que quanto melhor for a relação com ele, menos dificuldades terão os grupos humanos porque a natureza não se pauta pela moralidade e devolve em forma de desastre todos os desaforos que os homens lhe fazem. Assim, o cuidado com as áreas permeáveis, a manutenção dos espaços verdes, o tratamento dos esgotos antes lançá-los à natureza é o que se espera do poder público e de cidadãos conscientes de que a sobrevivência humana depende destes e de outros cuidados.
Além do diálogo com a natureza, as cidades revelam a personalidade e o nível cultural de seus habitantes, expresso no cuidado com a coisa pública, na limpeza do espaço coletivo, na qualidade das edificações e obras públicas, na manutenção dos passeios, na garantia de acessibilidade, na preservação das características que identificam as diferentes gerações. Assim, quando visitamos uma cidade organizada e grande capital como Paris, nós podemos identificar áreas de ocupação de diferentes séculos. Podemos notar como a cidade foi crescendo com quarteirões dos séculos XV e XVI, XVII e XVIII e assim sucessivamente. Mesmo em outras capitais européias onde os séculos não estão tão bem definidos, encontra-se bem estabelecida a área de preservação que é antiga e as áreas de ocupação recente em harmoniosa convivência. Nas áreas antigas e mais novas o tipo de edificação que se executa é diferente, mas não importa se antiga ou nova, nas cidades organizadas, nenhuma construção é executada sem projeto aprovado, cuidados ambientais e qualidade arquitetônica do projeto.
Nas cidades históricas a atenção com as intervenções no espaço construído pede ainda maior cuidado que nas demais, tanto para assegurar que as novas edificações representem o próprio tempo e a concepção urbana contemporânea, quanto para que as intervenções em áreas antigas sejam fundamentalmente no sentido de preservar o que foi feito, reconstruir o que se puder e, em último caso, fazer edificações que não choquem com o antigo, antes esteja em harmonia com ele. O patrimônio edificado deve ser o ponto de partida para se pensar o crescimento das cidades e a ocupação contemporânea. Este patrimônio construído interfere no modo de viver das pessoas e por isto precisa ser olhado com atenção.
No caso de cidades históricas, num tempo em que a preservação delas representa mais que a memória do povo, o que por si só já é importantíssimo, somos chamados a intensificar as ações preservacionistas. Cidades históricas bem cuidadas, limpas, com espaços públicos preservados, representam alternativa econômica com importância crescente no desenvolvimento dos povos.  O turismo é um setor importantíssimo da economia que nosso país frequentemente desconsidera e o mal é maior quanto mais significativo é o patrimônio histórico e arquitetônico desprezado.
Este é mais um desafio da cidadania no século XXI, cuidar do espaço público como um lugar de todos nós e fazer a cidade, que é nossa segunda casa, um lugar agradável de viver, um registro das gerações que nos antecederam e uma alternativa de renda que cresce com o turismo e aponta para um futuro melhor para os que chegam.

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