sexta-feira, 31 de maio de 2013

GERAÇÃO CANGURU E A NOVA FAMÍLIA. Selvino Antonio Malfatti.



                      Fonte: Ks95808 FOTO SEARCH COM.BR

Uma geração de jovens, a partir de 1990, tende a estender a permanência na casa dos pais por mais tempo e, alguns, até indefinidamente mesmo que já tenha alcançado a autonomia econômica. Se verificarmos as estatísticas pode-se constatar este fenômeno, inclusive crescendo década após década. No Brasil, por exemplo, na década de noventa, jovens com até 25 anos, havia 17% residindo com os pais. Em 2000, subiu para 21% e na década seguinte pulou para 25% a estatística. Desse modo, parece que está se invertendo o costume ou necessidade de os pais morarem com um filho depois de envelhecer. Agora são os filhos que envelhecem na casa paterna ou materna.
Alguns fatores influíram para que isso fosse possível e efetivamente acontecesse. Apontaria: o diálogo entre pais e filhos, a maior liberdade para os filhos, a maior compreensão dos pais. Nas gerações anteriores os pais, mormente o pai, era o que decidia. Cabia aos filhos, e mesmo às vezes a própria esposa, acatar as determinações. O espaço para a liberdade era muito restrito, aos filhos restava a obediência. Dizia-se quer se os filhos quisessem decidir deveriam formar seu próprio lar. Havia situações que os próprios pais incentivavam a saída.
Certamente o que aconteceu foi um aplainamento do modus vivendi dentro da família. A nova geração não é igual a dos pais. Tem gostos, expectativas e maneiras de pensar diferentes. Além disso, há uma gama de diversidade entre os próprios filhos. Uns gostam de festas e as querem promover dentro de casa, outros de convidar namorados e lá permanecerem e há os que gostam de ficar no seu canto e não serem incomodados. Todas estas arestas deviam e foram removidas. Os pais também querem sua privacidade, o espaço para sua liberdade e a satisfação de suas aspirações Há, com o se percebe, duas realidades convivendo: a da geração dos pais e a dos filhos. Houve uma readaptação entre as duas, operada pela influência mútua que possibilitou a convivência. Ambos cederam abrindo o espaço para a aproximação. E nessa mútua influência ambos abdicaram de vantagens e ambos obtiveram ganhos.
Os filhos perderam parte de sua autonomia. Se estivessem na sua própria casa teriam mais opções, como horários, espaços físico-sociológicos, individuais. No entanto o principal ganho é o econômico, pois não pagam aluguel e a maioria deles nem a alimentação. Este dinheiro liberado pode ser aplicado em aperfeiçoamento profissional, lazer e mesmo investimentos patrimoniais. Os pais também tiveram que abrir mão de sua privacidade, horários, espaço físico e psicológico. Mas, em compensação, agregaram companhias agradáveis e até mesmo eventuais ajudas nas tarefas caseiras. Sentem-se menos sós, mais seguros e tranqüilos numa eventualidade de doença. Podem deixar a casa aos cuidados dos filhos e viajarem, fazerem refeições fora, se divertirem. E se vierem os netos então será uma bênção multiplicada.

As conseqüências desta tendência ainda não podem ser avaliadas com segurança, mesmo porque pode haver retrocesso ou tomar outros rumos. Parece certo, porém, que a família nuclear – pai, mãe e filhos – está sofrendo uma mutação. Se ocorrer a família extensa é outra questão. Parece que a possibilidade de um patriarcado ou matriarcado está remota, pois exigiria uma gerontocracia, isto é, subordinação ao mais velho de toda gama parental. O que se delineia é um convívio mais harmônico entre os parentes próximos e mesmo os do mesmo sangue ou sobrenome. Haja vista as promoções dos “encontros” de famílias que estão cada vez mais numerosos.

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